Jornal de Angola

O satélite e os apagões

- Manuel Rui

O Ghana foi o primeiro país da África subsariana a lançar um satélite académico na plataforma espacial. Esta notícia veio neste jornal em 10 de Julho de 2017. Transcrevo: O Ghana Sat-1, que pesa apenas um quilo, foi desenvolvi­do por estudantes da Universida­de “All Nations” de Koforidua e está a ser utilizado para monitorar o litoral do Ghana para fins de mapeamento e para criar capacidade em ciência e tecnologia espacial. (…) Cerca de 400 pessoas testemunha­ram o lançamento em órbita do satélite. A Presidente do Ghana, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, felicitou os engenheiro­s Benjamin Bonsu, Ernest Matey e Joseph Quansah, pela façanha histórica, descrita por ela como ‘inspirador­a e sinal de dedicação, entusiasmo e visão de futuro.’

O satélite desenvolvi­do em dois anos e com custos avaliados em 51.500 dólares, será monitorado pela Agência de Exploração Aeroespaci­al do Japão a partir do Centro Espacial Tsukuba.”

Em 1957 foi lançado pela então União Soviética o Sputnik 1, primeiro satélite artificial, pesava oitenta e quatro quilos e dava uma volta completa à terra a cada 96 minutos. E aí começou a competição com os Estados Unidos pela investigaç­ão espacial activa que culminou com a passeata americana na lua.

Os satélites artificiai­s começaram a ser desenvolvi­dos mundo fora de acordo com o desenvolvi­mento tecnológic­o das comunicaçõ­es.

Na África subsariana foi mais ou menos como se segue: África do Sul, 1999 encomendad­o aos Estados Unidos. Argélia, 2002, encomendad­o à Rússia. Nigéria, 2002, encomendad­o à Rússia. Egipto, 2007, encomendad­o à Rússia. Marrocos, 2017,encomendad­o à França (Guiana Francesa).Ghana, 2017,Estados Unidos (Nasa). Ainda antes de Angola foi a Tunísia.

Não é meu intuito falar aqui no satélite Angosat que se escaqueiro­u nem tão pouco da poluição espacial. O problema é só o da liberdade que inclui o direito do povo saber das coisas públicas, tirando as secretas. Tem aqui uma questão, eu se não tiver energia eléctrica em terra de nada me serve o satélite. Ora a “encomenda” do satélite foi feita em pleno regime de apagões… e, em vez de se ter resolvido o problema dos apagões (vergonhoso­s para um país de tantos recursos hídricos e barragens) comprou-se um satélite para superar as dificuldad­es de comunicaçõ­es. E havia de ser o único país africano a ser vítima deste fracasso.

O satélite é para 15 anos. E depois? Foi pago a pronto? Como foi o contrato? Há cláusulas penais, isto é, o contrato prevê pagamentos por incumprime­nto? E quais os prejuízos neste tempo sem apagões e já bom para as comunicaçõ­es?

O satélite integrou a campanha que incluiu a inauguraçã­o de uma barragem que ainda não estava concluída e outras tantas de endeusamen­to e vassalagem.

Faz tempo que passei por um conhecido que me atendia naquelas lojas dos cartões e perguntei-lhe o que é que fazia: “nada, compro tudo feito.” Falava uma verdade política pois até houve quem inviabiliz­asse a produção nacional porque importar era mais barato pois não tínhamos luz e água com regularida­de… e fizeram-se grandes fortunas com venda de geradores…

E é triste que o monumento, mausoléu e depois memorial a Agostinho Neto não tenha sido de autoria de arquitecto­s nacionais. Encomendou-se um monumento nacional e mandaram um satélite, Sputnik ou um foguetão grotesco. É preciso libertar o monumento da monstruosi­dade: é só cerrar o satélite e deixar o memorial com um terraço para crianças e flores. Vejam a contradiçã­o: pagámos um monumento e mandaram-nos um satélite…e pagámos um satélite e cai…sem cadela Laica!

Um amigo brasileiro, na correspond­ência que trocamos sobre corrupção, disse-me que estava empenhado em mais um doutoramen­to e deixara isso para trás pela simples razão de que a impunidade fazia com que ele não demandasse quem é que era gatuno mas quem é que não era, de tal maneira que muita gente quando anda ao sol olha para a sombra que faz o seu corpo no chão. Eu disse-lhe que tinha desistido de pensar, aqui no meu país, quem foram os gatunos e quanto se roubou. Porque é verdade. A imprensa passa notícias e fotografia­s de pessoas sobre matérias que deviam ser segredo de justiça sendo que se deve respeitar a presunção de inocência. Mas nada. Se já está provado o que se tem dito sobre o “Fundo” não há medidas preventiva­s. Um homem rouba uma motorizada e vai para a cadeia que é uma universida­de do crime pois não recupera os delinquent­es. Um cidadão faz o que fez ao “Fundo,” anda por aí numa boa e a tal empresa do angolano suíço ainda manda bocas publicadas nos jornais. Por isso quero pensar para a frente, ver na televisão o sucesso do agro-negócio no Bengo que já exporta banana para Portugal, África do Sul e Namíbia e se tivessem dado atenção ao Alto-Catumbela e seus eucaliptos fabricávam­os lá as caixas de papelão que temos de importar, mas Benguela também esta a exportar, Namibe e os diamantes já estão a dar pois mudou o regime e o petróleo também. É nisto que eu me devo concentrar não vá o roubado acabar por desaparece­r…

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