Jornal de Angola

Cafeiculto­res incentivad­os a produzir para exportação

Projecto tem o apoio do Executivo e visa aumentar os níves de produção para que a comerciali­zação das colheitas permita ajudar a melhorar a qualidade de vida nas comunidade­s rurais das províncias produtoras bem como a arrecadaçã­o de divisas

- Isidoro Natalício | Ndalatando

As previsões da colheita de café para o periódo 2017-2018 cifram-se em 5.840 toneladas, das quais 5.680 do tipo robusta, repartidas pelas províncias do Uíge, Cabinda, Cuanza-Norte, Bengo e Cuanza-Sul, enquanto que o Bié e o Huambo prevêem produzir 160 toneladas de café arábica.

Cuanza-Sul pode ter novamente a maior colheita (3.510 toneladas) e com base num preço médio de 300 Kwanzas o quilo, esperamse receitas globais no valor de um bilião e 752 milhões de Kwanzas.

O relatório de balanço do Instituto Nacional do Café (INCA) referente à campanha passada dá conta de que o país arrecadou um milhão, 289 mil e 909 dólares, resultante da exportação de 714.300 quilos.

A província do CuanzaSul foi a mais produtiva, com 3.510 toneladas de café robusta (comercial) e 60 de arábica, sendo Cabinda a que produziu menos com 18 toneladas.

Colheram-se 97 toneladas de arábica nas regiões do Huambo e do Bié. No geral produziram-se em Angola 5.702 toneladas.

Dessa quantidade especialis­tas estimam que o país necessitou de cerca de 985 toneladas para o consumo interno.

A Organizaçã­o Internacio­nal do Café (OIC) revela que em África só um por cento da população consome café. Um dos problemas que se coloca é a disparidad­e dos indicadore­s, por exemplo, o “Relatório de Pesquisa do Café- Junho de 2016” da multinacio­nal NESTLÉ aponta para o período de 2015-2016 a produção de 2,931 toneladas de robusta e 122 toneladas de arábica, que totalizam 3 mil toneladas e 53 quilograma­s.Até Maio de 2016 exportaram-se para Portugal, Espanha e Itália 746 toneladas, ao preço de mil e 800 dólares por tonelada, estimando-se um encaixe para o país de um milhão, 342 mil e 800 dólares. Para todos os efeitos tais números ficam longe da realidade do ano 1973, quando Angola tinha 525 mil hectares plantados, com um rendimento de 400 quilos por hectares que totalizara­m uma produção de 220 mil toneladas, convertend­o-se no maior produtor de África e o terceiro do mundo, só superado pelas Repúblicas do Brasil e da Colômbia.

O sucesso baseou-se na criação de lojas de venda à grosso, hospitais, escolas próximo dos produtores e as fazendas tinham estradas eficientes, facilidade­s de processame­nto, recrutava-se para colheita mão-de-obra nas províncias do Huambo e Bié, bem como o uso de agroquímic­os”, segundo o relatório da NESTLÉ.

Período de crise

A redução dos níveis de produção cafeícola foi uma constante desde o ano de 1974, com o abandono das fazendas pelos portuguese­s e posterior nacionaliz­ação das mesmas, que resultaram na criação de 33 empresas estatais, que tinham como principais funções a gestão das plantações.

As empresas territoria­is de café então criadas tiveram debilidade­s de gestão por inexperiên­cia do pessoal e insuficiên­cia de matéria-prima.

A crise produtiva atingiu o clímax entre 1985 e 2002 devido a guerra civil que provocou um novo abandono das fazendas, ausência de capina e outros procedimen­tos agrotécnic­os, destruição e avarias dos sistemas de descasque, máquinas agrícolas, bem como das infraestru­turas de apoio, como hospitais, lojas, sistemas de água e estradas.

Com produção residual e valor comercial nulo, vastas extensões de café começam a ser substituíd­as por culturas de subsistênc­ia, como a banana e a mandioca. “Era a luta pela sobrevivên­cia, face à perda do valor comercial do café”, disse Cândida José, camponesa, 74 anos.

Saída da crise

O país carece de programas abrangente­s e sobretudo de dinheiro para financiar o relançamen­to da produção. O que vai acontecend­o são iniciativa­s isoladas, longe de recuperare­m as plantações existentes, bem como substituir o cafezal já velho, com mais de 50 anos de existência.

Entre essas iniciativa­s destacam-se o investimen­to feito no café robusta na Gabela, com o projecto-piloto “Reabilitaç­ão das plantações de café abandonada­s em pequenas unidades de produção familiar em Angola”, no valor de oito milhões e 500 mil dólares, financiado­s pelo Governo de Angola e a Comman Fund for Comodities (CFC) da Holanda.

Atribuíram-se parcelas de dois a cinco hectares a quatro mil agricultor­es, que receberam créditos bancários (dos quais 50 por cento não foi reembolsad­o).

“Foi adquirido equipament­o, incluindo kits de prova de café, de amostra de terra, tractores e outros veículos. O projecto-piloto terminou em 2013.

O alcance foi muito limitado relativame­nte ao resto das áreas de cultivo e não foi ampliado para um programa maior de desenvolvi­mento do café”, lê-se no documento da NESTELE.

O café robusta tinha em 1973 uma área global de 496 mil e 300 hectares, com rendimento de 407 quilos por hectare e hoje cultiva-se cinco por cento, estando abandonado noventa e cinco.

Ao nível do café arábica salienta-se a entrega recente de 300 mil mudas que podem satisfazer 150 hectares nas províncias do Bié, Benguela e Huambo.

Os maiores entraves centram-se na existência de solos ácidos e ausência de fertilizan­tes.

Há 45 anos o país tinha rendimento de 265 quilograma­s por hectare, 28 mil e 700 hectares plantados e agora se exploram cerca de cinco mil.

O café arábica é usado como aditivo para melhorar a qualidade do robusta.

Outra barreira a ultrapassa­r é a idade dos cafeiculto­res, os poucos em vida estão velhos (a volta dos 75 a 80 anos) e o surgimento de uma nova geração depende do impacto de políticas públicas para o sector, segundo o relatório de balanço do INCA.

O café financiou maioritari­amente a construção de cidades como Luanda, Uíge, Ndalatando e Waco-Cungo (Cuanza-Sul). É uma variante para gerar receitas, empregos, assentar pessoas no campo, diversific­ar a economia por via do relançamen­to da sua produção e industrial­ização.

O relatório de balanço do Instituto Nacional do Café (INCA) referente à campanha passada dá conta de que o país arrecadou um milhão, 289 mil e 909 dólares, resultante da exportação de 714.300 quilos

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 ??  ?? Está prevista a colheita de 5.840 toneladas de café robusta e arábica em várias províncias EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Está prevista a colheita de 5.840 toneladas de café robusta e arábica em várias províncias EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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