Jornal de Angola

África precisa de serviços públicos fortes

As novas exigências resultam dos desafios deste século, demografia jovem e urbanizada específica, solidaried­ade, protecção contra várias ameaças criminosas, emprego e ambiente favorável a negócios

- Armando Estrela

“Serviço Público em África” é o tema do relatório do “Fórum Ibrahim” de 2018 que a Fundação Mo Ibrahim lança no sábado, em Kigali, República do Ruanda.

O fórum vai concentrar­se no serviço público em África, essencial à boa governação e liderança eficaz, novos desafios e actuais deficiênci­as, formas e meios de fortalecer e de o tornar apelativo à geração vindoura.

Mo Ibrahim, presidente da Fundação Mo Ibrahim, referiu à propósito que “o serviço público é o pilar da governação” e sem o mesmo e sem funcionári­os públicos dedicados, “não haverá uma prestação eficiente dos bens e serviços públicos esperados, nem a implementa­ção de qualquer compromiss­o, mesmo que este tenha sido firmemente expresso”.

Em primeiro lugar, o “Relatório do Fórum Ibrahim de 2018” analisa a exigência dirigida aos serviços públicos africanos e destaca as crescentes expectativ­as dos cidadãos. As novas exigências resultam dos desafios deste século e da demografia jovem e urbanizada específica de África, como solidaried­ade, protecção contra várias ameaças criminosas, emprego, ambiente favorável a negócios, cultura, mitigação das alterações climáticas e desenvolvi­mento do sector rural.

Estas exigências juntamse às tradiciona­is (segurança, saúde, educação e justiça), relativame­nte às quais a insatisfaç­ão dos cidadãos parece estar a aumentar. Uma carga adicional é a multiplica­ção de compromiss­os multilater­ais em termos de ODS (Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l), COP (Fórum de Inovação Sustentáve­l) e Agenda 2063 da União Africana.

Muitos intervenie­ntes (União Africana, comunidade­s regionais, governos nacionais, cidades) podem ser responsáve­is por todos estes compromiss­os, dentro do sector Líbia, Maurícia e Tunísia têm pelo menos um médico para cada 1.000 pessoas. deixada pelos serviços públicos, estão em cresciment­o exponencia­l os sectores da segurança privada, ensino privado e saúde privada, com o risco de aumentar as desigualda­des no continente. têm os rácios mais baixos de forças policiais, com cerca de 100 agentes por cada 100.000 pessoas. dos impostos totais de África mantêm-se por cobrar. na África Subsariana está estimada em 42 por cento do rendimento interno bruto, alcança os 60 por cento na Nigéria, Tanzânia e Zimbabué. têm melhor educação académica, são mais velhos e incluem mais mulheres em comparação com o sector privado. Único país em que os funcionári­os públicos são designados e avaliados, unicamente, com base em critérios profission­ais, de acordo com a “Global Integrity”. Governos locais têm 21 por cento dos dias úteis com acesso à Internet, o equivalent­e a um dia numa semana de trabalho. África está muito atrasada em relação à média global. o tempo de entrega de um fornecimen­to de sangue de emergência foi reduzido de três horas por estrada, para 30 minutos com “drones”. público ou fora deste, no sector privado e de doadores multilater­ais. “Isto, exige uma avaliação cuidadosa de quem está melhor posicionad­o para abordar estas exigências e quem tem de responsabi­lizar-se pela sua concretiza­ção.

Falta de capacidade

O relatório avalia ainda o estado actual dos serviços públicos africanos e os seus principais desafios, tanto do lado da atractivid­ade do trabalho como do lado da concretiza­ção. Em média, os serviços públicos africanos apresentam falta de capacidade ao nível do continente e continuam a ser um pequeno empregador, com um custo superior em comparação a outras regiões, mas com grandes disparidad­es é superior a cada um dos 36 países menos povoados do continente. com os maiores gastos em saúde pública das despesas públicas totais, estão também entre os dez países com a maior quota de financiame­nto externo sobre os seus gastos totais em saúde. é a mais deteriorad­a das 14 subcategor­ias no Índice Ibrahim de Governação Africana. foram pagos cerca de 82,3 mil milhões em subornos no ano de 2016, o equivalent­e a 39 por cento do orçamento conjunto federal e estatal para a educação. África perde cerca de 2 mil milhões de dólares devido à fuga de cérebros no sector da saúde.ação. População africana que teve contacto com um serviço público em 2015, afirmou que pagou um suborno, principalm­ente, à polícia e aos tribunais. é o único país em que os funcionári­os públicos trabalham livremente, sem interferên­cia política, de acordo com a “Global Integrity”.ducação. apontam para um nível baixo e decrescent­e de práticas governamen­tais transparen­tes em África. Africanos é a favor de pagar por serviços públicos. africanos têm um sistema completo de registo de nascimento­s. Para a Responsabi­lidade dos Funcionári­os Públicos deteriorou-se, com o ritmo de declínio a piorar nos últimos cinco anos. nos países. Nos sectores da saúde, educação e segurança, os serviços públicos estão longe de satisfazer as exigências, em parte para responder às que aumentam exponencia­lmente.

Por outro lado, para substituir os serviços públicos ineficazes, um número crescente de intervenie­ntes não estatais tem-se tornado prestadore­s essenciais de bens e serviços públicos, ao ponto de, por vezes, impedirem os governos nacionais de terem políticas públicas.

Os funcionári­os públicos em África possuem, em média, melhor educação académica do que os do sector privado e também têm, em média, o dobro da idade da população que servem.

A motivação no trabalho centra-se, essencialm­ente, na segurança do trabalho e não na remuneraçã­o, a mobilidade dentro ou fora dos serviços públicos é praticamen­te inexistent­e, a dependênci­a política é forte, o equipament­o de trabalho escasseia, a corrupção encontra-se no nível mais elevado à escala global e os “funcionári­os públicos fantasmas” ocupam postos em vários serviços, enquanto muitos dos indivíduos com melhor formação escolhem trabalhar no estrangeir­o.

Desenvolve­r os serviços públicos em contextos pósconflit­o, muitas vezes do zero, representa um desafio específico. Mas num continente jovem, cuja capacidade de superação já foi várias vezes demonstrad­a, existem soluções potenciais e melhores práticas como incentivos monetários e não monetários, mobilidade interna e externa, desenvolvi­mento de competênci­as e novas tecnologia­s.

Criar contratos sérios

Em conclusão, o “Relatório do Fórum Ibrahim de 2018” destaca também a necessidad­e de criar um contrato sólido entre cidadãos e prestadore­s de serviços públicos. “Para qualquer acordo sólido, é essencial ter confiança, é necessário garantir a transparên­cia e a responsabi­lização e implementa­r os compromiss­os”, refere o relatório.

Num continente em que os fluxos financeiro­s ainda são equivalent­es a quase metade das receitas fiscais internas, em que as receitas fiscais só contam, em média, para menos de 15 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) e em que a maioria dos cidadãos é a favor de pagar pelos seus serviços públicos, fortalecer a cobrança de impostos é fundamenta­l para a autonomia e propriedad­e.

Pela primeira vez, o fórum vai ser precedido por um “Fórum Geração Seguinte”, na sexta-feira, onde os jovens vão debater como cidadãos o que esperam dos seus serviços públicos e como potenciais candidatos a emprego, a atractivid­ade, ou a falta dela, dos serviços públicos ao nível nacional, local ou regional.

Os resultados vão ser partilhado­s no dia seguinte no Fórum Ibrahim pelos seus representa­ntes, que serão os “desafiador­es” por constarem como membros do painel em cada uma das sessões. Os debates vão ser moderados por Nancy Kacungira, Apresentad­ora, BBC News, e Ngaire Woods, Reitor, Blavatnik School of Government, Universida­de de Oxford.

O relatório do Fórum Ibrahim de 2018 destaca a necessidad­e de se criar um contrato sólido entre cidadãos e prestadore­s de serviços. “Para qualquer acordo sólido, é essencial ter confiança, é necessário garantir a transparên­cia e a responsabi­lização e implementa­r os compromiss­os”

Fonte: Relatório do Fórum Ibrahim de 2018

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ADILSON SANTOS | EDIÇÕES NOVEMBRO

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