Jacob Zuma mostra que ainda tem apoios
Para aqueles que davam Jacob Zuma como uma carta fora do baralho político da África do Sul, os recentes desenvolvimentos indiciam que estavam errados
O recente aparecimento de Jacob Zuma num tribunal de Durban, que marcou o início oficial do seu julgamento por crimes de fraude e corrupção, embora a primeira sessão formal só aconteça no dia 8 de Junho, mostrou que o antigo Presidente da África do Sul ainda tem substanciais apoios no seio do ANC e que está disposto a usá-los para a sua sobrevivência política.
Centrados nos seus conterrâneos do Kwazuku Natal, Zuma conta desde logo com o incondicional apoio de Carl Niehaus, um veterano do ANC que foi porta-voz de Nelson Mandela e liderou a campanha para a candidatura de Dlamini Zuma à liderança do ANC, que viria a perder para Cyril Ramaphosa não que sem que antes houvesse uma recontagem dos votos. Niehaus esteve a seu lado quando se apresentou recentemente num tribunal de Durban e dizem que foi o responsável pela mobilização de apoiantes que nessa ocasião o aplaudiram perante os holofotes de centenas de jornalistas nacionais e estrangeiros.
Torna-se evidente que a estratégia dos apoiantes de Jacob Zuma é aproveitar as sessões do julgamento, que recomeça a 8 de Junho, para mobilizar um número crescente de apoios de modo a pressionar o ANC sobretudo o seu presidente, Cyril Ramaphosa, a não o abandonarem neste momento difícil.
Segundo alguns analistas locais, o julgamento deverá demorar mais de um ano, o que equivale a dizer que a leitura da sentença vai quase coincidir com a data das próximas eleições, com toda a carga de influência política que certamente terá junto dos eleitores.
Na altura em que foi decidido dar-lhe um ultimato para que se demitisse de Presidente da República, em Dezembro do ano passado, Jacob Zuma terá mantido uma reunião com os seus apoiantes e dado luz verde para começar a ser traçada uma estratégia de médio prazo que visava promover a sua antiga esposa, Dlamini Zuma, como alternativa presidencial a Cyril Ramaphosa, mesmo que isso custasse a criação de uma dissidência no ANC.
Jacob Zuma lamentava, já nessa altura, que Cyril Ramaphosa não tivesse mostrado solidariedade para com ele, dando luz verde para a retirada do apoio do partido em relação aos processos judiciais pelos quais agora está a responder em tribunal.
Quartel de Nkandla
Por isso, recolhido na sua cidade de Nkandla, transformada também no seu “quartel general”, Zuma aguardou pela “vassalagem” que alguns dos seus apoiantes lhe foram prestar.
Um dos primeiros a visitálo foi Ace Magashule, secretário-geral do ANC, para um encontro de mais de duas horas destinado, segundo alguns observadores, a um esforço para reunificar o partido. Esta reunificação, uma necessidade absoluta para que o ANC possa ter um confortável triunfo nas próximas eleições, passa pelo diálogo entre Jacob Zuma e Cyril Ramaphosa, directo ou intermediado por pessoas de extrema confiança.
Esse diálogo que está agora ofuscado pelos processos judiciais contra o antigo presidente, é incontornável para não criar fracturas no seio do partido que está no poder e para não enfraquecer politicamente Cyril Ramaphosa numa altura crucial para a sua vida política, uma vez que a possibilidade de uma dissidência no ANC apenas iria favorecer a oposição.
Jacob Zuma está a tentar, claramente, ganhar protagonismo político não hesitando em aproveitar a barra do tribunal para o desenvolvimento de uma campanha que minimize o impacto das acusações judiciais que lhe são feitas.
Quer queira, ou não, Ramaphosa e o ANC terão que mostrar estar preparados para pagar o preço caso insistam no isolamento do antigo presidente, correndo o risco de sofrerem um forte desgaste junto da opinião pública com um peso eleitoral que pode ser tremendo.