“Senhor da guerra” na Libéria condenado nos EUA
Detido nos Estados Unidos por ter mentido no processo para a obtenção de um visto de residência, Mohammed Jabbateh, um dos “senhores da guerra” na Libéria, acaba de ser sentenciado a 30 anos de prisão pelo envolvimento nos crimes cometidos durante os anos 1990
Um dos mais temíveis protagonistas na guerra civil da Libéria acaba de ser condenado nos Estados Unidos a 30 anos de cadeia por ter tentado esconder, no processo para obtenção do visto de residência, o envolvimento nas atrocidades então cometidas.
Mohammed Jabbateh foi considerado culpado dos crimes de fraude migratória por ter escondido as responsabilidades na guerra civil da Libéria, tendo alegado que nunca pertenceu a qualquer grupo armado.
O testemunho acabou por ser desmentido por diversas testemunhas que viajaram desde a Libéria, tendo uma delas mesmo dito que ele era o principal responsável por muitos fuzilamentos e de ter mandado arrancar o coração a um opositor para depois o mandar cozinhar, obrigando alguns detidos a comê-lo.
A Amnistia Internacional já aplaudiu a decisão do tribunal norte-americano, considerando que o veredicto final constitui um acto de justiça para as vítimas da guerra civil da Libéria e, ao mesmo tempo, mais uma pedra na construção da história das atrocidades que nela foram cometidas. “É importante que o mundo não esqueça o que se passou e que os autores desses crimes sejam identificados e devidamente punidos”, disse Sabrina Mahtani, uma das representantes da Amnistia Internacional em África.
Para esta responsável era importante que as autoridades da Libéria criassem um tribunal especial, que funcionasse de acordo com as leis internacionais, para julgar e punir todos os criminosos de guerra.
Actualmente com 51 anos de idade, Mohammed Jabbateh chegou aos Estados Unidos no final dos anos 90, sendo detido em Abril de 2016 em Filadélfia, onde residia numa comunidade conhecida como “pequena Libéria”.
Durante o julgamento ficou provado que ele havia sido comandante do Movimento Unido para a Libertação da Libéria durante o período mais aceso da guerra, no início dos anos 90.
Testemunhos determinantes
Diversas pessoas viajaram da Libéria para os Estados Unidos para poderem dar o seu testemunho pessoal acerca dos assassinatos, raptos, violações, mutilações e actos de canibalismo cometidos por ele e por combatentes que estavam sob o seu comando.Algumas destas pessoas perseguiam judicialmente Mohammed Jabbateh há já vários anos, muitos deles que conseguiram escapar miraculosamente a várias chacinas, algumas cometidas em igrejas católicas.
Numa dessas chacinas, homens sob o comando pessoal de Mohammed Jabbateh entraram numa igreja dos arredores de Monróvia e dispararam indiscriminadamente contra todos os que lá se encontravam, na sua maioria mulheres e crianças.Três das crianças que então conseguiram sobreviver por terem ficado por debaixo dos corpos das respectivas mães prestaram testemunhos determinantes para a sentença que acabou por ser ditada.
Na altura da leitura da sentença o juiz, William McSwain, disse estar perante um homem que é responsável por atrocidades que marcaram várias gerações de liberianos, considerando ter sido determinante o empenhamento da Justiça para que, finalmente, fosse pagar pelos imensos crimes que cometeu.
“Esta sentença foi a única opção que tivemos para honrar o sofrimento das vítimas e para dar corpo ao sentido da palavra Justiça”, disse o juiz. De acordo com diversas organizações internacionais de defesa dos direitos humanos que trabalha para levar a tribunal criminosos de diferentes guerras, muitos dos suspeitos pelas atrocidades cometidas na Libéria, infelizmente, têm ocupado posições de destaque e de poder no país o que impede ou dificulta a sua indiciação.
Hassan Bility, activista liberiano que se tem batido pela condenação dos criminosos da guerra que ocorreu no seu país, disse estar convencido de que a condenação de Jabbateh pode ser um incentivo para que as autoridades do país aceitem julgar outros responsáveis pelas atrocidades cometidas.
“Tenho esperança de que os tribunais do meu país possam, também eles, começar a tratar destes assuntos com a devida responsabilidade”, disse.
Cerca de 250 mil pessoas foram mortas de modo brutal durante os 14 anos que durou a guerra civil na Libéria.
Actualmente com 51 anos, Jabateh chegou aos Estados Unidos no final dos anos 90, sendo detido em Abril de 2016 em Filadélfia, onde residia numa comunidade conhecida como “pequena Libéria”