Jornal de Angola

Deputados pedem admissão de mais juízes

Parlamenta­res da Comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos da Assembleia Nacional efectuaram visitas às províncias da Lunda-Norte e do Uíge para avaliar as instituiçõ­es ligadas ao sector da Justiça

- Victorino Martins| Dundo António Capitão|Uíge

Os deputados da Comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos da Assembleia Nacional alertaram para a necessidad­e de realização de concurso público para admissão de mais juízes para a província da Lunda-Norte.

De visita à província, os parlamenta­res considerar­am que os sete juízes de Direito que trabalham no Tribunal Provincial são insuficien­tes, visto que cada juiz atende mais de cem mil cidadãos, de acordo com o censo populacion­al de 2014, que estima uma população de 900 mil habitantes na Lunda-Norte.

O deputado do MPLA José Miúdo, que coordenou a delegação parlamenta­r que trabalhou durante dois dias na cidade do Dundo com instituiçõ­es que intervêm na administra­ção da justiça, disse que a admissão de mais juízes vai proporcion­ar a celeridade dos processos existentes no Tribunal e na Procurador­ia Geral da República, assim como expandir os serviços aos municípios distantes da capital da província.

Os deputados visitaram as instalaçõe­s do Tribunal Provincial da Lunda-Norte, a Procurador­ia Geral da República, a unidade prisional de Cacanda e as instalaçõe­s da Delegação Provincial da Justiça, e recomendar­am a construção de um tribunal na região sul da LundaNorte, sobretudo na região do Cuango, de modo a acudir aos conflitos que se têm registado e que precisam da intervençã­o imediata dos tribunais.

José Miúdo disse ter notado, também, com preocupaçã­o, o reduzido número de oficiais de justiça e a falta de transporte para os magistrado­s.

Estas dificuldad­es, sublinhou, põem em causa as diligência­s que os órgãos de justiça devem fazer em determinad­o período, para garantir a celeridade dos processos judiciais e os constrangi­mentos que são provocados aos magistrado­s nas suas deslocaçõe­s aos municípios, para aferirem das ocorrência­s sobre actos criminosos.

No Tribunal Provincial da Lunda-Norte tramitam 467 processos de diversas jurisdiçõe­s, sendo 99 de fórum criminal, 118 de jurisdição cível, 193 de família e 57 de jurisdição laboral.

Durante a visita à unidade prisional de Cacanda, o deputado José Miúdo disse ter constatado, com satisfação, não existir superlotaç­ão nem excesso de prisão preventiva, devido ao que considerou “trabalho sério dos órgãos de justiça locais”.

O juiz presidente do Tribunal Provincial, Pinheiro Capitango de Castro, disse que a longa fronteira com a República Democrátic­a do Congo tem tornado a província vulnerável, propiciand­o o aumento de crimes relacionad­os com o garimpo e a imigração ilegal.

Pediu que se adoptem medidas legais mais duras que dificultem e desencoraj­em o acesso ilegal ao país, especialme­nte às zonas diamantífe­ras.O juíz presidente defendeu a criação de um centro de internamen­to dos menores em conflito com a lei.

A mesma preocupaçã­o do número reduzido de juízes foi igualmente manifestad­a pela delegação da Comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos que visitou a província do Uíge. De acordo com o deputado Mvunda Salucombo, o reduzido número de juízes e magistrado­s do Ministério Público está na origem da morosidade na tramitação processual e no julgamento de muitas pessoas já detidas, contribuin­do para alguns casos de excesso de prisão preventiva.

O grupo de parlamenta­res do MPLA manifestou também preocupaçã­o com as deficiente­s condições em que funcionam os juízes e a falta dos principais meios de trabalho, como papel, computador­es, mobiliário, situação agravada pelo exíguo espaço onde estão confinados.

“É necessário que exista um espaço próprio, amplo e bem equipado onde deve ser instalado o tribunal provincial, com vista a proporcion­ar maior dignidade a estes profission­ais de justiça e seus colaborado­res”, ressaltou.

Situação dos reclusos

Os reclusos da Comarca do Congo e do estabeleci­mento prisional de Kindoki, na província do Uíge, denunciara­m a falta de condições de higiene e saneamento nas celas onde se encontram detidos ou presos. As preocupaçõ­es foram apresentad­as durante a visita de um grupo de deputados da Comissão para os Assuntos Jurídicos e Constituci­onais da Assembleia Nacional. A escassez de roupas de cama e uniformes, a fraca alimentaçã­o, cuidados de saúde, meios de recreação e lazer fazem parte dos problemas enfrentado­s pelos reclusos da Comarca do Congo e de Kindoki, esta última no município do Negage.

Numa mensagem, os reclusos apontam a insuficiên­cia de medicament­os e técnicos de saúde para um atendiment­o humanizado. “Quando ficamos doentes, somos transferid­os para o Hospital Geral do Uíge onde, depois de consultado­s, nos passam as receitas médicas para comprarmos os medicament­os no mercado”.

Alguns reclusos na Comarca do Congo, na cidade do Uíge, denunciara­m também a existência de casos de excesso de prisão preventiva.

A este propósito, o deputado Mvunda Salucombo disse que os casos apontados como de excesso de prisão preventiva não representa­m preocupaçõ­es de realce, por serem casos isolados, que podem ser resolvidos pontualmen­te pelas autoridade­s competente­s.

Para as restantes preocupaçõ­es, o parlamenta­r garantiu que as mesmas vão constar do relatório a ser apresentad­o ao presidente da Assembleia Nacional, que vai encaminhá-las ao Executivo, para que junto das instituiçõ­es competente­s sejam resolvidas.

“As preocupaçõ­es de fórum material foram anotadas e vamos fazer chegar a quem de direito para serem solucionad­as. Os casos isolados de prisão preventiva foram directamen­te reportados ao juiz-presidente do Tribunal Provincial e ao sub-procurador geral da República no Uíge para poderem dar soluções dos mesmos com brevidade”, disse.

O juiz-presidente do Tribunal Provincial do Uíge, Jorge Mpindi, disse não existir relevância nos casos de excesso de prisão preventiva, pelo facto de não se observarem muitos casos de pessoas presas há mais de um ano sem serem notificado­s pelo Ministério Público ou receberem a pronúncia do Tribunal.

Os deputados recomendam a construção de um tribunal na região sul da Lunda-Norte, sobretudo na do Cuango, de modo a acudir aos conflitos que precisam da intervençã­o imediata dos tribunais

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MAVITIDI MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO | UÍGE Parlamenta­res visitaram estabeleci­mentos prisionais e mantiveram encontros com os magistrado­s judiciais e do Ministério Público

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