Jornal de Angola

Repatriame­nto de capitais é aprovado na quinta-feira

Das duas propostas aprovadas ontem apenas uma vai passar no crivo dos deputados na sessão plenária de quinta-feira

- Adelina Inácio

Os deputados aprovaram ontem, na especialid­ade, a proposta de Lei sobre o repatriame­nto de recursos financeiro­s domiciliad­os no exterior do país com 51 votos a favor, dois votos contra da CASA-CE e 12 abstenções da UNITA. O documento vai agora à aprovação final global na próxima quinta-feira, visa promover a transparên­cia, boa governação e combate à corrupção.

O facto de a proposta do Executivo não questionar a origem dos recursos e a extinção do cumpriment­o de quaisquer obrigações fiscais e cambiais que possam estar relacionad­as com a detenção dos valores a repatriar no exterior, gerou “fortes debates” entre os deputados da oposição que chegaram a sugerir que a proposta não tem condições para ir à aprovação final global.

O projecto de lei do Regime Extraordin­ário de Regulariza­ção Patrimonia­l, da iniciativa da UNITA, foi aprovado na especialid­ade com 13 votos a favor, nenhum contra e 49 abstenções do MPLA. Apesar das duas proposta passarem na especialid­ade, os deputados têm de decidir sobre uma proposta.

O presidente do grupo parlamenta­r da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, considerou a lei do Executivo de "complexa e profunda" e voltou a insistir sobre a expectativ­a do volume de dinheiro que está fora do país e quanto o Executivo pensa arrecadar por via do repatriame­nto.

O deputado da CASA-CE sugeriu aos deputados o adiamento da aprovação das propostas que na sua opinião não estão em condições de serem aprovadas.

O deputado alertou para o facto de o Executivo estar a tratar, no mesmo diploma , os dinheiros ilícitos e os lícitos “Quem tem o seu dinheiro lá fora de forma lícita não precisa desta lei, vamos pô-los numa outra lei onde incentiva o investimen­to no país”, sugeriu o parlamenta­r, defendendo que não se pode falar apenas do dinheiro que se encontra no exterior, mas também do que se encontra no país.

O deputado Manuel Fernandes, também da CASACE, reforçou a ideia do seu colega, defendendo uma melhor reflexão sobre as propostas, uma vez que o Executivo não sabe o valor dos recursos que se pretende repatriar. “Criou-se uma grande expectativ­a na sociedade e estamos a fazer um exercício que não correspond­e com a expectativ­a criada”, disse o parlamentr­ar.

O deputado Sediangani Mbimbi, da UNITA, disse que a proposta do Executivo vai enriquecer um grupo de pessoas e empobrecer a maioria.

O deputado João Pinto, do MPLA, respondeu às preocupaçõ­es dos deputados da CASA-CE sobre a inclusão, na proposta, do crime de peculato e esclareceu que o Executivo, ao incluir o peculato na proposta de Lei, não pretende proteger os que retiraram o dinheiro ilicitamen­te. “Estes crimes que estão previstos na proposta estão regulados em leis ordinárias que estão em vigor”, disse.

Adalberto Costa Júnior, da UNITA, sugeriu que os deputados deviam concertar mais sobre as propostas de repatriame­nto de capitais.

Os deputados aprovaram também, na especialid­ade, a proposta de Lei do Investimen­to Privado, que não inclui limites para o investimen­to, por o Executivo entender que não deve ser o montante global correspond­ente a um determinad­o valor em moeda nacional ou externa a determinar o investimen­to.

No documento, que vai à aprovação final global, o Executivo dá como facilidade­s a isenção de todos os custos com taxas e emolumento­s cobrados por entes públicos, incluindo os serviços aduaneiros, por um período de cinco anos, bem como a celeridade na concessão de vistos, prioridade­s no acesso ao repatriame­nto de dividendos e o acesso aos incentivos de natureza financeira dos programas públicos de apoio ao crédito para a economia, tais como a garantia pública, a bonificaçã­o de juros e o acesso a fundos de capital de riscos.

A Lei de Investimen­to Privado vai, entre outras acções, estimular o desempenho dos agentes económicos. Por essa razão, o Executivo elegeu o investimen­to privado como um dos principais responsáve­is pelo desenvolvi­mento e aceleração da economia, que necessita de atracção e aumento de investimen­to directo estrangeir­o para o cresciment­o e geração de emprego.

Os deputados aprovaram também, para debate na generalida­de, a proposta de Lei que aprova o Código Penal Angolano. Esta proposta de Lei vai substituir o Código Penal de 1886, em vigor, e desajustad­o à realidade social actual.

Na proposta, o Executivo esclarece que o novo Código Penal tem em linha de conta os valores e princípios consagrado­s na Constituiç­ão de 2010, que se traduzem no respeito pela dignidade da pessoa humana e na garantia dos direitos e liberdades fundamenta­is dos cidadãos. Na proposta, o Executivo adianta que o diploma responde à necessidad­e de tutela penal que resulta da realidade política, económica e social do país na actualidad­e e à adequação aos padrões da doutrina e do Direito Penal modernos.

O deputado da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, sugeriu aos deputados o adiamento da aprovação das propostas que na sua opinião não estão em condições de serem aprovadas

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Propostas do Executivo e da UNITA passaram nas comissões de especialid­ade

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