Poucas horas de sono podem desencadear acidentes cardiovasculares
Especialista diz que os riscos são maiores para aquelas pessoas que trabalham durante o período nocturno
Mário Domingos tem 42 anos. Chega sempre às 6h00 à cidade, mas não consegue entrar para o escritório da empresa em que trabalha, porque as portas só abrem às 8h00. Vive na Centralidade do Kilamba e, para não ficar preso no engarrafamento, que se regista nas principais vias que ligam à zona Baixa de Luanda, nos dias úteis, é obrigado a abandonar a cama às 4h30.
Faz-se à estrada às 5h00 para chegar cedo ao local de trabalho. Enquanto aguarda pelo horário de entrada, aproveita para dormir mais um pouco na viatura. Vive esta realidade desde que foi morar para aquela zona habitacional, em 2011.
Desde que passou a ter este estilo de vida, o seu rendimento na empresa deixou de ser o mesmo.
“Não sou o mesmo trabalhador de há quatro anos, que às primeiras horas estava cheio de energia e pronto para começar a produzir. Hoje, as poucas horas de sono e o tempo que fico no engarrafamento consomem-me bastante”
Mário Domingos diz que chega à empresa cansado e sem disposição, mas, ainda assim, é obrigado a empenhar-se, porque em seu entender “a empresa não é a culpada por tudo isto”.
Várias outras pessoas, que vivem nas centralidades do Kilamba e do Capari, na província do Bengo, bem como na Urbanização do Km 44, a sudoeste de Luanda, passam pela mesma situação.
Outras pessoas, que não conseguem lidar com esta realidade, preferiram desfazer-se das casas nas centralidades para regressarem aos bairros onde viviam, a fim de ficarem mais próximos dos locais de trabalho e poderem, também, ter mais horas de sono.
É o caso de Engrácia Jacinto, que não viu outra solução senão regressar à procedência, no bairro da Terra Nova, no Distrito Urbano do Rangel. “Eu sou estudante. Por essa razão, era obrigada a levantar-me, algumas vezes, às 03H00 da manhã, para rever matérias e às 04H00 tinha de começar a preparar-me para descer à cidade, onde está o trabalho.
Esta situação começou a afectar o meu rendimento na universidade e no emprego e, além disso, passei a adoecer com mais frequência”, contou, para acrescentar que depois de uma consulta ficou a saber que o motivo das doenças com as quais se debatia tinham origem nas poucas horas de sono e no esforço que fazia, quando ficava várias horas no engarrafamento.
Derrame cerebral
De acordo com o neuropsicólogo angolano, Martinho Luemba, o sono é muito importante para que se tenha uma vida saudável. O médico disse que aqueles que não conseguem dormir durante oito horas, de forma regular, correm sérios riscos de saúde físico e psicológico, a médio ou longo prazo.
Entre os vários problemas de saúde apontados pelo especialista, possíveis de serem enfrentados por aqueles que se encontram nesta condição, o destaque recai para acidentes cardiovasculares (AVC), derrame cerebral, cancro, enfraquecimento do sistema imunológico, emoções descontroladas e um tempo de vida mais curto.
Embora, aparentemente, não se note uma forte relação entre as noites mal dormidas e o cancro, Martinho Luemba declara que vários estudos determinam que pessoas que não dormem bem correm maior risco de desenvolver pólipos colorretais, um indicador de cancro de cólon, que podem tornar-se malignos, com o passar do tempo.
O também docente universitário disse que as pessoas que não conseguem ter as oito horas de sono, correm mais risco de sofrer acidente de carro, devido aos efeitos do cansaço na coordenação ocular.
“Interromper regularmente o sono provoca grandes riscos à saúde. Pode desencadear uma série de doenças, como stress e depressão”, salientou.
O especialista disse que um dos grandes factores que concorre para os acidentes nas estradas de Luanda é provocado por aqueles que não conseguem dormir em condições. Alertou que os riscos são ainda maiores para aqueles que trabalham durante o período nocturno. Martinho Luemba disse que os dias de repouso não compensam as noites perdidas.
Interromper regularmente o sono provoca grandes riscos à saúde. Pode desencadear uma série de doenças, como stress e depressão