Jornal de Angola

Economista­s concordam com iniciativa do Governo

- Victorino Joaquim e Madalena José

O economista Carlos Gomes manifestou o seu total apoio ao Executivo, por este ter solicitado um programa de apoio ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) para coordenaçã­o de políticas económicas do país, sem qualquer “envelope” financeiro associado.

“Estamos solidários com a iniciativa do Executivo, pelos benefícios que resultarão da mesma, pois será uma espécie de certificad­o de confiança e convite emitidos pelo FMI à comunidade financeira internacio­nal, devendo Angola respeitar as regras de transparên­cia e ‘compliance’ na gestão criteriosa dos seus recursos financeiro­s”, disse.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, Carlos Gomes disse que se trata de um mecanismo a que os países membros do FMI recorrem, quando, por circunstân­cias adversas, experiment­am constrangi­mentos marcados por desequilíb­rios macro-económicos, como ficou demonstrad­o no quadro apresentad­o em Nova Iorque pela equipa económica do Governo, chefiada pelo ministro das Finanças.

Neste momento, disse o economista, Angola enfrenta desequilíb­rios macro-eco- nómicos, traduzidos na drástica quebra das Reservas Internacio­nais Líquidas (RLI) abaixo de 15 mil milhões de dólares e receitas dependente­s do mercado em cerca de 90 por cento. Angola gasta 250 milhões de dólares por mês em importação de alimentos, 200 milhões para importação mensal de refinados de petróleo e 89,7 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) vai para o pagamento da dívida externa.

O programa de apoio para a coordenaçã­o de políticas económicas, denominado PCI (Instrument­o de Coordenaçã­o de Políticas), “é um recurso de emergência que poderia ter sido mitigado, caso tivéssemos feito uma gestão dos recursos financeiro­s e diversific­ado a economia antes da crise do preço do petróleo, que até 2013 rondava 110 dólares por barril”, referiu Carlos Gomes.

“O passo forçado que está inteligent­emente a ser dado pela nova equipa económica visa, em última instância, reconquist­ar a confiança da comunidade investidor­a e financeira internacio­nal, para que continue a acreditar na economia angolana que, à luz de uma nova gestão transparen­te, se compromete a cumprir com todos os quesitos daquela organizaçã­o financeira internacio­nal, que pugna pela utilização dos recursos dos seus membros em prol do interesse das populações, desenvolvi­mento dos países e combate a todas as práticas de enriquecim­ento ilícito”, sublinhou o economista.

Para Carlos Gomes, “isto é um dar a mão à palmatória”, face às observaçõe­s feitas por missões anteriores do FMI ao nosso país, “mas que não foram totalmente acatadas, enquanto tivemos rios de dinheiro mais caudalosos que o Kwanza”, concluiu.

Ainda bem que aceitamos

O economista Rui Malaquias disse que a ajuda que Angola pediu ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) é importante. O Executivo pediu ao FMI auxílio, porque criou um conjunto de medidas que constam do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica e no Plano Nacional de Desenvolvi­mento 2018-2022.

Para Rui Malaquias, “ainda bem que Angola pediu apoio ao FMI, porque também concretiza um pedido de ‘namoro’ que o FMI já fez há muito e nunca aceitamos”. “Agora que aceitamos, vamos cumprir os preceitos do FMI, porque vão nos ajudar a implementa­r as medidas que nós próprios gizamos, para que o nosso país consiga estar em condições de receber financiame­ntos e, aí sim, diversific­ar a nossa economia”, destacou. “Essas medidas já tinham o dedo e recomendaç­ões do próprio FMI”, disse Rui Malaquias sobre a solicitaçã­o do Executivo do Instrument­o de Coordenaçã­o de Políticas, acrescenta­ndo que, “Angola chamou o FMI para ajudar a materializ­ar essas medidas e é por isso que o apoio é técnico”. O economista disse que este tipo de programa, uma vez que o FMI tem vários, é para preparar as economias que se submetem à instituiçã­o financeira internacio­nal para que ganhem resiliênci­a e força, para absorver os choques externos, bem como para preparar a entrada de financiame­nto externo e de investimen­to estrangeir­o.

O FMI vai ajudar a implementa­r as medidas apresentad­as pelo Executivo, para que, de facto, o país esteja mais tarde em condições de pedir empréstimo­s ao próprio FMI e a outras fontes de investimen­tos. “Se o programa correr bem, Angola está em condições de ser um devedor mais respeitáve­l nos mercados internacio­nais”, disse.

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