Luanda e Lisboa anunciam uma nova era nas relações
Os Presidentes de Angola, João Lourenço, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, mantiveram na manhã de ontem uma conversa telefónica, oportunidade aproveitada para se referirem à decisão tomada ontem pelo Tribunal da Relação de Lisboa.
Os dois Presidentes felicitaram-se mutuamente pelo desfecho positivo do caso e reiteraram a vontade de seguir em frente com a cooperação entre Portugal e Angola. O ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, que está nos Emirados Árabes Unidos, disse, por telefone, que a decisão vai ao encontro das expectativas dos dois países.
Manuel Augusto lembrou que existem acordos que, ao serem utilizados, resultariam num processo normal, sem necessidade de provocar os danos causados nas relações entre os dois países.
“Estamos em vias de voltar a normalidade das relações”, disse o chefe da diplomacia angolana.
Entretanto, sobre a conversa com João Lourenço, Marcelo Rebelo de Sousa disse à comunicação social portuguesa que foi o Presidente angolano a telefonarlhe e que os dois expressaram a vontade de “continuação da colaboração entre povos e Estados”, reiterando “os laços de amizade e de fraternidade existentes”. “Sempre tive a ideia de que estávamos vocacionados para estarmos juntos, sempre, independentemente dos pormenores”, reafirmou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela imprensa portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou que os seus comentários sobre a transferência para Angola do processo que envolve Manuel Vicente possam ser interpretados como intromissão na esfera da justiça, argumentando que “ninguém se imiscui numa decisão tomada”.
O Presidente português salientou a importância das relações luso-angolanas, declarando: “Estão em causa centenas de milhares de pessoas, portugueses e angolanos. E, portanto, quando estão em causa centenas de milhares de pessoas, isso é tão forte, tão forte, tão forte, que é mais forte do que tudo”.
O Chefe de Estado português falava durante uma iniciativa na Baixa de Lisboa, em resposta à comunicação social, que o confrontou com a estranheza manifestada pelo conselheiro de Estado e antigo deputado e dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã face aos seus comentários e do primeiroministro sobre este processo.
“Não é só o Presidente angolano, o Primeiro-Ministro português e o Presidente português ficaram muito satisfeitos. Até acho um pouco estranho que façam tantos comentários sobre uma decisão judicial. Não é muito comum”, afirmou Francisco Louçã, ontem à rádio TSF.
Questionado se os seus comentários não podem ser interpretados como uma forma de se imiscuir na justiça, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Que eu saiba, quando a decisão está tomada, ninguém se imiscui numa decisão tomada. A decisão está tomada, está tomada. Imiscuir é antes”.
Interrogado, em seguida, se já tem data para uma visita a Angola, o Chefe de Estado português nada adiantou, considerando que “não vale a pena estar agora a especular sobre essa matéria”.
Na quinta-feira, o Tribunal da Relação de Lisboa deu razão ao recurso de Manuel Vicente para o envio do processo a Angola.