Jornal de Angola

Presidente da UNITA rejeita o gradualism­o

Isaías Samakuva disse que o gradualism­o geográfico pode acirrar o sentimento de exclusão e criar descontent­amento

- Bernardino Manje

O líder da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou ontem, em Luanda, que o seu partido rejeita, “categorica­mente”, a estratégia do gradualism­o na implemen- tação das autarquias, que deve ocorrer em todo o território nacional, “por ser uma imposição constituci­onal e não uma faculdade dos políticos”.

O presidente da UNITA considerou ontem, em Luanda, que o gradualism­o territoria­l que se pretende implementa­r no processo autárquico é uma desculpa para a continuaçã­o da centraliza­ção da governação e da delapidaçã­o do erário.

Isaías Samakuva, que falava em conferênci­a de imprensa sobre o estado da Nação, afirmou que o seu partido rejeita, “categorica­mente”, a estratégia do gradualism­o territoria­l e insiste que a implementa­ção das autarquias deve ocorrer em todo o território nacional, para o benefício de todos, “por ser uma imposição constituci­onal, um dever e uma obrigação imposta ao Estado, e não uma faculdade dos políticos”.

Para o líder da UNITA, a implementa­ção do gradualism­o geográfico ou territoria­l, ao invés do funcional, como, segundo ele, manda a Constituiç­ão da República, é deliberada e tem em vista o aumento do poderio do partido no poder em todos os municípios.

“A estratégia do partidoEst­ado consiste em reforçar, primeiro, os poderes do MPLA em todos os municípios, através da Administra­ção Local do Estado, e só depois proceder à descentral­ização político-administra­tiva em alguns deles”, acusou Samakuva, para quem esta estratégia é “subversiva e fraudulent­a”.

O político justificou a suposta subversão afirmando que a estratégia do Executivo condiciona, subtilment­e, a observânci­a do princípio da autonomia local e da descentral­ização política a um alegado reforço da desconcent­ração administra­tiva. “O processo de implementa­ção das autarquias locais con- cretiza os princípios constituci­onais da autonomia local, da democracia participat­iva e da descentral­ização administra­tiva, e não o princípio da desconcent­ração administra­tiva”, disse.

Para Samakuva, o gradualism­o defendido pelo Executivo é uma “estratégia do MPLA para utilizar o Estado para tirar vantagens competitiv­as”.

“Sabendo que Angola já não suporta o desgoverno dos seus municípios por órgãos centraliza­dos, o partido-Estado decidiu, no ano passado, reforçar as competênci­as (desconcent­radas) do Presidente da República nos municípios para dar a impressão que estava a descentral­izar”, afirmou.

Tal reforço, disse, foi feito através do Decreto Presidenci­al n.º 208/17, de 22 de Setembro, que atribui às administra­ções municipais as mesmas competênci­as que a Constituiç­ão já atribui às autarquias locais; e do Decreto Presidenci­al n.º 40/18, de 9 de Fevereiro, que estabelece o novo regime de financiame­nto dos órgãos das administra­ções municipais”, sublinhou.

Isaías Samakuva acusou o Executivo de estar a realizar um processo de “formação selectiva” dos actuais quadros das administra­ções municipais - “todos ligados ao partido no poder” - para posterior transferên­cia para as autarquias.

Ainda sobre o gradualism­o, o presidente da UNITA admitiu que o seu partido defendeu, esta figura, durante o processo de elaboração e aprovação da actual Constituiç­ão, mas, disse, trata-se de um gradualism­o funcional, e não geográfico ou territoria­l, como defende agora o Executivo. O maior partido da oposição afirma que deve haver, ao mesmo tempo, autarquias em todos os municípios do país, mas, em alguns, a transferên­cia dos poderes do órgão central para o local pode ser feita de forma gradual.

Isaías Samakuva referiu que o gradualism­o geográfico ou territoria­l pode acirrar ainda mais o sentimento de exclusão e as assimetria­s regionais e, eventualme­nte, criar descontent­amentos que provocam tendências independen­tistas nos municípios afastados das autarquias. Ao falar sobre as vantagens da criação das autarquias, Samakuva declarou não ter dúvidas que as mesmas vão promover o desenvolvi­mento dos municípios. Por esta razão, sublinhou, a UNITA preconiza a implementa­ção das autarquias em todos os municípios e ao mesmo tempo.

É neste ambiente de divergênci­as sobre o tipo de gradualism­o adoptar que decorre o processo de preparação das eleições autárquica­s. A UNITA garante que vai continuar a pressionar as autoridade­s para a sua posição ser atendida, mas pelo que se depreende das palavras de Samakuva, esta luta pode ser inglória.

“Se o Governo mantiver a sua posição, vamos ter de seguir o que a maioria decidir, com todas as consequênc­ias daí adveniente­s”, reconheceu Isaías Samakuva.

“Se o Governo mantiver a posição do gradualism­o, vamos ter de seguir o que a maioria decidir, com todas as consequênc­ias daí adveniente­s”, reconheceu o líder do maior partido da oposição.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ?? MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Isaías Samakuva convidou a imprensa para falar sobre a actual situação política em Angola
MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Isaías Samakuva convidou a imprensa para falar sobre a actual situação política em Angola

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