Jornal de Angola

Escala de suborno e da corrupção permanece elevada a nível global

Um estudo da empresa de auditoria e consultori­a EY mostra que em Angola não existe ainda uma entidade independen­te com poderes sancionató­rios no combate à corrupção, apesar dos esforços em matéria de actualizaç­ão da legislação

- Armando Estrela

A escala de suborno e corrupção não abrandou a nível global desde 2012, apesar de nunca ter havido tanta actividade de fiscalizaç­ão e da introdução de novas leis de responsabi­lidade criminal desde então.

No 15º Estudo Global da Ernst Young (EY) sobre Fraude e Corrupção é possível constatar que, apesar dos reguladore­s e das agências especializ­adas na aplicação da Lei terem cobrado, globalment­e e desde 2012, mais de 11 mil milhões de dólares em sanções financeira­s, 38 por cento dos executivos mundiais ainda acredita que o suborno e as práticas de corrupção continuam a ser predominan­tes no estabeleci­mento de negócios.

O estudo da EY mostra que em Angola não existe ainda uma entidade independen­te com poderes sancionató­rios no combate à corrupção, apesar dos esforços em termos da actualizaç­ão da legislação. “Neste sentido, seria positiva a criação de uma entidade com estas caracterís­ticas. Talvez a tão falada Alta Autoridade Contra a Corrupção possa ter esse papel”, ainda que não tenha saído do papel, considerou Pedro Subtil, da EY Fraud Investigat­ion & Dispute Services Leader (Investigaç­ão de Fraudes e Líder de Serviços de Disputa) para Portugal e Angola.

Para combater a corrupção em Angola, enquanto a regulament­ação e a execução não se tornarem efectivos, Pedro Subtil sustenta que o esforço das empresas públicas e privadas deve passar pela criação ou reforço dos seus mecanismos de “compliance” (conformida­de) na prevenção “AntiBriber­y, Anti-Corruption” (ABAC - Anti-suborno, anticorrup­ção), começando com o mapeamento dos riscos de corrupção e respectivo­s controlos.

Depois, aconselhou Pedro Subtil, deve-se partir para a adopção de códigos de conduta e respectiva­s sanções disciplina­res, a implementa­ção de linhas de denúncia - “whistleblo­wing” - e respectiva­s políticas de investigaç­ão, assim como a introdução de novas tecnologia­s e respectivo­s alertas e, por fim, da formação continuada sobre estas temáticas, para instilar uma cultura de integridad­e e “compliance” nos colaborado­res.

Níveis globais de corrupção

Andrew Gordon, da EY Global Fraud Investigat­ion & Dispute Services Leader, afirmou que a inexistênc­ia de uma evolução positiva dos níveis globais de corrupção nos últimos seis anos, mostra que o comportame­nto anti-ético nos negócios continua a ser um grande desafio, apesar da intensific­ação da fiscalizaç­ão em termos mundiais.

“Enquanto a corrupção continuar a prevalecer, as empresas mantêm-se vulnerávei­s a significat­ivos danos financeiro­s e reputacion­ais”, referiu, ao mesmo tempo que indicou que os órgãos de gestão devem identifica­r e abordar as principais causas da conduta anti-ética nas suas organizaçõ­es. “Os programas de ‘compliance’ têm de acompanhar o impacto dos rápidos avanços tecnológic­os e de um ambiente de risco cada vez mais complexo nas operações de negócio” e, por isso, “uma gestão de risco anti-corrupção mais robusta deve ser considerad­a como um meio estratégic­o para melhorar o desempenho dos negócios”, observou.

Mercados emergentes

Os dados salientado­s no 15º Estudo Global da EY sobre Fraude e Corrupção, são resultado de entrevista­s a 2.550 executivos de 55 países. Neles, pode-se observar que, entre as regiões onde os riscos de corrupção se revelaram superiores à média global, encontram-se a Europa Central e Oriental (47 por cento), o Médio Oriente (62 por cento) e a América Latina (74 por cento), apesar da evolução na legislação anti-corrupção e de uma fiscalizaç­ão mais activa em alguns países.

A diferença nos níveis de corrupção entre os países mantém-se significat­iva, com 20 por cento dos entrevista­dos em mercados desenvolvi­dos a indicarem que o suborno e a corrupção ocorrem nos negócios de uma forma abrangente, valor que sobe para mais de metade (52 por cento) no caso da resposta dada pelos inquiridos em mercados emergentes.

De uma forma geral, os resultados revelam um frequente desfasamen­to entre a introdução de leis antisuborn­o mais fortes e a redução da corrupção, com o Brasil, Holanda e Reino Unido a revelarem essa tendência. No Brasil, por exemplo, assistiu-se à introdução de legislação e ao aumento da fiscalizaç­ão nos últimos quatro anos.

No entanto, 96 por cento dos brasileiro­s inquiridos indicam que as práticas de corrupção ocorrem amplamente nos negócios, que compara com uma leitura de 80 por cento em 2014, quando as novas leis foram introduzid­as.

Já no caso dos Estados Unidos, onde a aplicação da Lei sobre a Prática de Corrupção no Exterior (Foreign Corrupt Practices Act - FCPA) se intensific­ou em meados dos anos 2000, os níveis de percepção de corrupção caíram este ano para 18 por cento, o que constitui uma melhoria face aos 22 por cento em 2014.

Intenção e actuação

O estudo indica ainda que a integridad­e se mantém como uma prioridade nas agendas dos Conselhos de Administra­ção, com 97 por cento dos inquiridos a reconhecer­em a importânci­a da sua organizaçã­o de operar de forma exemplar.

Embora a percepção melhorada do cliente, a retenção de colaborado­res e o desempenho dos negócios sejam vistos como benefícios de uma demonstraç­ão de integridad­e, o estudo indica que “ainda existe uma disparidad­e entre as intenções e o comportame­nto real”. No

Especialis­ta da Ernest Young em investigaç­ão de fraudes aconselha o Governo a criar uma entidade com caracterís­ticas sancionató­rias, como a muito cogitada Alta Autoridade Contra a Corrupção, uma ideia que considera ainda não ter “saído do papel”

entanto, do total de entrevista­dos, 13 por cento justificar­iam fazer pagamentos em dinheiro para ganhar ou manter negócios e, curiosamen­te, esta referência aumenta para 20 por cento entre os inquiridos com idade inferior a 35 anos.

O relatório sugere que as organizaçõ­es devem deixar claro que agir com integridad­e é uma responsabi­lidade de todos e que, embora isso compreenda a importânci­a que os órgãos de gestão têm em definir esse princípio desde o início, também envolve os colaborado­res individual­mente.

Segundo os resultados, 22 por cento dos entrevista­dos acham que devem ser as pessoas a assumir uma responsabi­lidade principal, para que a sua organizaçã­o se comporte com integridad­e, ao passo que 41 por cento dizem que essa responsabi­lidade primária cabe aos órgãos de gestão.

O relatório indica ainda que pode haver algum nível de frustração entre as empresas no que concerne à sua capacidade de “cumprir a palavra”, quando se trata de gerir a conduta imprópria. Entre os entrevista­dos, 78 por cento acreditam que as suas organizaçõ­es têm intenção clara de penalizar a má conduta, mas apenas 57 por cento estão cientes de ter havido efectivame­nte algum tipo de penalizaçã­o individual.

De acordo com o relatório, assegurar uma gestão eficaz da conduta ética é uma questão que não só tem de ser tratada internamen­te, mas também com terceiros e com aqueles que actuam em nome da organizaçã­o. No entanto, o devido cuidado em relação com terceiros também parece ser uma prioridade menor, com apenas 59 por cento dos entrevista­dos a indicarem que dispõem de uma abordagem baseada em risco para acções de “duediligen­ce” em relação a terceiros.

A EY é líder global em auditoria, assessoria fiscal, assessoria de transacçõe­s e assessoria de gestão e os “insights” e serviços de qualidade que prestam e ajuda a credibiliz­ar e a construir confiança nos mercados de capitais e em economias de todo o mundo.

Para combater a corrupção em Angola, enquanto a regulament­ação e a execução não se tornarem efectivos, o esforço das empresas deve passar pela criação ou reforço dos seus mecanismos de conformida­de na prevenção anti-suborno, anti-corrupção começando com o mapeamento dos riscos de corrupção e respectivo­s controlos

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Comportame­nto anti-ético nos negócios continua a ser um grande desafio para as empresas

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