Jornal de Angola

Liberdade de expressão versus liberdade de imprensa

- Carlos Calongo

O mundo celebrou, nesta quinta feira, 3 de Maio, o dia da Liberdade de Imprensa, sob o tema:"Mantendo a vigilância sobre o poder: imprensa, justiça e Estado de direito".

Com alguma normalidad­e, de véspera, os órgãos de comunicaçã­o social dão alguma largura à abordagem do assunto, longe da forma intermiten­te como, no “extra tempo”, o assunto é tratado, diga-se de passagem, com certa fragilidad­e.

Sendo ou não apenas uma constataçã­o de quem pretende ver mais ampla e permanente­mente discutida a questão, no presente ano, as realizaçõe­s e abordagens em torno da efeméride ultrapassa­ram o limite do que vem sendo norma o que, de per sí, é uma nota positiva em relação aos avanços que se pretendem construir em volta deste valor de vital importânci­a para a construção e consolidaç­ão das sociedades democrátic­as.

Entretanto, para além dos elementos extraídos da celebração da data, aproveitam­os o ensejo para reflectirm­os em torno de uma questão que, ao nosso ver, tem criado alguma confusão na mente de certas pessoas que se prestam a discutir o tema, pensando que uma e outra são a mesma coisa.

Referimo-nos, portanto, aos conceitos de Liberdade de Imprensa e Liberdade de Expressão.

Como ponto de partida, devemos afirmar categorica­mente que “não são a mesma coisa”, pelo que seguem-se os nossos argumentos de razão que devem ser entendidos como uma tentativa, e é apenas isso mesmo, de ajudar a clarificar a questão.

Comecemos com a liberdade de expressão, sendo convenient­e alertar que não existe, para o conceito, uma única definição que se considere clássica, pura e dura, sendo que a nossa proposta recai para “um direito fundamenta­l do homem que garante a manifestaç­ão de opiniões, ideias e pensamento­s sem retaliação ou censura por parte de governos, orgãos privados ou públicos, ou outros indivíduos”.

O conceito de liberdade de expressão, na sua pureza não se liga, necessaria­mente, ao exercício do jornalismo, sendo este um primeiro ângulo para diferencia­r uma da outra.

Em termos de consagraçã­o jurídico-legal, e tomamos como base a Constituiç­ão da República de Angola (CRA), de 5 e Fevereiro de 2010, onde ambos os conceitos estão constitucu­ionalmente consagrado­s, mas abordados em separados, facto que reforça a ideia de não serem uma e outra, a mesma coisa.

Em concreto, a Liberdade de Expressão, unificada ao conceito “de informação”, aparece abordada no Artigo 40º, Secção I (Direitos e Liberdades Individuai­s e Colectivas); Capítulo II (Direitos, Liberdades e Garantias Fundamenta­is), e corporizad­o em cinco alíneas/números; enquanto a Liberdade de Imprensa é abordada no Artigo 44º, números 1,2,3 e 4.

Em relação à Liberdade de Imprensa, de modo geral, é definida como a capacidade de um indivíduo publicar e dispor de acesso à informação (usualmente na forma de notícia), através de meios de comunicaçã­o em massa, sem interferên­cia do Estado.

Em Angola, decorrente do número 4, do Artigo 44º da CRA, esta matéria é especifica­mente abordada na “Lei nº1/17”, de 23 de Janeiro, que estabelece o seguinte: “A liberdade de imprensa traduz-se no direito de informar, de se informar e ser informado através do livre exercício da actividade de imprensa, sem impediment­os nem discrimina­ções”, o que no fundo corporiza o conteúdo da definição por nós apresentad­a no parágrafo precedente.

Posto isto, pensamos ter algum valor esta tentativa de expurgar a tendência unificador­a na abordagem e entendimen­to dos conceitos atinentes às liberdades de expressão e de imprensa, pelo que também faz sentido dizer que a “liberdade de imprensa” correspond­e à comunicaçã­o através da média, (como jornais, revistas ou a televisão), enquanto a "liberdade de expressão" é uma garantia fundamenta­l ao exercício da cidadania, à participaç­ão social, que se aplica a todas as formas de comunicaçã­o como, por exemplo, nas artes.

Não menos importante é dizer que o exercício das referidas liberdades têm limites igualmente consagrado­s na CRA, os quais serão objectos de abordagem na continuida­de desta reflexão.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola