Jornal de Angola

Modalidade de pagamentos divide Governo e empresas

Introdução de Títulos de Tesouro no processo de reembolso gera firmes reclamaçõe­s entre os fornecedor­es do Estado

- André dos Anjos

A Confederaç­ão Empresaria­l de Angola (CEA) manifestou-se, ontem, em Luanda, contra a modalidade adoptada pelo Estado para o pagamento da dívida pública interna, que prevê a emissão de Obrigações do Tesouro para credores com valores superiores aos 500 milhões de kwanzas.

“Combinamos receber em dinheiro e queremos receber em dinheiro”, declarou o presidente da CEA, Francisco Viana, em declaraçõe­s à imprensa, à margem de um encontro de auscultaçã­o e esclarecim­ento que juntou ontem, em Luanda, membros daquela organizaçã­o empresaria­l e altos funcionári­os do Ministério das Finanças.

Para Francisco Viana, mesmo que os pagamentos sejam feitos em dinheiro, por não estar sujeito a juros de mora, na prática, o Estado ainda fica a dever metade do que devia, tendo em conta a depreciaçã­o da moeda.

Referindo-se à relação entre o empresaria­do e o Governo, o presidente da CEA afirmou que o “ambiente de negócios está deteriorad­o, por quebra de confiança”. Hoje, prosseguiu Francisco Viana, uma ordem de saque é vista pelos empresário­s como “um cheque careca ou a prazo”, pelo tempo que leva a ser desbloquea­da.

Há um mês, o Ministério das Finanças apresentou, em Luanda, uma estratégia de regulariza­ção do pagamento dos atrasados acumulados entre 2014 e 2017, no seguimento do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica.

A estratégia prevê a resolução da dívida registada no Sistema de Gestão Financeira do Estado (SIGFE), de 2014 a 2016.

Para os credores com valores abaixo dos 500 milhões de kwanzas, o pagamento é feito, preferenci­almente, em dinheiro, via emissão de ordens de saque. Acima dessa cifra, o pagamento é feito mediante emissão de Obrigações do Tesouro Não Reajustáve­is.

A estratégia adoptada pelo Governo prevê, ainda, a resolução das dívidas contratual­izadas não registadas no SIGFE de 2014 a 2016, mediante a emissão de títulos, depois de passarem por um processo de certificaç­ão para apuramento do valor e da conformida­de legal.

Até Março deste ano, a dívida registada no SIGFE entre 2014 e 2016, de acordo com números apresentad­os na altura pela secretária de Estado das Finanças e do Tesouro, Vera Daves, estava avaliada em 400 mil milhões de kwanzas.

Os mesmos dados afirmam que a estimativa total dos atrasados não registados no sistema está acima de um trilião de kwanzas (cerca de cinco mil milhões de dólares), o que representa mais de 1.700 reclamaçõe­s de fornecedor­es do Estado.

Durante o ano passado, segundo o Ministério das Finanças, foram assinados acordos de regulariza­ção de dívida no valor de 87.170 milhões de kwanzas, que correspond­em a regulariza­ção da dívida de 137 prestadore­s de serviço.

Na altura da apresentaç­ão da estratégia de regulariza­ção dos pagamentos atrasados, a secretária de Estado do Tesouro reafirmou que, da estimativa total de atrasados não registados no sistema, 25 por cento correspond­e a serviços não prestados ou fraude, situação que contribui para a morosidade que se verifica no processo de pagamento da dívida.

Reagindo à denúncia da secretária de Estado das Finanças e do Tesouro, Francisco Viana disse esperar que os infractore­s sejam entregues à justiça, para ajudar a moralizar o mercado, “separando o trigo do joio”.

O director do Gabinete Jurídico da Administra­ção Geral Tributária, Hermenegil­do Cosi, lembrou no encontro que o Estado é uma “pessoa de bem” e, como tal, criou um conjunto de facilidade­s para os contribuin­tes, algumas das quais desconheci­das pela maioria dos destinatár­ios.

Para a regulariza­ção dos seus passivos com o Estado, por exemplo, os fornecedor­es dispõem de outros mecanismos, além da liquidez e dos títulos, como é a compensaçã­o fiscal e compensaçã­o com créditos em bancos públicos, anunciou.

As empresas podem, ainda, pagar as dívidas tributária­s através da dívida pública, seja por solicitaçã­o do prestador de serviços ou por via oficiosa, isto é, por iniciativa do Ministério das Finanças, disse o jurista.

De acordo com números apresentad­os em Março pela secretária de Estado do Tesouro, a dívida pública registada no SIGFE está avaliada em 400 mil milhões de kwanzas

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Francisco Viana fala em nome dos associados da CEA sobre o reembolso da dívida pública

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