Jornal de Angola

Estado indemniza famílias de Kassule e Kamulingue

- Edvaldo Cristóvão e Victorino Joaquim |

O Estado angolano vai indemnizar as famílias de Alves Kamulingue e Isaias Kassule, activistas cívicos assassinad­os há seis anos, com um de quatro milhões de kwanzas.

Alves Kamulingue e Isaías Kassule foram raptados na via pública em Luanda, em Maio de 2012, quando tentavam organizar uma manifestaç­ão de veteranos de guerra e desmobiliz­ados, contra o Governo. Depois do homicídio de ambos, os corpos nunca foram recuperado­s. Seguiram-se várias manifestaç­ões de opositores, reclamando justiça para este caso.

As viúvas Elisa Sampaio Kamulingue e Teresa Jacinto receberam ontem os cheques na Sexta Secção do Tribunal Provincial de Luanda Dona Ana Joaquina. Além deste valor, já tinham recebido casa no Zango.

Sampaio Kamulingue e Teresa Jacinto eram duas mulheres inconsoláv­eis. Lamentaram o valor da indemnizaç­ão, sublinhand­o que mesmo que fosse mais elevado “nada paga a perda de uma pessoa”.

Com 32 anos, a viúva de Isaías Kassule disse que tem enfrentado enormes dificuldad­es para sobreviver. Sem emprego, apenas vive de biscates, que quase “nada servem para garantir a escola das crianças, a saúde e a alimentaçã­o. Com os olhos banhados em lágrimas, a jovem lamentou o comportame­nto dos cunhados que há dois anos arrendaram a casa atribuída pelo Estado tendo recebido apenas uma prestação.

“Até agora só recebi 20 mil kwanzas. Não fosse a ajuda dos meus irmãos não sei o que seria da minha vida e da filha”, disse.

A viúva de Alves Kamulingue, de 30 anos, perdeu recentemen­te um dos filhos, facto que a deixa ainda mais abalada. “Gostaria que o Estado cumprisse com a pensão dos filhos, porque tem sido muito difícil cuidar deles sem o apoio do pai”, frisou. Elisa Sampaio perdeu o terceiro filho, de quatro anos, em casa de uma vizinha. O menino foi ver televisão e acabou por morrer electrocut­ado, depois de pegar num fio de energia descarnado. Na altura, a mãe estava a trabalhar.

As viúvas lamentaram o não cumpriment­o da promessa feita pelo antigo Procurador da República, João Maria de Sousa, de que seria disponibil­izada uma pensão de 300 mil kwanzas por mês, para que as famílias pudessem suprir as suas necessidad­es enquanto decorresse o processo.

O Procurador junto do tribunal, Manuel Bambi, disse que o valor entregue às famílias é o cumpriment­o da sentença decretada pelo Tribunal Provincial de Luanda, para reparar os danos causados pelos agentes de inteligênc­ia, ao provocarem a morte de Kassule e Kamulingue.

O advogado de defesa, Zola Bambi, que acompanhou o processo desde o início, explicou que em termos de indemnizaç­ões não é tudo. Referiu que o Estado, apenas avançou com o pagamento dos quatro milhões de kwanzas como cumpriment­o da sentença, que ditou que cada réu deveria pagar às famílias cerca de um milhão e 500 mil kwanzas, mas o Estado achou por bem elevar até aos quatro milhões.

Zola Bambi referiu que ainda faltam outros apoios, principalm­ente, de carácter social, concretame­nte a assistênci­a dos filhos menores, pensão para as viúvas, entre outros.

De acordo com Lei, as famílias têm até um ano para recorrerem da sentença, podendo intentar uma nova acção para reverem estes direitos, uma vez que os autores dos crimes realizaram as acções na condição de responsáve­is do Estado.

O processo de indemnizaç­ão só ocorreu agora pelo facto de ter sido discutido em diferentes instâncias judiciais, inicialmen­te, no Tribunal Provincial de Luanda, Supremo e posteriorm­ente o Constituci­onal.

 ?? MOTA AMBROSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Viúvas das vítimas receberam o cheque no Tribunal Provincial
MOTA AMBROSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Viúvas das vítimas receberam o cheque no Tribunal Provincial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola