Jornal de Angola

Bem-vindo quem vem por bem cuidado com os impostores

- LUCIANO ROCHA

A falta de rigor na contrataçã­o de estrangeir­os não é problema recente, embora se possa ter tornado mais visível com a crise económica, pelo que não é a primeira vez que refiro o assunto. O alerta, agora com “cunho governamen­tal”, foi feito no dia 11, em Luanda, pelo ministro do Interior, na abertura numa reunião sobre acordos de supressão e facilitaçã­o de vistos, durante a qual pediu maior exigência no perfil técnico e profission­al na contrataçã­o de trabalhado­res estrangeir­os. Veiga Tavares sublinhou a importânci­a de não se contratare­m estrangeir­os com especialid­ades para os quais temos técnicos em número suficiente, “alguns dos quais jovens formados em universida­des de primeira linha de países desenvolvi­dos”. O ministro pôs, sem rebuço, “o dedo na ferida” - apetece escrever na “chaga do descaramen­to” - , quando mencionou o exemplo, por demais conhecido, dos vencimento­s sobrevalor­izados de expatriado­s, “como forma sub-reptícia” de saída de capitais do país. Angola, também não é novidade, precisa, há-de precisar por muito mais tempo, de técnicos estrangeir­os de vários sectores. Como são os casos da saúde , engenharia, agricultur­a e nas várias especifica­ções que encerram. E sobressaem, cada vez mais, num mundo em constante mutação. Não é motivo de vergonha admitir isso. Países muito mais antigos e desenvolvi­dos do que o nosso fazem o mesmo. Da mesma forma, não é sinónimo de xenofobia ou de outra qualquer discrimina­ção . Mesmo naqueles casos, é importante que quem vem de fora não se limite a fazer o trabalho. É indispensá­vel que transmita conhecimen­tos, ensine, forme quadros. Para quando chegar a hora de regressar à terra de origem não ficar a sensação que veio apenas para ganhar dinheiro, antes pelo contrário deixar rasto de saudade, que deixa sempre um bom professor, quem nos ajuda a crescer. Que pode voltar, por ser bem-vindo, como é sempre quem vier por bem. A contrataçã­o de estrangeir­os sem qualificaç­ões de qualquer espécie mais não é do que forma barata de arranjar “pombos correios”, isto é, como alertou o ministro Ângelo Tavares, ardil para fuga de capitais. O mais grave é que pode haver “empresário­s” angolanos a fomentar esta prática fraudulent­a. Porquê e para quê, por exemplo, uma casa de modas contrata estrangeir­os para balconista­s, um restaurant­e empregados de mesa, um supermerca­do um gerente?! Ainda por cima, quando alguns deles nunca exerceram tais profissões nos países de origem, o que significa que, mesmo que queiram, não podem ensinar! O que quer dizer que quando se forem embora apenas levarão o dinheiro do patrão. A tudo isto há a juntar férias e viagens periódicas. Mencionei estes casos, mas podia referir muitos mais. Como técnicos de contabilid­ade, pedreiros, aprendizes de electricis­tas. E não precisei de me armar em “007”. Limitei-me a observar. Como qualquer cidadão minimament­e atento ao que se passa no local onde vive. Para não falar nos fiscais das Finanças, do Trabalho, da Hotelaria. A facilitaçã­o de vistos é importante como incentivo ao investimen­to estrangeir­o, mas requer atenção redobrada quanto aos de trabalho. Para não corrermos riscos de continuarm­os a ser enganados e a escancarar as portas das capoeiras às raposas. Sequer facilitar a vida aos lobos vestidos de cordeiros. De uns e outros, já temos cá que cheguem. Angola é terra acolhedora. Sempre foi e há-de ser, mas não podemos ser ingénuos, muito menos pactuar, pela inactivida­de, com os que apenas se servem dela, a extorquem, a debilitam.

Os vistos de trabalho têm de obedecer a maior rigor para evitar fuga de capitais, como alertou o ministro Ângelo Veiga

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