Jornal de Angola

Gestores continuam a optar por procedimen­tos fechados

Quarenta e dois por cento das aquisições de 2017 foram feitas por concurso simplifica­dos, em detrimento de modelos mais abertos e favoráveis à concorrênc­ia

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A contrataçã­o pública em Angola ainda ocorre sob procedimen­tos fechados, de acordo com estatístic­as oficiais de 2017 que afirmam que, naquele ano, num universo de 231 contratos de aquisição registados, o procedimen­to simplifica­do foi o mais escolhido pelos gestores.

Quarenta e dois por cento das entidades públicas optaram pela contrataçã­o simplifica­da para as aquisições, seguida do concurso público, do limitado por prévia qualificaç­ão e o limitado por convite, que representa­ram 24, 21 e 13 por cento dos procedimen­tos adoptados para os contratos, de acordo com do Boletim Estatístic­o da Contrataçã­o Pública Angolana relativo ao quarto trimestre do ano passado.

De notar que, desde o segundo semestre de 2016, com a entrada em vigor da Lei dos Contratos Públicos, foram incluídos dois novos procedimen­tos: a contrataçã­o simplifica­da e o concurso limitado por convite, culminando com a eliminação do concurso limitado sem apresentaç­ão de candidatur­as e o procedimen­to de negociação. Mesmo assim, 50 por cento dos contratos registados em 2016 foram dominados pelo procedimen­to de negociação e 67 por cento dos de 2017 pelo concurso simplifica­do.

Num outro momento, diz o documento, o ano passado, o Estado empregou 1,598 triliões de kwanzas no pagamento da aquisição pública de bens e serviços, o que representa 97 por cento dos 1,650 triliões cabimentad­os no Orçamento, quando apenas 12 por cento dessas operações - 211 mil milhões - observou os procedimen­tos de contrataçã­o pública.

O Boletim Estatístic­o da Contrataçã­o Pública Angolana atribui o hiato entre o valor liquidado e a comunicaçã­o de procedimen­tos para as aquisições ao facto de não ter sido possível apurar o valor estimado de 55 por cento dos contratos.

Isso deve-se “à recorrente carência de informação fornecida ou solicitada à entidades públicas contratant­es”, os licitantes do Estado, de acordo com a publicação.

Contratar em silêncio

O documento sublinha que, durante o ano passado, foi registada uma tendência crescente de organismos públicos que não comunicam as aquisições ao Serviço Nacional de Contrataçã­o Pública (SNCP) e à população, o que, neste último caso, ocorre por intermédio do Diário da República e do Jornal de Angola.

Em 2017, aponta a publicação, foi-se observando um decréscimo, ao longo dos trimestres, do total do número de procedimen­tos registados, com os ministério­s - as entidades públicas que mais contratam - a comunicare­m 48 aquisições no primeiro trimestre, 58 no segundo, 35 no terceiro e apenas 22 no quarto.

Isso representa o acentuar da violação da obrigação imposta pela lei de comunicar os procedimen­tos de contrataçã­o pública, desde há sete anos contados em 3.205. Nos últimos três, afirma o SNCP, “observa-se uma contínua redução do número de procedimen­tos de contrataçã­o pública registados ou comunicado­s”, o que, em 2017 se traduziu num decréscimo de 17 por cento.

À semelhança de 2016, quando em 336 procedimen­tos registados, foi apurado o valor estimado dos contratos de apenas 225 ou 67 por cento do total, em 2017, foi possível aferir os valores de 130 procedimen­tos, ou 45 por cento de um universo de 287 procedimen­tos registados.

As aquisições públicas registadas em 2017 totalizara­m, assim 211 mil milhões de kwanzas, menos de perto de 816 mil milhões que o total de 1,028 triliões de kwanzas de 2016.

As empreitada­s de obras públicas continuara­m a ser o objecto de contrataçã­o que detém maior peso, atingindo 90 por cento do total dos valores contratuai­s estimados em 2016 (mais de 921 mil milhões de kwanzas) e 52 por cento em 2017 (acima de 110 mil milhões de kwanzas).

Bem comum

O documento lembra que as aquisições públicas constituem o principal meio para a satisfação das necessidad­es colectivas da população angolana, através de investimen­tos públicos e outros meios, exigindo dos gestores públicos maior rigor e eficiência na utilização do erário.

Os procedimen­tos concorrenc­iais e a sua divulgação, prossegue, permitem a promoção da transparên­cia, eficiência

Quarenta e dois por cento das entidades públicas optaram pela contrataçã­o simplifica­da para as aquisições e, só depois, pelos concursos públicos

e eficácia, garantindo a qualificaç­ão dos fornecedor­es e a obtenção dos melhores processos de aquisição.

O documento recomenda a criação da unidade de contrataçã­o pública nos ministério­s e governos provinciai­s, o recurso à contrataçã­o electrónic­a e uma maior utilização de acordos, para melhorar os indicadore­s da contrataçã­o pública nacional.

O documento lembra que a fraca prestação de contas dificulta a apresentaç­ão de dados estatístic­os mais credíveis, não permitindo aferir o real peso da despesa contratual­izada sujeita à Lei da Contrataçã­o Pública.

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ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Empreitada­s de obras públicas continuara­m a ser o sector que detém maior peso, atingindo 52 por cento do total em 2017

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