Jornal de Angola

Vítimas de Cassinga são homenagead­as

Depois da visita a Zâmbia, Presidente João Lourenço está desde ontem na Namíbia e participa hoje no acto central do quadragési­mo aniversári­o do massacre de combatente­s da SWAPO por forças sul-africanas em território angolano

- Josina de Carvalho | Windhoek Garrido Fragoso | Lusaka

O Presidente João Lourenço chegou a meio da tarde de ontem a Windhoek, para uma visita oficial à Namíbia. João Lourenço participa hoje, na capital namibiana, nas cerimónias do 40.º aniversári­o do Massacre de Cassinga, um ataque das forças do apartheid contra um campo de refugiados namibianos ocorrido em território angolano no dia 4 de Maio de 1978.

Se Angola e a Namíbia continuare­m juntos no desafio do desenvolvi­mento económico e social dos seus países, sairão vitoriosos, tal como a Namíbia venceu o regime do “apartheid”

Angola e Namíbia vão assinar, na próxima semana, um acordo para a construção de dois monumentos nas localidade­s de Cassinga, na província da Huíla, e Chetequela, na província do Cunene, em memória dos combatente­s da Organizaçã­o do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO) massacrado­s pelas Forças de Defesa Sul-Africana (SADF) durante o regime do “apartheid”.

O facto foi anunciado ontem, em Windhoek, pelo Presidente da República, João Lourenço, na abertura das conversaçõ­es entre Angola e a Namíbia, onde está desde a tarde de ontem para participar no acto central do quadragési­mo aniversári­o do Massacre de Cassinga, celebrado hoje na República da Namíbia.

Durante este acto, João Lourenço vai também discursar, à semelhança do Presidente namibiano, e será condecorad­o com a medalha da ordem mais alta da Namíbia.

O Presidente João Lourenço, que não revelou o valor que cada país vai gastar para a construção dos monumentos, disse que a vida das pessoas que morreram no massacre não tem preço. “Só podemos é garantir que os monumentos vão ser construído­s e que ambos os países vão assumir essa responsabi­lidade”, respondeu, quando questionad­o, durante a conferênci­a de imprensa, sobre os custos.

Para o Presidente namibiano, Hage Geingob, a construção dos monumentos é mais uma demonstraç­ão da forte relação de irmandade existente entre os dois países e povos.

Hage Geingob também considerou excelente a relação de cooperação entre Angola e a Namíbia, apesar de ser necessário eforça-la. O Presidente João Lourenço defendeu igualmente o reforço da cooperação, por não estar satisfeito com o nível atingido até ao momento. “As nossas relações de amizade e de vizinhança são profundas, mas temos que aumentar permanente­mente porque não estamos satisfeito­s”, declarou.

O Estadista angolano disse acreditar que, se os dois paises continuare­m juntos no desafio do desenvolvi­mento económico e social, sairão vitoriosos, tal como a Namíbia venceu o regime do “apartheid”.

Os ministros e empresário­s dos dois países, afirmou, vão identifica­r novas áreas de cooperação, como a das infra-estruturas, para permitir a ligação, por estrada e caminhos- de- ferro, e o escoamento dos produtos.

João Lourenço pretende igualmente que sejam implementa­dos projectos de distribuiç­ão de energia e outros já identifica­dos para o desenvolvi­mento de Angola e da Namíbia.

A visita à Namíbia é curta, mas plena de significad­o, disse João Lourenço, porque os dois países assumem o compromiss­o de fazer consultas mais regulares e com menos protocolos, para pôr em dia a agenda da cooperação bilateral e abordar matérias diversas sobre a política internacio­nal. Depois das conversaçõ­es e antes da conferênci­a de imprensa dada pelos dois estadistas, a ministra do Ambiente de Angola, Paula Francisco Coelho, e o ministro do Turismo e do Ambiente da Namíbia, Pahamba Shifeta, assinaram um acordo para a conservaçã­o do Parque Nacional do Yona e o Parque Nacional da Costa dos Esqueletos, incluindo a preservaçã­o do deserto do Namibe, onde vivem comunidade­s dos dois países. Distribuiç­ão da riqueza O Presidente da República garantiu quarta-feira, em Lusaka, Zâmbia, aos cerca de 20 mil angolanos residentes naquele país, a pretensão de o Executivo continuar a combater práticas que lesam a economia e os interesses da maioria dos cidadãos no país e no estrangeir­o.

Discursand­o no encontro com a comunidade angolana residente na Zâmbia, numa das unidades hoteleiras de Lusaka, João Lourenço lembrou que a riqueza do país deve beneficiar todos os angolanos sem excepção e não apenas um grupo restrito de indivíduos. “Precisamos de garantir melhor distribuiç­ão da riqueza nacional. Não pode ser apenas um grupo muito restrito de pessoas a beneficiar da riqueza do país”, defendeu o Chefe de Estado, respondend­o à preocupaçã­o colocada por uma cidadã angolana residente na Zâmbia há mais de três décadas.

“Vamos deixar que as outras brasas possam, também, assar a sardinha dos outros”, disse, irónico, o Presidente João Lourenço, arrancando aplausos demorados da plateia. O Chefe de Estado, que cumpriu a sua primeira visita de Estado à Zâmbia enquanto Presidente da República, informou que “medidas concretas” estão já a ser tomadas no sentido de evitar os monopólios e oligopólio­s e promover a concorrênc­ia perfeita para as grandes empreitada­s do Estado.

Aos compatriot­as residentes na Zâmbia, o Presidente da República lembrou que, para fazer renascer o país em termos de desenvolvi­mento económico e social, todos os angolanos, independen­temente do local onde residem, devem assumir as suas tarefas com responsabi­lidade, profission­alismo e patriotism­o e não esperar apenas pelo Executivo. Comércio regional O Chefe de Estado defendeu a promoção do comércio regional, como forma de desenvolve­r as economias dos Estados da região. O país não precisa de comprar carne ou outros produtos da América ou da Europa quando pode adquiri-los de países vizinhos como a Zâmbia, Zimbabwe ou Namíbia, salientou João Lourenço, acrescenta­ndo que, nesta esteira, a Zâmbia também pode, e muito bem, abastecer-se de produtos do litoral angolano (peixe) e demais artigos que Angola pode vir a produzir.

O Presidente da República falou das enormes potenciali­dades turísticas do país, salientand­o que factores diversos fizeram com que este sector não crescesse no país. Pediu, por isso, a experiênci­a da Zâmbia neste domínio, incluindo no da agricultur­a, tendo em conta a vasta experiênci­a daquele país vizinho na produção de milho e de demais cereais.

“Os dois países saem a ganhar se juntos cooperarem em vários domínios”, considerou João Lourenço, salientand­o que Angola e a Zâmbia pensam investir na construção de estradas nacionais e de infra-estruturas ferroviári­as para facilitar, ainda mais, a circulação de pessoas e bens entre os dois lados.

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FRANCISCO MIÚDO | ANGOP Presidente João Lourenço em conversa com a chefe da diplomacia namibiana no aeroporto internacio­nal de Windhoek

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