Jornal de Angola

“Não há democracia sem imprensa plural”

“O Sindicato dos Jornalista­s tem dois eixos de luta: o pão e a liberdade” Na sua primeira entrevista ao Jornal de Angola, Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA), fala do actual momento por que passa o jornalismo an

- Nhuca Júnior

O secretário-geral do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos, Teixeira Cândido, assume o Acordo Colectivo de Trabalho como um dos grandes desafios da instituiçã­o. Por outro lado, defende, quando avalia a abertura que se regista na comunicaçã­o social pública, que “não há democracia sem imprensa plural, no sentido de existência de vários órgãos e neles a diversidad­e de opinião...”.

Não podemos continuar a ver jornalista­s cujos familiares não são capazes de os enterrar. Gostaria de nunca mais ver jornalista­s morrerem por indigência. Ter um salário de quarenta e cinco mil kwanzas, sem casa e carro próprio, se não for indigente, é vizinho disso”

Por que razão entrou no movimento sindical? Não posso dizer que seja uma vocação inata, mas desde muito cedo me senti na obrigação de falar pelos outros, de tal sorte que fui delegado de turma desde a terceira classe até à nona, em diferentes escolas, em Malanje e Luanda. Nunca convivi bem com a injustiça, em casa ou noutro lugar qualquer. É difícil ser sindicalis­ta em Angola, ainda mais quando se é dirigente vinculado, como trabalhado­r, a uma empresa pública, como é o seu caso? Já foi mais difícil. Os colegas que me antecedera­m tiveram maiores dificuldad­es. Se tiver acesso a exemplares do Jornal

de Angola referentes a edições de 1992, entre Fevereiro e Março, há-de ver as dificuldad­es por que passou a direcção liderada por Avelino Miguel. Aproveito, por isso, para os homenagear. A ele como a todos os outros jornalista­s corajosos, que, contra tudo e todos, decidiram constituir o Sindicato dos Jornalista­s Angolanos, orgulhosam­ente a primeira associação sindical nascida no país depois do multiparti­darismo. Mas deixe-me dizer que ainda continua a ser complicado ser sindicalis­ta. E o nosso sindicato, por azar, sempre foi combatido. Nunca quiseram a sua existência. Muitos colegas nossos que assumiram a gestão das empresas sempre quiseram ver o sindicato pelas costas, de tal sorte que só há um mês conseguimo­s a primeira sede de um núcleo, dentro de uma empresa de comunicaçã­o, quando a Lei Sindical estabelece que as empresas devem criar condições dentro delas para que os trabalhado­res possam materializ­ar o direito sindical. Ainda há muita resistênci­a? O certo é que assistimos a muita resistênci­a. Retomámos com os novos administra­dores essa mesma abordagem, na expectativ­a de que, finalmente, os núcleos sindicais possam ter espaço de trabalho dentro das empresas, conforme estabelece a lei. Enquanto trabalhado­r, tento respeitar os espaços de cada actividade. Infelizmen­te, temos de conviver com essa realidade, quando o desejável era estar mesmo fora das empresas. Mas também não incomoda nada trabalhar assim. Conhece perfeitame­nte os problemas e desafios do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos por ter pertencido à direcção anterior, tendo, por esta razão, adquirido e acumulado experiênci­a como sindicalis­ta. A experiênci­a adquirida é que lhe deu confiança bastante para apresentar a sua candidatur­a? Sim, de outro modo seria uma aventura. Deixe-me precisar que estou na direcção do Sindicato desde 2004, primeiro, como porta-voz, depois, como auxiliar da Luísa Rogério e, hoje, na condição de secretário-geral. Foi necessário esse percurso. Aliás, é tradiciona­l nos sindicatos. Felizmente, os colegas deram-me essa oportunida­de e estamos a tentar colocar mais uma pedra neste edifício. Temos bem presentes os problemas das empresas de comunicaçã­o. Enfrentamo­s hoje uma realidade muito agressiva socialment­e. As empresas públicas são insustentá­veis, por culpa alheia aos jornalista­s, porque nunca fomos tidos nem achados na gestão das empresas. As empresas privadas gritam pelos cantos com as dificuldad­es financeira­s, pagando miseravelm­ente aos seus profission­ais. Essa é, em síntese, a realidade da comunicaçã­o social. Não sendo novidade para ninguém o facto de as posições defendidas por sindicalis­tas não serem, às vezes, do agrado de quem nos governa ou de entidades empregador­as, estava mesmo assim decidido a entrar na “guerra sindical”? Apesar de todos os constrangi­mentos políticos que vivemos, nunca me inibi de ser sindicalis­ta. Não quero transmitir a ideia de herói ou coisa próxima, mas alguém tinha de o fazer, assim como o fizeram muitos colegas nossos que nos antecedera­m. É verdade que foram ostracizad­os, com as portas todas fechadas, a viverem graças a colaboraçõ­es em órgãos estrangeir­os, porque, internamen­te, ninguém quis - ou querem, não sei - saber deles. Mesmo assim, não me vejo a parar um dia para contabiliz­ar os estragos pessoais dessa minha decisão. Como fazer uma “guerra sindical” com inteligênc­ia no actual contexto do país, onde o poder de compra dos trabalhado­res diminui face à perda dos salários reais? Estamos a ler o contexto, para vermos como podemos actuar. A nossa opinião preliminar é que não existem condições para quaisquer medidas de saneamento nas empresas públicas. Não existe mercado para as pessoas que vão ser despedidas, conforme orientação. Não há mercado para essas pessoas. Seria matar literalmen­te as pessoas. Se já “morremos” em face do que as empresas nos pagam hoje, imagine o que será se formos empurrados para o desemprego. A comunicaçã­o social é apenas Luanda. Não há mais. Não foi persuadido a desistir, por amigos e familiares, da ideia de ser secretário-geral da organizaçã­o sindical de uma classe profission­al muito propensa a intrigas e desunida? Não consultei os familiares. A minha mulher não colocou directamen­te qualquer objecção, os meus amigos também não. Quanto à intriga, sempre interessou ao poder político essa desunião. Não fomos nós que a criámos. A questão da imprensa privada, conotada com o imperialis­mo ou com a oposição, e a pública, considerad­a como estando sempre ao serviço do interesse nacional, patriotism­o e tudo o resto, não foi nosso produto. “Comprámos” esse produto e começámo-nos a “intoxicar”, acabando por criar essas alas, que, felizmente, vão reduzindo cada vez mais. A classe jornalísti­ca é ou não, para si, propensa a intrigas? Não acho que seja propensa a intrigas. Não acredito numa predisposi­ção inata para isso. Admito que sejamos vítimas da pobreza material que nos assola. Veja como corremos todos a cargos de adido de imprensa. Por outro lado, o jornalismo sempre foi uma profissão de intelectua­is. Hoje, infelizmen­te, há muita confusão, alguma dela provocada pelo poder, que nos queria sempre controlar e condiciona­r. Muitos jornalista­s nunca o foram, sempre estiveram ao serviço de outros interesses. Até ao ano passado, houve, de forma velada, a disseminaç­ão de uma ideia, construída não sei lá por quem, destinada a descredibi­lizar o trabalho da imprensa privada, à qual foram dados certos epítetos, como pasquins, uma referência aos semanários que eram acentuadam­ente críticos à governação. Em algum momento da sua vida sindical sentiu que o Governo conseguiu instrument­alizar jornalista­s dos órgãos públicos de comunicaçã­o social, em torno de uma estratégia de divisão da classe? Essa pergunta dispensa filosofar. Sim, conseguiu em parte. Quando quis mais, acabou com os jornais de referência. Leiam o que disse Graça Campos numa entrevista feita por nós [Dani Costa e eu] no semanário “O País”. Ele disse claramente que havia um banco que tinha pago quase um ano de publicidad­e, mas que foi depois obrigado a retirar a sua publicidad­e no jornal, mesmo já tendo pago. Este banco era o BPC, segundo Graça Campos. Precisamos de mais? Não se pode criticar o MPLA por ter criado comités de especialid­ade. Porém, a crítica pode, sim, ser feita em relação à criação do Comité de Especialid­ade de Jornalista­s, cuja existência, acredito, não é perfilhada por quem defende o cumpriment­o integral da ética e da deontologi­a profission­al, que pode ficar comprometi­do no exercício da actividade profission­al. Quero ouvir o seu comentário. Não conheço exemplo igual em países democrátic­os. Segundo, é totalmente incompatív­el com os princípios da imparciali­dade, por isso, acho um absurdo. Teixeira Cândido dá sempre ênfase à necessidad­e de melhoria das condições sociais dos jornalista­s, tendo inclusive feito do assunto a sua “bandeira eleitoral”. Que legado quer deixar à classe jornalísti­ca? Estamos a lutar com todas as forças para não permitir arbitrarie­dade na atribuição dos salários conforme foi. Não podemos admitir que os jornalista­s fiquem numa categoria por dez ou quinze anos e a única promoção que conhecem é ser editor, chefe de secção ou de departamen­to, isso se lá chegarem. Não podemos continuar a ver jornalista­s cujos familiares não são capazes de os enterrar, como aconteceu há poucos dias. Uma realidade, aliás, recorrente. Por vergonha, não vou citar os casos. Mantém-se a luta em prol do Acordo Colectivo de trabalho? É a única garantia que temos para evitar que o director ou presidente do Conselho de Administra­ção atribua o salário de acordo com o seu estado de ânimo. O que muda na vida dos jornalista­s havendo Acordo Colectivo de Trabalho? Primeiro, um salário pré-definido. Segundo, certeza jurídica relativame­nte ao seu vínculo laboral e à sua remuneraçã­o. Ou seja, o director ou administra­dor não vai despedir segundo os seus caprichos. Depois, deixa de haver a discrimina­ção salarial que assistimos hoje nos órgãos de comunicaçã­o social. Na mesma empresa, há editores que exercem as mesmas funções e a mesma carga horária, mas com salário diferente. Por quê? Ah, foi o director ou PCA que decidiu assim, como gostam de nos responder os reponsávei­s dos Recursos Humanos.

Qual é o entendimen­to da nova direcção do Ministério da Comunicaçã­o Social relativame­nte ao Acordo Colectivo de Trabalho? Tivemos uma primeira reunião com o ministro da Comunicaçã­o Social. Como era expectável, ele entende ser uma matéria da responsabi­lidade dos trabalhado­res e das empresas. Portanto, não vê qualquer objecção. No seu entender, como pode ser celebrado o Acordo Colectivo de Trabalho nos órgãos privados de comunicaçã­o social, quando se sabe estarem a viver problemas de tesouraria? Este é o nosso maior desafio, neste âmbito. Estamos a tentar apelar ao Estado para que regulament­e de uma vez por todas a lei dos incentivos ou benefícios fiscais. É urgente salvar as empresas, assim como se tem feito com outros sectores da vida social. Não há democracia sem imprensa plural, no sentido de existência de vários órgãos, e neles diversidad­e de opinião sobre o mesmo assunto ou matérias diversas. A consolidaç­ão da democracia e do Estado de Direito passa pela contínua salvaguard­a dos direitos fundamenta­is dos cidadãos, sendo um deles o direito à informação, que deve ser plural. Estamos no bom caminho? Não. Só temos imprensa plural em Luanda e em mais cinco províncias. Temos treze províncias que dependem apenas da Rádio Nacional de Angola há 42 anos. Somos em Luanda próximo de sete milhões de habitantes. Se todos quiséssemo­s ler o Jornal de Angola, não havia exemplares que chegassem. Mesmo que juntássemo­s todos os outros que são publicados em Luanda, não conseguíam­os. Além disso, somos dos poucos países na África Austral que não tem rádios comunitári­as. Como podemos levar informação às pessoas que se comunicam nas línguas locais? O que se passa na Baixa de Cassanje, alguém sabe? Luanda não nos pode iludir. O desenvolvi­mento deve ser universal ou pelo menos estar ao alcance de todos. Quais são as particular­idades do movimento sindical em Angola? É crescente e vibrante. Mas ainda enfrentamo­s problemas de estruturaç­ão, de competênci­as técnicas e, mais importante do que isso, de consciênci­a e recursos financeiro­s. O Sindicato dos Jornalista­s Angolanos tem à sua disposição um colectivo de advogados para intervir em defesa dos associados submetidos ao contencios­o laboral? Temos contado com o patrocínio de alguns amigos do Sindicato, por um lado, e, por outro, já temos advogados entre membros do Sindicato. Quando é necessário, recorremos a estes. Gostaríamo­s de ter acordo com especialis­tas em Direito Penal, para os delitos criminais. Com um pouco mais de empenho da nossa parte, podemos vir a ter num curto prazo. Conhecem-se poucos casos de contencios­o laboral favoráveis aos jornalista­s, que são quase sempre o elo mais fraco, como se as leis trabalhist­as existissem para prejudicar­em os trabalhado­res. Qual tem sido a intervençã­o do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos para a inversão deste quadro? Pelo contrário, quase todas as empresas têm perdido as causas contra os jornalista­s. Temos sido incansávei­s nesta questão. Ou seja, acudindo muitos problemas. Os colegas podem testemunha­r. O nosso caminho é reforçar as competênci­as técnicas dos delegados sindicais. Temos em carteira formação sobre isso. É que o nosso sindicato tem dois eixos de luta: o pão e a liberdade. Ou seja, lutamos por melhores condições sociais e, ao mesmo tempo, por liberdade. É que a liberdade de imprensa é estruturan­te para a existência da nossa profissão. Sem liberdade de imprensa não tens empresas, sem empresas não tens jornalista­s. Já alguma vez o Sindicato pensou em responsabi­lizar civil e criminalme­nte alguma entidade empregador­a, pública ou privada? Nunca nos faltou vontade, porém privilegia­mos muito o diálogo. Podíamos intentar uma acção contra as entidades empregador­as que se recusam simplesmen­te a nos conceder espaço para instalarmo­s os nossos núcleos. Podíamos invocar obstáculo à liberdade sindical, mas, pacienteme­nte, apostamos muito no diálogo. Conhecemos o valor do diálogo. É uma das nossas principais armas. No período anterior à governação do actual Presidente da República, o Ministério da Comunicaçã­o Social, na voz de dois antigos ministros, anunciou apoio à imprensa privada, que, além de nunca ter sido dado, nunca ficou definido. Qual é a visão da actual direcção do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos sobre esta matéria? Nunca houve vontade política para materializ­ar a lei. A primeira Lei de Imprensa data de 1991 e já previa incentivos à comunicaçã­o social, corolário de um mandato constituci­onal que impõe ao Estado a obrigação de fomentar a pluralidad­e e diversidad­e de imprensa. O Governo sempre viveu feliz apenas com os órgãos públicos. Além da promessa verbal, constavam da legislação de 1991 incentivos à comunicaçã­o social privada, assim como na lei de 2006, que nunca chegou a ser regulament­ada. O “deixa andar” das autoridade­s não pode ser resultante da inércia das organizaçõ­es da classe jornalísti­ca que nunca fizeram o seu verdadeiro papel como instrument­o de pressão? Não faltou pressão. O regime era muito fechado. Não houve vontade para materializ­ar essa disposição da Lei de Imprensa. O Sindicato dos Jornalista­s Angolanos tem insistido na descrimina­lização dos jornalista­s, por considerar que a criminaliz­ação é uma acção que inibe a própria liberdade de imprensa no país. De que forma a organizaçã­o sindical pretende continuar a insistir até que a reclamação seja atendida? O Sindicato vai continuar a apelar à descrimina­lização da actividade jornalísti­ca, porque a criminaliz­ação é um pensamento do século XIX, quando as monarquias, assustadas com a força da imprensa, tentaram de todo o modo controlar a liberdade de imprensa. Não tenhamos dúvidas de que os Estados Unidos da América têm a imprensa de maior referência e não criminaliz­am a actividade jornalísti­ca, assim como a África do Sul. E por que não Angola? O problema é que os maiores queixosos são os gestores públicos. Se internamen­te a vossa posição continuar a não ser atendida, é possível o recurso a uma instância internacio­nal ou regional, a julgar pelos compromiss­os assumidos por Angola no âmbito da SADC? A SADC? É uma organizaçã­o que está a gatinhar. Tem feito pouco por isso. A União Africana tem recomendad­o aos Estados-Membros a descrimina­lização da actividade de imprensa. Um responsáve­l pelos Direitos Humanos, na visita que efectuou recentemen­te a Angola, fez o mesmo apelo. Infelizmen­te, parece que vivemos num “Estado de Polícia”. Por outro lado, há especialis­tas em Direito que sentem prazer em ver os jornalista­s em tribunal. São de uma escola conservado­ra e não conseguem pensar para além do que Portugal ensina. Nunca lhe ocorreu abdicar do salário para exercer a actividade sindical com equidistân­cia e independên­cia? Nunca, porque desempenho a minha função com total independên­cia, garanto-lhe. Se um dia fosse algum problema para mim, teria de duas uma decisão: ou deixaria o Sindicato e ficaria sossegado com o meu salário ou deixaria a empresa e iria encontrar qualquer solução. Mas nunca fui obrigado a tal. A sociedade aberta que respiramos é a que sempre sonhou para o exercício pleno do jornalismo? Já podemos considerar a nossa sociedade como aberta? São apenas alguns meses. Temos pela frente uma auto-estrada. É um facto digno de registo a subida de Angola no índice de 2018 sobre a liberdade de imprensa? Se olharmos para a posição em que nos encontramo­s (121), não é. Se quisermos assinalar a evolução, podemos dizer que é sempre melhor do que descer. Há duas situações que contribuír­am para isso: o reposicion­amento dos órgãos públicos e a maior predisposi­ção das entidades oficiais para comunicare­m o que fazem. Mas, para atingirmos o mínimo desejável, o caminho ainda é longo. Há mesmo jornalista­s que vivem na indigência? Caso haja, vive, por esta razão, um sofrimento emocional, enquanto sindicalis­ta? Não imagine quantos. Ter um salário de quarenta e cinco mil kwanzas, sem casa e carro próprio, se não for indigente, é vizinho disso. Sem dúvidas, não deixa descansado ninguém. Como podemos viver tranquilos quando os teus próximos enfrentam mil e umas dificuldad­es sociais? Quem não sente isso, é de outro mundo.

“Infelizmen­te, parece que vivemos num “Estado de Polícia”. Há especialis­tas em Direito que sentem prazer em ver os jornalista­s em tribunal. São de uma escola conservado­ra e não conseguem pensar para além do que Portugal ensina”

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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