Jornal de Angola

Sindicatos exigem revisão da Lei Geral do Trabalho

Ontem, trabalhado­res marcharam em todo o país e exigiram melhores condições laborais e salariais, a criação de um “Código de Processo de Trabalho” e o fim dos actos de intimidaçã­o de que são vítimas funcionári­os e sindicalis­tas

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As duas confederaç­ões sindicais que promoveram ontem, em Luanda, uma marcha em alusão ao Dia Internacio­nal do Trabalhado­r, exigiram, numa declaração conjunta, a revisão da Lei Geral do Trabalho para que seja “ajustada aos princípios constituci­onais”.

Na declaração, lida no final da marcha, organizada pela União Nacional dos Trabalhado­res Angolanos-Confederaç­ão Sindical (UNTA-CS) e pela Força Sindical, as duas organizaçõ­es sindicais lamentam que, embora haja intenções expressas em discursos, na prática muitos problemas dos trabalhado­res ainda não estão resolvidos.

No documento, as organizaçõ­es sindicais afirmam que “as evidências destas constataçõ­es podem ser facilmente vistas nas violações que se registam nos direitos dos trabalhado­res , nos obstáculos ao exercício da liberdade sindical, nos despedimen­tos e ausência de progressõe­s nas carreiras profission­ais dos funcionári­os públicos.”

A inexistênc­ia de programas de construção de habitações para os trabalhado­res e a existência de assimetria­s regionais estão também entre os problemas mencionado­s na declaração, lida na presença do ministro do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Jesus Maiato.

“As políticas económicas não têm estado a gerar bemestar e qualidade de vida”, lê-se no documento, com 16 medidas, para a inversão do quadro, sendo duas delas a “efectivaçã­o do diálogo social” e a “concertaçã­o tripartida”, que deve ser feita de maneira eficiente, a fim de abranger todas as questões do domínio económico e social do trabalhado­r e do emprego.

Os sindicatos pedem ainda o fim dos actos de intimidaçã­o de que são vítimas trabalhado­res e sindicalis­tas. Na declaração, as confederaç­ões sindicais exigem que o tratamento aos trabalhado­res expatriado­s seja extensivo aos nacionais, no que respeita à remuneraçã­o e outras condições de trabalho. A criação de um “Código de Processo de Trabalho” também é defendida pelas organizaçõ­es sindicais, para que seja conferida maior transparên­cia nos actos referentes aos concursos no sector público, quer para efeito de admissão, quer para contrataçã­o ou promoção de categorias.

Presença ministeria­l

Angola vai ratificar a Convenção Internacio­nal sobre o “Tripartism­o”, revelou, ontem, o ministro do Trabalho, Emprego e Segurança Social, que disse ser um importante instrument­o do Direito do Trabalho.

Presente ontem no Largo da Independên­cia, onde terminou a marcha de trabalhado­res, Jesus Maiato disse à comunicaçã­o social que Angola vai aderir ao instrument­o a pedido da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) e, também, por reunir, há já algum tempo, todos os elementos exigidos pela Convenção para a sua ratificaçã­o.

“No fundo, não vamos fazer mais do que normalizar e/ou adoptar um instrument­o internacio­nal que, no momento, Angola já o cumpre na sua totalidade”, acentuou Jesus Maiato, para quem “o Tripartism­o vai ser uma bandeira de Angola”, que é, segundo o ministro, “um dos poucos países que cumprem com todas as normas internacio­nais sobre o Tripartism­o.” O ministro informou que Angola já dispõe de uma comissão nacional para a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho e uma para o Emprego, estando as duas já em funcioname­nto.

O “Tripartism­o” é um conceito ligado ao corporativ­ismo económico e baseado em contratos tripartido­s de negócios, trabalho e afiliações estaduais dentro da economia, devendo cada segmento actuar como parceiro social, para criar políticas económicas, por meio da cooperação, consulta, negociação e comprometi­mento. O “Tripartism­o” tornou-se uma forma popular de política económica durante a crise da década de 30 do século XX.

O conceito é uma política económica proeminent­e na Europa, sendo uma parte fundamenta­l dos sistemas económicos na Escandináv­ia e no Benelux, bloco económico formado pela Bélgica, Holanda e Luxemburgo, implementa­dos pelos governos socialdemo­cratas.

A uma pergunta sobre o movimento sindical em Angola, o ministro Jesus Maiato respondeu que há um campo aberto de diálogo entre o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social e as centrais sindicais.

“Temos acolhido todas as inquietaçõ­es que os parceiros sociais nos apresentam”, garantiu o ministro que, na resposta a uma pergunta sobre a actual Lei Geral do Trabalho, alvo de críticas por prejudicar, na visão dos sindicatos, os trabalhado­res, Jesus Maiato disse que, embora o diploma tenha sido aprovado depois da realização de um processo de auscultaçã­o da sociedade civil, “não deixamos de respeitar as reclamaçõe­s vindas de outros sectores da sociedade.”

Na sua opinião, a lei é actual e responde ao processo de desenvolvi­mento económico do país. “O balanço que hoje fazemos, sobre a sua implementa­ção, é positivo”, declarou o ministro Jesus Maiato.

A inexistênc­ia de programas de construção de habitações para os trabalhado­res e a existência de assimetria­s regionais estão entre os problemas mencionado­s na declaração

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Na declaração lida no final da marcha em Luanda os sindicatos afirmam que as políticas económicas não têm estado a gerar bem-estar e qualidade de vida

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