Economistas concordam com iniciativa do Governo
O economista Carlos Gomes manifestou o seu total apoio ao Executivo, por este ter solicitado um programa de apoio ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para coordenação de políticas económicas do país, sem qualquer “envelope” financeiro associado.
“Estamos solidários com a iniciativa do Executivo, pelos benefícios que resultarão da mesma, pois será uma espécie de certificado de confiança e convite emitidos pelo FMI à comunidade financeira internacional, devendo Angola respeitar as regras de transparência e ‘compliance’ na gestão criteriosa dos seus recursos financeiros”, disse.
Em declarações ao Jornal de Angola, Carlos Gomes disse que se trata de um mecanismo a que os países membros do FMI recorrem, quando, por circunstâncias adversas, experimentam constrangimentos marcados por desequilíbrios macro-económicos, como ficou demonstrado no quadro apresentado em Nova Iorque pela equipa económica do Governo, chefiada pelo ministro das Finanças.
Neste momento, disse o economista, Angola enfrenta desequilíbrios macro-eco- nómicos, traduzidos na drástica quebra das Reservas Internacionais Líquidas (RLI) abaixo de 15 mil milhões de dólares e receitas dependentes do mercado em cerca de 90 por cento. Angola gasta 250 milhões de dólares por mês em importação de alimentos, 200 milhões para importação mensal de refinados de petróleo e 89,7 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) vai para o pagamento da dívida externa.
O programa de apoio para a coordenação de políticas económicas, denominado PCI (Instrumento de Coordenação de Políticas), “é um recurso de emergência que poderia ter sido mitigado, caso tivéssemos feito uma gestão dos recursos financeiros e diversificado a economia antes da crise do preço do petróleo, que até 2013 rondava 110 dólares por barril”, referiu Carlos Gomes.
“O passo forçado que está inteligentemente a ser dado pela nova equipa económica visa, em última instância, reconquistar a confiança da comunidade investidora e financeira internacional, para que continue a acreditar na economia angolana que, à luz de uma nova gestão transparente, se compromete a cumprir com todos os quesitos daquela organização financeira internacional, que pugna pela utilização dos recursos dos seus membros em prol do interesse das populações, desenvolvimento dos países e combate a todas as práticas de enriquecimento ilícito”, sublinhou o economista.
Para Carlos Gomes, “isto é um dar a mão à palmatória”, face às observações feitas por missões anteriores do FMI ao nosso país, “mas que não foram totalmente acatadas, enquanto tivemos rios de dinheiro mais caudalosos que o Kwanza”, concluiu.
Ainda bem que aceitamos
O economista Rui Malaquias disse que a ajuda que Angola pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) é importante. O Executivo pediu ao FMI auxílio, porque criou um conjunto de medidas que constam do Programa de Estabilização Macroeconómica e no Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022.
Para Rui Malaquias, “ainda bem que Angola pediu apoio ao FMI, porque também concretiza um pedido de ‘namoro’ que o FMI já fez há muito e nunca aceitamos”. “Agora que aceitamos, vamos cumprir os preceitos do FMI, porque vão nos ajudar a implementar as medidas que nós próprios gizamos, para que o nosso país consiga estar em condições de receber financiamentos e, aí sim, diversificar a nossa economia”, destacou. “Essas medidas já tinham o dedo e recomendações do próprio FMI”, disse Rui Malaquias sobre a solicitação do Executivo do Instrumento de Coordenação de Políticas, acrescentando que, “Angola chamou o FMI para ajudar a materializar essas medidas e é por isso que o apoio é técnico”. O economista disse que este tipo de programa, uma vez que o FMI tem vários, é para preparar as economias que se submetem à instituição financeira internacional para que ganhem resiliência e força, para absorver os choques externos, bem como para preparar a entrada de financiamento externo e de investimento estrangeiro.
O FMI vai ajudar a implementar as medidas apresentadas pelo Executivo, para que, de facto, o país esteja mais tarde em condições de pedir empréstimos ao próprio FMI e a outras fontes de investimentos. “Se o programa correr bem, Angola está em condições de ser um devedor mais respeitável nos mercados internacionais”, disse.