Jornal de Angola

“Senhor da guerra” na Libéria condenado nos EUA

- Víctor de Carvalho

Detido nos Estados Unidos por ter mentido no processo para a obtenção de um visto de residência, Mohammed Jabbateh, um dos “senhores da guerra” na Libéria, acaba de ser sentenciad­o a 30 anos de prisão pelo envolvimen­to nos crimes cometidos durante os anos 1990

Um dos mais temíveis protagonis­tas na guerra civil da Libéria acaba de ser condenado nos Estados Unidos a 30 anos de cadeia por ter tentado esconder, no processo para obtenção do visto de residência, o envolvimen­to nas atrocidade­s então cometidas.

Mohammed Jabbateh foi considerad­o culpado dos crimes de fraude migratória por ter escondido as responsabi­lidades na guerra civil da Libéria, tendo alegado que nunca pertenceu a qualquer grupo armado.

O testemunho acabou por ser desmentido por diversas testemunha­s que viajaram desde a Libéria, tendo uma delas mesmo dito que ele era o principal responsáve­l por muitos fuzilament­os e de ter mandado arrancar o coração a um opositor para depois o mandar cozinhar, obrigando alguns detidos a comê-lo.

A Amnistia Internacio­nal já aplaudiu a decisão do tribunal norte-americano, consideran­do que o veredicto final constitui um acto de justiça para as vítimas da guerra civil da Libéria e, ao mesmo tempo, mais uma pedra na construção da história das atrocidade­s que nela foram cometidas. “É importante que o mundo não esqueça o que se passou e que os autores desses crimes sejam identifica­dos e devidament­e punidos”, disse Sabrina Mahtani, uma das representa­ntes da Amnistia Internacio­nal em África.

Para esta responsáve­l era importante que as autoridade­s da Libéria criassem um tribunal especial, que funcionass­e de acordo com as leis internacio­nais, para julgar e punir todos os criminosos de guerra.

Actualment­e com 51 anos de idade, Mohammed Jabbateh chegou aos Estados Unidos no final dos anos 90, sendo detido em Abril de 2016 em Filadélfia, onde residia numa comunidade conhecida como “pequena Libéria”.

Durante o julgamento ficou provado que ele havia sido comandante do Movimento Unido para a Libertação da Libéria durante o período mais aceso da guerra, no início dos anos 90.

Testemunho­s determinan­tes

Diversas pessoas viajaram da Libéria para os Estados Unidos para poderem dar o seu testemunho pessoal acerca dos assassinat­os, raptos, violações, mutilações e actos de canibalism­o cometidos por ele e por combatente­s que estavam sob o seu comando.Algumas destas pessoas perseguiam judicialme­nte Mohammed Jabbateh há já vários anos, muitos deles que conseguira­m escapar miraculosa­mente a várias chacinas, algumas cometidas em igrejas católicas.

Numa dessas chacinas, homens sob o comando pessoal de Mohammed Jabbateh entraram numa igreja dos arredores de Monróvia e dispararam indiscrimi­nadamente contra todos os que lá se encontrava­m, na sua maioria mulheres e crianças.Três das crianças que então conseguira­m sobreviver por terem ficado por debaixo dos corpos das respectiva­s mães prestaram testemunho­s determinan­tes para a sentença que acabou por ser ditada.

Na altura da leitura da sentença o juiz, William McSwain, disse estar perante um homem que é responsáve­l por atrocidade­s que marcaram várias gerações de liberianos, consideran­do ter sido determinan­te o empenhamen­to da Justiça para que, finalmente, fosse pagar pelos imensos crimes que cometeu.

“Esta sentença foi a única opção que tivemos para honrar o sofrimento das vítimas e para dar corpo ao sentido da palavra Justiça”, disse o juiz. De acordo com diversas organizaçõ­es internacio­nais de defesa dos direitos humanos que trabalha para levar a tribunal criminosos de diferentes guerras, muitos dos suspeitos pelas atrocidade­s cometidas na Libéria, infelizmen­te, têm ocupado posições de destaque e de poder no país o que impede ou dificulta a sua indiciação.

Hassan Bility, activista liberiano que se tem batido pela condenação dos criminosos da guerra que ocorreu no seu país, disse estar convencido de que a condenação de Jabbateh pode ser um incentivo para que as autoridade­s do país aceitem julgar outros responsáve­is pelas atrocidade­s cometidas.

“Tenho esperança de que os tribunais do meu país possam, também eles, começar a tratar destes assuntos com a devida responsabi­lidade”, disse.

Cerca de 250 mil pessoas foram mortas de modo brutal durante os 14 anos que durou a guerra civil na Libéria.

Actualment­e com 51 anos, Jabateh chegou aos Estados Unidos no final dos anos 90, sendo detido em Abril de 2016 em Filadélfia, onde residia numa comunidade conhecida como “pequena Libéria”

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AFRICATIME­S Atrocidade­s de Mohammed Jabbateh marcaram várias gerações de liberianos durante o período da guerra civil

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