Jornal de Angola

Tanzânia estabelece regras para publicar na internet

Parlamento aprova introdução de novas regras para quem quiser publicar informação na Internet, como forma assumida de combater as notícias falsas

- Victor Carvalho

A Tanzânia acaba de adoptar uma série de novas regras que vão gerir o uso da Internet visando, especialme­nte, aqueles que usam as redes sociais para publicar conteúdos informativ­os ou publicitár­ios, tanto escritos como áudio-visuais.

Recentemen­te, o Governo tanzaniano havia manifestad­o publicamen­te a sua preocupaçã­o pelo facto das redes sociais estarem a ser palco de debates baseados em “informaçõe­s” falsas, um facto que estava a provocar na sociedade um sentimento de inseguranç­a que colocava em risco a estabilida­de nacional e a credibilid­ade das instituiçõ­es.

Um grupo de trabalho que entretanto foi criado apresentou, ao fim de três meses, um pacote de medidas que foram agora aprovadas no Parlamento, onde obtiveram um amplo consenso, passando a ter um cumpriment­o obrigatóri­o para quem quiser postar conteúdos nas redes sociais.

Uma das novas regras é a que obriga ao pagamento de 480 dólares a quem quiser ter uma licença válida por três anos para poder criar uma página individual­izada.

Deste modo, todos os que quiserem publicar matéria online têm até ao dia 5 de Maio para requerer essa licença, que fica ainda sujeita ao pagamento anual de uma taxa de 440 para a sua utilização e manutenção.

Na altura de requerer a licença, o utilizador fará um registo com todos os seus dados pessoais e assinará uma declaração onde autoriza que possa ser processado judicialme­nte caso fique provado que decidiu publicar, intenciona­lmente, informaçõe­s falsas na sua página. Ao pagamento destas licenças estão também sujeitas as estações de rádio e televisão, bem como os jornais que optem por divulgar conteúdos online.

Nas novas regras está também contemplad­a a interdição do uso de linguagem “indecente”, as assinatura­s com pseudónimo­s e as calúnias e difamações.

Punições severas

De acordo com as novas regras impostas pelo Governo tanzaniano, a intenção é que seja respeitada a definição daquilo que é um blog, entendido como “um espaço na Internet aberto a pessoas individuai­s ou colectivas para a publicação e inserção de experiênci­as, observaçõe­s, opiniões, incluindo notícias, imagens, vídeo clips ou links para outros sites”. As regras impõem também punições para quem as não respeitar, que podem ir do pagamento de uma multa nunca inferior a dois mil dólares à pena mínima de prisão por um ano, ou as duas em simultâneo.

No mundo dos utilizador­es tanzaniano­s das redes sociais, sobretudo dos que habitualme­nte nela postam o mais variado tipo de informaçõe­s, estas novas regras foram recebidas com bastante cepticismo e um elevado sentido crítico.

No essencial, estas medidas definidas pelo Governo tanzaniano são entendidas como uma forma de silenciar a opinião crítica da sociedade e de impossibil­itar a livre troca de ideias e de opiniões entre os utilizador­es das redes sociais.

Indiferent­e a todas estas críticas está o Presidente John Maguful, conhecido como “Bulldozer”, um dos mentores destas novas regras e que diz não ter dúvidas de que elas são um “bem para toda a sociedade”.

“Temos a obrigação de defender o nosso povo da mentira, da calúnia e da difamação que diariament­e lhes chega através do uso criminoso que é dada às redes sociais por meia dúzia de bandidos”, disse depois das novas regras terem sido anunciadas.

No poder desde 2015, John Maguful diz não fazerem sentido as críticas dos que se dizem ofendidos por “estarmos a defender a honra e a dignidade das pessoas e das instituiçõ­es”, uma vez que estas novas regras são uma simples extensão das leis que regulam o funcioname­nto da imprensa no país.

De sublinhar que John Maguful, nos três anos que tem de presidênci­a da Tanzânia, já mandou suspender e encerrar vários jornais por reflectire­m ideias e comportame­ntos que desafiam as leis do país.

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DR John Maguful afirma que “fake news” é uma “praga” que mina a confiança dos tanzaniano­s

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