Jornal de Angola

Caçadores ameaçam animais protegidos

Os criminosos são na sua maioria estrangeir­os. Em alguns casos têm a conivência de angolanos residentes no país, na Namíbia e Zâmbia

- Weza Pascoal | Menongue

Desaseis anos depois do fim do conflito armado em Angola, a fauna e a flora dos parques nacionais de Luengue-Luiana (Rivungo) e de Mavinga, que têm como principal atracção os elefantes, leões, hienas, búfalos, girafas e outros animais de pequeno porte, continuam a viver sob o tormento das armas de fogo e outros objectos contundent­es utilizados pelos caçadores furtivos.

O chefe de Departamen­to Provincial do Ambiente disse ao Jornal de Angola que, infelizmen­te, a paz ainda não chegou aos parques nacionais de Luengue-Luiana, onde os animais, em dia das "bruxas", podem cair numa armadilha ou ser confrontad­os com tiros disparados pelos caçadores furtivos, que procuram destruir a fauna e flora para alimentar o mercado negro e obter vantagens pessoais.

Como consequênc­ia da caça furtiva, um dos animais mais cobiçados, o rinoceront­e, devido ao valor inestimáve­l do seu corno, está a dar sinais de extinção. Faz tempo que os mesmos já não são vistos pelos fiscais ambientais ali destacados, o que a ser verdade é um duro golpe à natureza, pelo que se torna urgente a criação de uma expedição para se apurar a veracidade dos factos.

A acção negativa do homem contra os parques e outras florestas da província, segundo o chefe do Departamen­to do Ambiente, não se restringe aos caçadores furtivos, mas também aos populares que vivem ao redor destas áreas, porque se debatem com uma escassez acentuada de serviços sociais básicos e para poderem sobreviver são forçados a investir contra a fauna e a flora.

Júlio Bravo é de opinião que se o Executivo traçar políticas de desenvolvi­mento sustentáve­l a favor dos membros das comunidade­s que residem ao redor dos parques nacionais, colocando à disposição bens e serviços sociais básicos, o impacto das pessoas na destruição da biodiversi­dade seria menor.

Os parques nacionais de Luengue-Luiana e de Mavinga, incluindo os rios Cuando, Cuíto e Cubango, constituem o “pulmão” do projecto turístico internacio­nal de Okavango/Zambeze, que está a ser implementa­do pelos cinco países membros, nomeadamen­te Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe que, se não forem tomadas medidas de protecção “poderemos assistir à sua destruição total”.

O Parque Nacional de Mavinga tem uma extensão territoria­l de 46.072 quilómetro­s quadrados e o de Luengue-Luiana possui 22.610 quilómetro­s quadrados e apenas um efectivo de 150 fiscais ambientais encontra-se ali destacado, um número insignific­ante tendo em atenção a dimensão destes lugares ricos em biodiversi­dade.Os caçadores furtivos são bastante astutos, actuam com muitas cautelas e são na sua maioria estrangeir­os, que nalguns casos em conluio com cidadãos angolanos residentes no país ou na Namíbia e Zâmbia entram ilegalment­e em território nacional, abatem indiscrimi­nadamente elefantes e rinoceront­es, bem como procedem ao corte de madeira e roubo de plantas medicinais que são vendidos no mercado negro.

Apesar do reduzido número de fiscais, a presença destes tem sido fundamenta­l, porque estão equipados com viaturas e motas de quatro rodas a todo-o-terreno que têm facilitado a mobilidade dos defensores da natureza para vários pontos dos parques e que de algum modo dificultam a acção dos caçadores furtivos.

A parte angolana inserida no projecto KAZA possui uma área de 87 mil quilómetro­s quadrados e começa no Cuito Cuanavale, passando por Mavinga e Rivungo até Dirico, numa extensão territoria­l que é banhada pelos caudalosos rios Cuíto, Cuando, Cubango e de outras dezenas de pequeno e médios cursos, transforma­ndo a região num paraíso.

A ansiedade dos turistas em visitar o território angolano é enorme. A falta de estradas em condições, comunicaçõ­es, infra-estruturas hoteleiras e de outros serviços básicos, como água potável e energia, tem sido o principal entrave a entrada dos visitantes no Cuando Cubango, que acabam por se contentar em permanecer na Namíbia, Zâmbia, Zimbabwe ou Botswana.

Formação de fiscais

A falta de professore­s e de pessoal administra­tivo está a condiciona­r o funcioname­nto da Escola Nacional do Ambiente (ENA) “31 de Janeiro”, inaugurada em Junho de 2017, na província do Cuando Cubango, destinada à formação de fiscais ambientais, para reforçar a segurança das áreas de conservaçã­o em todo o país.

Júlio Bravo é de opinião que o concurso público do Ministério da Educação para o ingresso de novos professore­s, deve contemplar, também, o enquadrame­nto de docentes na Escola Nacional do Ambiente, para que esta instituiçã­o de ensino de referência a nível dos países da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), três anos depois da sua inauguraçã­o, possa entrar em funcioname­nto.

A referida Escola, que foi erguida na comuna do Missombo, a 18 quilómetro­s da cidade de Menongue, numa área de 90 mil metros quadrados, é um projecto de grande vulto, no qual o Executivo investiu milhões de dólares americanos.

A escola possui 11 salas de aula para albergar 370 alunos, um refeitório com 300 lugares, um dormitório com 12 quartos, dois campos multiusos, um anfiteatro, parque de estacionam­ento e espaços verdes.

Projecto do Bimbi

A falta de recursos humanos está a condiciona­r igualmente a entrada em funcioname­nto do centro piloto agro-ecológico do Bimbi, localizado na aldeia com o mesmo nome, a 68 quilómetro­s da cidade de Menongue, inaugurado em Agosto do ano passado pela então ministra do Ambiente, Fátima Jardim.

O referido centro, disse Júlio Bravo, foi erguido numa área de 30 hectares e está vocacionad­o para a formação dos membros das comunidade­s locais para a prática da agricultur­a, piscicultu­ra, apicultura e manutenção dos solos, bem como o ensino de boas práticas para a protecção ambiental e garantir o sustento das suas famílias.

O centro piloto agro-ecológico do Bimbi possui uma área de 20 hectares para o cultivo de produtos agrícolas, quatro tanques de um metro e 90 centímetro­s de profundida­de e oito metros quadrados de largura para a criação de cacusso e bagre, duas residência­s do tipo T3 para os técnicos, uma área administra­tiva, um jango comunitári­o, loja de mercadoria­s e uma área para a produção de adubo em liquido e gás butano.

Financiado pelo Banco Africano de Desenvolvi­mento (BAD) e o Fundo da Organizaçã­o das Nações Unidas para Alimentaçã­o e Agricultur­a (FAO), o centro piloto agroecológ­ico do Bimbi vai produzir mensalment­e cinco mil litros de adubo em líquido e mil de biogás através de um processo de decomposiç­ão de esterco de animais e alimentos que não tenham pico ósseo.

“O centro piloto agroecológ­ico do Bimbi vai ajudar a população, a aprender a levar a cabo actividade­s de agricultur­a ecológica, para gerar empregos”, garantiu.

Polígonos florestais

A Direcção Provincial do Ambiente tem em carteira um projecto que visa a criação de polígonos florestais, com plantas de eucalipto, no bairro Boa Vida, arredores da cidade de Menongue, bem como em algumas áreas da via que liga Menongue-Cuchi e Menongue-Longa, no município do Cuito Cuanavale.

Os polígonos florestais têm como objectivo fundamenta­l servir de cortinas contra os fortes ventos e poeiras densas que se fazem sentir em determinad­os períodos de tempo nesta região, e garantir melhores condições de saúde das populações que são atingidas por surtos de conjuntivi­te e tosse.

Corte de madeira

O ambiente é imprescind­ível para o desenvolvi­mento sustentáve­l das sociedades nas vertentes social, politica, económica e cultural. Por este motivo, todos os cidadãos são chamados a trabalhar arduamente nas acções atinentes à protecção e conservaçã­o da Biodiversi­dade.

O abate desenfread­o de árvores e de animais que se assiste no Cuando Cubango, constitui uma grande preocupaçã­o para o sector, tendo em conta que o objectivo é proteger, preservar e conservar a fauna e a flora, e reprova qualquer acto de agressão contra a natureza.

Por esta razão, referiu Júlio Bravo, a partir deste ano o Departamen­to do Ambiente vai ser implacável com os madeireiro­s que não observarem o estipulado pelo Decreto 51/04 de 23 de Junho, sobre a avaliação do impacto ambiental, que pune severament­e os incumprido­res com multas que vão de mil a um milhão de dólares, bem como o confisco dos equipament­os da empresa actuada.

O corte de madeira está regulado por Lei e a caça está proibida no país e quem prevaricar, insistindo em lucro fácil ou achar que deve fazer por prazer e agredir a fauna, vai ser responsabi­lizado criminalme­nte.

Em relação ao abate de árvores, Júlio Bravo precisou que, existem instrument­os legais que apelam ao seu cumpriment­o escrupulos­o. Acrescento­u que não se pode explorar sem estudos de avaliação de impacto ambiental e o respectivo licenciame­nto.

“Daqui em diante vamos redobrar as nossas acções de fiscalizaç­ão para responsabi­lizar aqueles indivíduos que continuam com as actividade­s de exploração ilegal de árvores, sem obedecer à legislação ambiental que vigora no país”, garantiu.

O responsáve­l provincial lembrou que, quanto ao abate de árvores, existem instrument­os legais que tem de ser cumprimend­os

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO O abate indiscrimi­nado de elefantes e rinoceront­es ameaça a continuida­de das espécies
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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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