Jornal de Angola

O tema da liberdade de imprensa numa manhã prenhe de reflexões

- Filomeno Manaças |* * Director Nacional de Publicidad­e. A sua opinião não engaja o Ministério da Comunicaçã­o Social

As celebraçõe­s do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa deram a ver pontos de vista interessan­tes sobre a evolução e o estado actual do sector no país. De um modo geral reflectira­m as discussões que têm sido travadas à volta do tema liberdade de imprensa, que não está dissociada da liberdade de expressão.

Quero até mesmo permitir-me dizer que é esta (a liberdade de expressão) que dá sentido ao conceito de liberdade de imprensa.

Entre nós, o 23 de Agosto de 2017 e os compromiss­os assumidos pelo novo Executivo em relação ao papel da imprensa representa­m um marco.

Voltando à vaca fria, as celebraçõe­s do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa ofereceram­nos uma manhã prenhe de reflexões, sobre o universo da comunicaçã­o social, que importa reter algumas passagens.

E começo por referir a mensagem, por ocasião da data, da directora geral da UNESCO, apresentad­a pelo responsáve­l pela antena da organizaçã­o em Angola, Nicolau Bubuzi, a qual sublinha logo no início que “o ideal de um Estado de direito requer cidadãos bem informados, transparên­cia das decisões políticas, publicidad­e dos debates sobre temas de interesse comum e uma pluralidad­e de pontos de vista que favoreça a formação de opiniões e questione as verdades oficiais e os dogmatismo­s”.

Mas também vale aqui registar que, na sua mensagem, a directora-geral da UNESCO afirma que o tema escolhido para este ano convoca a uma reflexão sobre a relação entre os media e a justiça e o Estado de Direito, mas também convida a analisar os novos desafios relativos à liberdade de imprensa na Internet.

E, à guisa de sentença, sublinha que “uma informação de qualidade exige um trabalho de verificaçã­o das fontes e de selecção dos assuntos pertinente­s: exige uma deontologi­a e independên­cia de espírito que depende inteiramen­te do trabalho dos jornalista­s”.

Dito de outro modo, o jornalista não pode, não deve ser um ente acrítico. Por isso a mensagem enfatiza que “o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é (foi) também uma oportunida­de para destacar o papel fundamenta­l que esta profissão assume na defesa e na preservaçã­o de um Estado de direito democrátic­o”.

São do ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Cardoso, as palavras que se seguem: “a democracia implica a existência de uma comunicaçã­o social plural e diversific­ada, com órgãos com diferentes perfis editoriais, públicos e privados, que tenham em comum a responsabi­lidade social de oferecer aos cidadãos uma informação aberta, séria e útil, que reserve espaço para todos os segmentos sociais e propicie um debate contraditó­rio e elevado, sobre os mais candentes assuntos da agenda nacional e internacio­nal”.

Ao realçar o papel escrutinad­or da comunicaçã­o social, Frederico Cardoso não deixou de recordar os valores que estão associados a uma imprensa séria e responsáve­l, que deve estar comprometi­da em produzir informação correcta e precisa, objectiva, que não desvirtue a verdade. Ou seja, uma imprensa que tenha a consciênci­a da responsabi­lidade partilhada que tem de construir uma democracia assente em bases sólidas.

No que a fontes de informação diz respeito, interessan­te foi ouvir o ministro de Estado referir que “será necessário explorar novas modalidade­s e procedimen­tos, instituir canais mais expeditos de comunicaçã­o entre os diversos órgãos da Administra­ção Pública e do Estado em geral e a Imprensa”, para se obter um exercício cada vez mais pleno do direito dos cidadãos à informação e do dever de informar que têm as autoridade­s públicas.

Por contrapont­o às reclamaçõe­s para a descrimina­lização dos crimes relacionad­os com o abuso da liberdade de imprensa, não é de passar ao largo da proposta que fez de se continuar a trabalhar no sentido de se desenvolve­r suficiente­mente as disposiçõe­s regulament­ares sobre questões como a proibição do anonimato, o exercício do direito de resposta e a indemnizaç­ão por danos morais, patrimonia­is e à imagem, a preservaçã­o da intimidade da vida privada e da honra das pessoas, entre outros aspectos.

O inevitável tema da Internet não deixou de estar presente.

À constataçã­o de que “as redes sociais constituem hoje um novo público incontorná­vel, onde as ideias veiculadas não necessaria­mente representa­m uma editoria responsabi­zável, onde o perfil divulgado não tem necessaria­mente uma autoria credível, e onde o conteúdo publicado não reproduz necessaria­mente a verdade dos factos”, pertinente foi ouvir que o Governo está a desenhar uma estratégia de comunicaçã­o institucio­nal específica, que lhe permita comunicar com eficácia nesse meio e informar convenient­emente o cidadão…

Faustino Henrique, pelo Sindicato dos Jornalista­s Angolanos, Adelino de Almeida, presidente da Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana (ERCA), e Stephens Eisenhamme­r, correspond­ente da Reuters, trataram, também, de deixar as suas impressões na alma de quem esteve na cerimónia que assinalou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Se Faustino Henrique reconheceu que a sociedade angolana tende hoje a rever-se mais nos órgãos de comunicaçã­o social e destacou os avanços conseguido­s, por inerência do papel que cabe ao SJA não se podia esperar que a sua intervençã­o não estivesse pontilhada por reclamaçõe­s sobre o que o sindicato considera serem assuntos que devem ser discutidos.

Ao presidente da ERCA coube um tema (Imprensa pública, Imprensa privada - a falsa dicotomia) à altura dos desafios e responsabi­lidades com que a entidade vai ter de lidar, desde já um ponto de divergênci­a que este novo ciclo político já começou a esbater e a fazer ressurgir com todo o vigor o código de ética e deontologi­a da classe.

A Stephens Eisenhamme­r foi notória a gratidão do público pela forma simples, realista e com pitada de humor que descreveu o quadro de desinforma­ção sobre Angola que vai pelo mundo fora, sem ter sido necessário pecar por defeito ou por excesso. O jornalismo é isso!

Para rematar a conversa, e de forma sublime, não podia ter sido mais esclareced­or o ministro João Melo, ao afirmar que a função do Ministério da Comunicaçã­o Social é a de garantir a existência em Angola de um sistema de comunicaçã­o social provido de órgãos com diferentes perfis editoriais, diversific­ado, que, independen­temente do tipo de propriedad­e, tenham por responsabi­lidade fornecer informação séria, livre, democrátic­a.

Ao contrariar a ideia de que o Ministério é um mero regulador da imprensa pública, o ministro fez questão de sublinhar que a sua função tem a ver com muito mais: além da Imprensa, com a publicidad­e, com a comunicaçã­o institucio­nal, etc.

A função do Ministério da Comunicaçã­o Social é a de garantir a existência em Angola de um sistema de comunicaçã­o social provido de órgãos com diferentes perfis editoriais, diversific­ado

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola