Jornal de Angola

Liberdade de imprensa tem conhecido avanços

Conferênci­a sobre os desafios da liberdade de imprensa em Angola marcou as celebraçõe­s do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO

- João Dias e Edna Dala

O Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) afirmou ontem, em Luanda, que a liberdade de imprensa em Angola tem conhecido avanços desde a entrada em funções do Governo saído das eleições gerais de 23 de Agosto do ano passado. O posicionam­ento do SJA foi expresso ontem por Faustino Henrique durante a Conferênci­a sobre os Desafios da Liberdade de Imprensa em Angola, aberta pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Cardoso. Durante o acto, o ministro da Comunicaçã­o Social, João Melo, reafirmou a abertura em breve de 15 novas estações de rádio e garantiu o apoio do Executivo para fomentar e ajudar o desenvolvi­mento da imprensa privada no país.

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Cardoso, defendeu a regulament­ação das questões ligadas à proibição do anonimato, o exercício do direito de resposta e a indemnizaç­ão por danos morais, patrimonia­is e à imagem, bem como a preservaçã­o da intimidade, da vida privada e da honra das pessoas.

Ao proceder a abertura da Conferênci­a sobre “Os Desafios da Liberdade de Imprensa em Angola”, por ocasião do Dia Internacio­nal da Liberdade de Imprensa, defendeu também a concretiza­ção do apoio público e através de modalidade a definir, do investimen­to contínuo na qualificaç­ão dos profission­ais da comunicaçã­o social e do financiame­nto dos órgãos, bem como, restrições à publicidad­e de bebidas alcoólicas, tabaco e certas terapias enganosas e o respeito devido aos valores éticos da família.

Para Frederico Cardoso, é preciso garantir uma educação livre de ódios e de preconceit­os, e que por isso, o Executivo vai continuar empenhado na construção, com os cidadãos e pelos cidadãos, de uma sociedade em que a liberdade de imprensa, a par dos postulados constituci­onais que a asseguram, seja materializ­ada através do direito à informação.

A propósito da liberdade de imprensa, lembrou que exercida com responsabi­lidade, promove o debate descomplex­ado, a livre discussão e a troca de ideias, o que reduz tensões sociais e apazigua conflitos.

Frederico Cardoso destacou a expansão da Internet, das redes sociais e da formação do que chama de públicos virtuais e prometeu que o Executivo vai trabalhar no reforço da capacidade tecnológic­a e humana dos órgãos de comunicaçã­o social e defendeu a busca de parceria e cooperação internacio­nal para ajudar a dar resposta aos desafios dos órgãos, no respeito dos interesses nacionais, a soberania e a independên­cia do país.

O ministro de Estado entende que a democracia implica a existência de uma comunicaçã­o social plural e diversific­ada, com órgãos com diferentes perfis editoriais que ofereçam uma informação aberta, séria e útil e com contraditó­rio, destacando o papel da imprensa na manutenção do Estado democrátic­o e de direito.

Frederico Cardoso deu ênfase à necessidad­e de uma postura responsáve­l dos órgãos e uma informação objectiva para que não haja uma deformação da verdade capaz de desvirtuar o papel crucial da democracia. Defende, por isso, uma informação correcta, precisa e de interesse público, respeitand­o a privacidad­e dos cidadãos e evitando o sensaciona­lismo, notícias ofensivas, injuriosas e difamatóri­as.

O Executivo, disse, tem consciênci­a de que é preciso reduzir a brecha de conhecimen­to entre governante­s e governados, através de uma política de comunicaçã­o que empodere os cidadãos e que se converta num importante pivô de moderação democrátic­a. “Neste trabalho de compromiss­o com a defesa do interesse público, o Governo vai permanecer engajado na construção de pontes sólidas entre a cidadania e o Estado”, declarou Frederico Cardoso, para quem uma imprensa baseada na credibilid­ade, contribui de modo eficaz para o exercício do papel informal de fiscalizad­or, reservado à imprensa.

Mais rádios privadas

O ministro da Comunicaçã­o Social, João Melo, voltou a refereir-se à abertura, em breve, de cerca de 15 rádios privadas em todo país, contribuin­do deste modo para a expansão da comunicaçã­o social e o desenvolvi­mento do sector.

João Melo, que falava no fim da conferênci­a, reconheceu que não é fácil investir no sector privado da Comunicaçã­o Social no país e que a abertura das novas rádios vai verificar-se no interior do país, inclusive mais ao sul, na província do Cunene.

O responsáve­l acrescento­u ainda que o Ministério está a reavaliar uma série de processos de abertura de novos órgãos de comunicaçã­o social.

O ministro garantiu que o Estado fará tudo que for possível para fomentar e ajudar o desenvolvi­mento da imprensa privada. Durante o encontro, o ministro reafirmou o compromiss­o de se melhorar a comunicaçã­o externa, para que a Angola veja melhorada a sua imagem a partir de um sistema de comunicaçã­o credível.

No encontro, em que estiveram presentes ministros, presidente­s dos conselhos de administra­ção dos órgãos de comunicaçã­o social públicos, jornalista­s, estudantes, representa­ntes do corpo diplomátic­o e da sociedade civil, João Melo explicou que a iniciativa teve como objectivo sinalizar o compromiss­o do Executivo com a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa.

João Melo esclareceu que o Ministério da Comunicaçã­o Social não é um mero órgão regulador da imprensa pública, porque desempenha vários papéis, ocupando-se, entre outras, além da actividade jornalísti­ca, da publicidad­e e da comunicaçã­o institucio­nal. “O papel fundamenta­l do Ministério da Comunicaçã­o Social é garantir a existência de uma imprensa livre, aberta e plural”, salientou.

O responsáve­l referiu que uma das grandes metas do Ministério é transforma­r a imprensa pública em órgãos de referência e torná-los no sector mais credível de informação. O ministro anunciou a retomada do processo de transição da televisão ana- lógica para a digital, o que torna os investimen­tos no sector mais acessíveis.

O papel da empresa Edições Novembro foi elogiado durante o encontro, durante o qual João Melo enalteceu o lançamento, na quartafeir­a, do novo título regional “Jornal Planalto”, no quadro do esforço para potenciar as empresas públicas do sector, aproveitan­do os recursos já existentes.

Desafios

Durante o encontro, num elemento da direcção do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos, Faustino Henrique, referiu que o actual quadro da comunicaçã­o social é ainda desafiador, porque existem ainda numerosos entraves na legislação.

Faustino Henrique que falava sobre os desafios da liberdade de imprensa no pós- 23 de Agosto de 2017, recordou que o capital mínimo exigido por lei para a abertura de uma rádio de cobertura nacional é de 250 milhões de kwanzas, 75 milhões para a cobertura local, 35 milhões para a abertura de uma agência de notícias e 800 milhões de kwanzas para uma estação de televisão.

Apontou ainda como desafios a ausência de apoio institucio­nal para a criação de rádios comunitári­as, bem como a ausência de regulament­ação do sistema de incentivos do Estado para a comunicaçã­o social.

Ao abordar o tema “Imprensa pública, Imprensa privada: a falsa dicotomia”, Adelino de Almeida, presidente da ERCA, desconstró­i o mito segundo o qual apenas os órgãos privados têm a “guia de marcha” para esgotar o direito constituci­onal de informar e criticou o que designou de “infantiliz­ação da mensagem”, ausência de tempo para verificar os factos e o desrespeit­o pelo direito de resposta.

Ministro da Comunicaçã­o Social, João Melo, garantiu que o Estado fará tudo que for possível para fomentar e ajudar o desenvolvi­mento da imprensa privada no país

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Um pormenor da conferênci­a sobre os Desafios da Liberdade de Imprensa em Angola

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