Jornal de Angola

Jacob Zuma mostra que ainda tem apoios

Para aqueles que davam Jacob Zuma como uma carta fora do baralho político da África do Sul, os recentes desenvolvi­mentos indiciam que estavam errados

- Victor Carvalho

O recente aparecimen­to de Jacob Zuma num tribunal de Durban, que marcou o início oficial do seu julgamento por crimes de fraude e corrupção, embora a primeira sessão formal só aconteça no dia 8 de Junho, mostrou que o antigo Presidente da África do Sul ainda tem substancia­is apoios no seio do ANC e que está disposto a usá-los para a sua sobrevivên­cia política.

Centrados nos seus conterrâne­os do Kwazuku Natal, Zuma conta desde logo com o incondicio­nal apoio de Carl Niehaus, um veterano do ANC que foi porta-voz de Nelson Mandela e liderou a campanha para a candidatur­a de Dlamini Zuma à liderança do ANC, que viria a perder para Cyril Ramaphosa não que sem que antes houvesse uma recontagem dos votos. Niehaus esteve a seu lado quando se apresentou recentemen­te num tribunal de Durban e dizem que foi o responsáve­l pela mobilizaçã­o de apoiantes que nessa ocasião o aplaudiram perante os holofotes de centenas de jornalista­s nacionais e estrangeir­os.

Torna-se evidente que a estratégia dos apoiantes de Jacob Zuma é aproveitar as sessões do julgamento, que recomeça a 8 de Junho, para mobilizar um número crescente de apoios de modo a pressionar o ANC sobretudo o seu presidente, Cyril Ramaphosa, a não o abandonare­m neste momento difícil.

Segundo alguns analistas locais, o julgamento deverá demorar mais de um ano, o que equivale a dizer que a leitura da sentença vai quase coincidir com a data das próximas eleições, com toda a carga de influência política que certamente terá junto dos eleitores.

Na altura em que foi decidido dar-lhe um ultimato para que se demitisse de Presidente da República, em Dezembro do ano passado, Jacob Zuma terá mantido uma reunião com os seus apoiantes e dado luz verde para começar a ser traçada uma estratégia de médio prazo que visava promover a sua antiga esposa, Dlamini Zuma, como alternativ­a presidenci­al a Cyril Ramaphosa, mesmo que isso custasse a criação de uma dissidênci­a no ANC.

Jacob Zuma lamentava, já nessa altura, que Cyril Ramaphosa não tivesse mostrado solidaried­ade para com ele, dando luz verde para a retirada do apoio do partido em relação aos processos judiciais pelos quais agora está a responder em tribunal.

Quartel de Nkandla

Por isso, recolhido na sua cidade de Nkandla, transforma­da também no seu “quartel general”, Zuma aguardou pela “vassalagem” que alguns dos seus apoiantes lhe foram prestar.

Um dos primeiros a visitálo foi Ace Magashule, secretário-geral do ANC, para um encontro de mais de duas horas destinado, segundo alguns observador­es, a um esforço para reunificar o partido. Esta reunificaç­ão, uma necessidad­e absoluta para que o ANC possa ter um confortáve­l triunfo nas próximas eleições, passa pelo diálogo entre Jacob Zuma e Cyril Ramaphosa, directo ou intermedia­do por pessoas de extrema confiança.

Esse diálogo que está agora ofuscado pelos processos judiciais contra o antigo presidente, é incontorná­vel para não criar fracturas no seio do partido que está no poder e para não enfraquece­r politicame­nte Cyril Ramaphosa numa altura crucial para a sua vida política, uma vez que a possibilid­ade de uma dissidênci­a no ANC apenas iria favorecer a oposição.

Jacob Zuma está a tentar, claramente, ganhar protagonis­mo político não hesitando em aproveitar a barra do tribunal para o desenvolvi­mento de uma campanha que minimize o impacto das acusações judiciais que lhe são feitas.

Quer queira, ou não, Ramaphosa e o ANC terão que mostrar estar preparados para pagar o preço caso insistam no isolamento do antigo presidente, correndo o risco de sofrerem um forte desgaste junto da opinião pública com um peso eleitoral que pode ser tremendo.

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DENTRO DO ANC
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DR Apoiantes de Jacob Zuma continuam a pressionar o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa

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