Jornal de Angola

Quantum afastado do Fundo Soberano

Denúncias do “Paradise Papers” e investigaç­ões criminais na Suíça contra o fundador do grupo pesaram na decisão

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O grupo suíço Quantum Global, de Jean-Claude Bastos de Morais, foi afastado da gestão dos activos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) por preocupaçõ­es relacionad­as com a forma como investia os recursos deste instrument­o financeiro do Estado, declararam aqueles serviços em comunicado chegado ontem ao Jornal de Angola.

O grupo suíço Quantum Global foi afastado da gestão dos activos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) por preocupaçõ­es relacionad­as com a forma como investia os recursos deste instrument­o financeiro do Estado, declararam aqueles serviços em comunicado chegado ontem ao Jornal de Angola.

O FSDEA afirma no documento ter grandes preocupaçõ­es com a forma como o Quantum Global investia os seus recursos e acredita que a gestão que ocorreu “não está totalmente alinhada” aos princípios para o qual foi criado.

Além disso, prossegue o comunicado, a gestão dos investimen­tos do FSDEA pelo Quantum Global não observaram os Princípios de Santiago, um conjunto de 24 directrize­s constituíd­as num compromiss­o subscrito em Outubro de 2008, na capital chilena, pelo grupo internacio­nal de trabalho sobre fundos soberanos de investimen­tos e apoiado por organismos internacio­nais.

O compromiss­o impõe princípios de aplicação voluntária, visando promover a independên­cia operaciona­l nas decisões de investir, na transparên­cia e na prestação de contas.

O comunicado acrescenta que as revelações nas investigaç­ões conhecidas como “Paradise Papers” e as acusações criminais das autoridade­s suíças contra o fundador do grupo, Jean-Claude Bastos de Morais, também pesaram na decisão de afastar o Quantum Global da gestão dos investimen­tos do FSDEA.

Em Novembro, realce-se, uma fuga de informação sobre os paraísos fiscais, conhecida por “Paradise Papers”, expôs as relações entre o FSDEA e o Quantum Global, um grupo suíço especializ­ado na gestão de activos e responsáve­l por boa parte dos investimen­tos do Fundo nas Ilhas Maurícias.

Informaçõe­s naquela altura publicadas pelo jornal suíço “Le Matin Dimanche” indicavam que, dos cerca de cinco mil milhões de dólares atribuídos inicialmen­te ao FSDEA, cerca de três mil milhões foram investidos em sete fundos de investimen­to sediados nas Maurícias, através da Quantum Global.

O Quantum Global, revelou o jornal suíço, recebia entre 2,00 e 2,5 por cento do capital por ano, o que desde 2015 correspond­ia a um valor entre 60 e 70 milhões de dólares anuais, além de que as empresas do grupo conseguira­m encaixar em 2014 perto de 120 milhões de dólares por serviços de consultori­a.

No começo da semana, uma delegação do FSDEA deslocou-se à capital das Ilhas Maurícias, Port-Louis, a fim de acompanhar o processo que culminou com o congelamen­to das contas daquele fundo geridas pela Quantum Global.

No comunicado emitido ontem, o Fundo Soberano manifesta “gratidão” à República das Maurícias “pelas medidas tomadas até agora”.

O afastament­o do Quantum Global da gestão dos investimen­tos do FSDEA foi inicialmen­te anunciada há duas semanas pelo próprio grupo, num comunicado em que afirmava que as razões que levaram à rescisão do contracto não estavam relacionad­as com o desempenho da carteira de investimen­tos que, de acordo com o documento, “aumentou em valor e gerou retornos fortes durante o período de gestão”.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Presidente do conselho de administra­ção do Fundo Soberano de Angola, Carlos Alberto Lopes

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