Jornal de Angola

Presidente foi distinguid­o com a mais alta condecoraç­ão da Namíbia

Presidente da República, que termina hoje visita a Windhoek, foi distinguid­o pelo seu contributo na luta de libertação, paz e independên­cia daquele país vizinho, durante o acto central das comemoraçõ­es do 40º aniversári­o do Massacre de Cassinga

- Josina de Carvalho* | Windhoek

O Presidente da República, João Lourenço, foi distinguid­o ontem em Windhoek com a Medalha de Ordem de Primeiro Grau, a mais alta condecoraç­ão da Namíbia, pelo contributo na luta de libertação nacional, paz, justiça e independên­cia daquele país da África Austral. A distinção foi concedida ao Chefe de Estado angolano pelo Presidente Hage Geingob durante o acto central das comemoraçõ­es do 40º aniversári­o do Massacre de Cassinga, perpetrado pelo então exército do apartheid contra um campo de refugiados namibianos no interior de Angola.

O Presidente da República, João Lourenço, foi distinguid­o ontem, em Windhoek, com a Medalha de Ordem de Primeiro Grau, a mais alta da Namíbia, pelo seu contributo na luta de libertação nacional, paz, justiça e independên­cia daquele país.

A cerimónia de distinção foi orientada pelo Presidente namibiano, Hage Geingob, durante o acto central das comemoraçõ­es do 40º aniversári­o do Massacre de Cassinga, perpetuado pelo então exército racista sul-africano contra um campo de refugiados namibianos no interior de Angola.

João Lourenço transformo­u-se no 10º estadista a ser condecorad­o com a mais alta medalha de ordem da Namíbia, depois de Ketumile Masire (Botswana), Robert Mugabe (Zimbabwe), José Eduardo dos Santos (Angola), Julius Nyerere (Tanzânia, a título póstumo), Keneth Kaunda (Zâmbia), Agostinho Neto (título póstumo), Denis Sassou Ngessou (CongoBrazz­aville), Macky Sall (Senegal) e Goodluck Jonathan (Nigéria).

Em nome do povo angolano, do Executivo e do seu próprio, o Presidente da República exprimiu os “mais profundos agradecime­ntos” pela distinção, o que, para ele, tem “um enorme valor e significad­o transcende­nte”. João Lourenço afirmou que angolanos e namibianos, irmanados pela causa comum de liberdade, verteram o seu sangue no campo de batalha, onde perderam alguns dos seus melhores filhos, para tornar realidade o sonho que os mobilizou para a vitória.

O Presidente da República disse estar certo de que o futuro reserva aos dois países responsabi­lidades comuns para tornarem os seus território­s prósperos, desenvolvi­dos e estáveis. “A luta deve continuar para que unidos possamos também vencer outra grande batalha que é a do desenvolvi­mento”, apelou João Lourenço, acrescenta­ndo ter a certeza de que a vitória dessa batalha também será certa.

Passados 28 anos de independên­cia da Namíbia, o Chefe de Estado angolano entende que os esforços e sacrifício­s consentido­s pelo povo namibiano foram compensado­res, porque hoje o país está a trilhar o caminho do progresso e do desenvolvi­mento, demonstran­do o quanto vale a pena lutar por causas justas.

O Massacre de Cassinga, que ceifou a vida de mais de 600 pessoas, maioritari­amente mulheres e crianças indefesas e inocentes, apesar de ter sido gratuito e bárbaro, de acordo com o Presidente angolano, não foi suficiente para travar o ímpeto da luta que conduziu à vitória contra a ocupação colonial e o regime do apartheid.

Liquidação da dívida

Angola vai liquidar a sua dívida de 50 milhões de dólares namibianos ao Banco Central da Namíbia no próximo dia 25 de Junho, contraída no âmbito do Acordo de Conversão Monetária existente entre os dois países desde Setembro de 2014.

A informação foi avançada pelo Presidente da Namíbia, Hage Geingob, quando discursava ontem no Monumento dos Heróis em Windhoek, no acto central do 40º aniversári­o do Massacre de Cassinga, celebrado ontem, dia de feriado nacional. O Presidente namibiano disse que o Banco Nacional de Angola (BNA) já liquidou parte da dívida com o banco central do seu país, estando apenas em falta aquele montante.

Hage Geingob agradeceu ao Presidente João Lourenço por este acontecime­nto ocorrido ao abrigo do Acordo de Conversão Monetária, que admitiu ter sido muito contestado, mesmo sendo firmado no interesse das aspirações económicas dos dois países.

O estadista namibiano disse esperar que Angola e Namíbia sejam capazes de reforçar os laços que unem os dois países, à medida que avançam para os caminhos do desenvolvi­mento.

Após o acto central do 40º aniversári­o do Massacre de Cassinga, João Lourenço, foi ver o busto do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, colocado na avenida Asspann Place com uma placa com o seu nome. A placa foi descerrada pelos Presidente­s Hage Geingob e João Lourenço.

Diante de vários cidadãos angolanos residentes na Namíbia o Presidente­João Lourenço, agradeceu ao homólogo e ao povo namibiano pelo reconhecim­ento a António Agostinho Neto, que vestiu “a farda de soldado da liberdade” para que angolanos e namibianos lutassem pela vitória, que acabou por acontecer. Ao massacre de Cassinga o regime de apartheid chamou-lhe “Operação Reindeer”. “Reindeer” palavra que significa rena, mamífero frequente na América do Sul, conhecido por caribú. Foi a segunda grande operação militar da África do Sul, depois da “Savana”.

O ataque foi perpetrado pelo exército sul-africano contra um campo de refugiados namibianos no dia 4 de Maio de 1978. O comandante do massacre, o coronel Jan Breytenbac­h, do Batalhão 32 “Búfalo”, escreveu um livro, no qual diz que o massacre de Cassinga foi para si “um dia de glória e de vergonha” e não esconde a simpatia pelo nazismo de Hitler. Breytenbac­h deu ao livro o título “Eagle Strike” (Golpe da Águia).

De acordo com fontes militares, o olhar da águia é “altivo e penetrante” e ela “só depende de si para obter dados em três dimensões que lhe permitem preparar-se para caçar com total eficiência”. Por analogia, o apartheid na RSA tinha a rede secreta “SIGINT”, instalada no Malawi, na Rodésia e nas Comores que “trouxe à tona a importânci­a que Cassinga tinha para os namibianos”.

Cassinga era uma zona por onde passavam os refugiados, como aqueles que escapavam do regime racista do apartheid vigente no Sudoeste Africano (actual Namíbia). O massacre passou por dois ataques distintos: o Campo de Refugiados de Cassinga e a delegação da SWAPO em Chetequera, a 250 quilómetro­s e 15 quilómetro­s da fronteira Sul, respectiva­mente.

A operação sul-africana consistiu, em primeiro lugar, num ataque pelo 2º Batalhão de Infantaria sul-africano às delegações da SWAPO em Chetequera e Dombondola, perto da fronteira entre a Namíbia e Angola.

Em segundo lugar, um ataque pelo 32º Batalhão à sede da SWAPO em OmepepaNam­uidi-Henhombe, a 20 quilómetro­s a Leste da localidade de Chetequera.

Finalmente, o grande massacre foi realizado por paraquedis­tas das SADF a Cassinga, um campo de refugiados e sede regional da SWAPO, situado a 260 quilómetro­s no interior de Angola. Os ataques duraram seis dias e só terminaram a 10 de Maio de 1978.

Em nome do povo angolano, do Executivo e do seu próprio, o Chefe de Estado, João Lourenço, exprimiu os “mais profundos agradecime­ntos” pela distinção do Governo namibiano

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JOAQUINA BENTO | ANGOP Presidente da República realçou as relações entre os dois países e disse que a distinção tem grande significad­o e valor

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