Técnicos de enfermagem no país atravessam um momento difícil
Sindicato dos enfermeiros quer ver aprovado o Estatuto da Carreira para evitar que mais profissionais abandonem o sector em função dos baixos salários. A falta de incentivo preocupa a organização sindical
O secretário-geral do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda, Afonso Quileba, afirmou, ontem, ao Jornal de Angola que o quadro actual dos profissionais de enfermagem é dramático e preocupante, por falta de salários dignos, medicamentos nos hospitais e factores motivacionais.
A propósito do Dia Internacional do Enfermeiro, assinalado hoje, o líder sindical disse que a desmoralização dos profissionais é também causada pela não aprovação do Estatuto da Carreira do Enfermeiro.
A classe dos enfermeiros manifesta ainda o seu descontentamento pela falta de avaliação de desempenho, pagamento de subsídios e formação dos técnicos.
O sindicalista admitiu que os técnicos de enfermagem dependem deles mesmos para elevarem o seu nível académico e profissional, razão pela qual a maioria tem enveredado para outras formações fora da actividade a que estão vinculados.
“Os técnicos de enfermagem estão a recorrer para as outras profissões a nível do ensino superior, por constatarem que não há conforto profissional na área da saúde”, salientou, referindo que a enfermagem não garante equilíbrio social, por inexistência de acertos de categorias.
Como afirmou o enfermeiro, se houvesse incentivo na classe, jamais os técnicos migravam para outras profissões. Deste modo, o sindicato estima que perto de 50 por cento dos enfermeiros estão a optar por outras formações que, possivelmente, oferecem mais estabilidade de vida. Ao apontar que a entidade patronal não tem estado preocupada com a formação permanente dos quadros, Afonso Quileba justifica que o incentivo não é apenas um bom salário, porque “um indivíduo que beneficia de uma formação está mais motivado para continuar a trabalhar e prestar um melhor serviço público”.
Segundo o sindicalista, não existe reconhecimento em relação aos profissionais de enfermagem, razão pela qual alguns técnicos fazem “part-time” noutros lugares, no sentido de manter o sustento da família.
“A carreira não está a ser actualizada e estão sem promoção há já vários anos”, acentuou o sindicalista.
Para impedir que mais enfermeiros abandonem o sector da Saúde, Afonso Quileba apelou para a aprovação do Estatuto da Carreira de Enfermagem e que seja entregue, o mais rápido possível, aos ministérios das Finanças e da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social.
O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem pode vir a convocar, para o dia 21, uma greve dos enfermeiros, em protesto contra os baixos salários.
Aumento salarial
Para justificar a necessidade de aumento salarial, Afonso Quileba disse que o enfermeiro auxiliar ou licenciado enquadrado nos centros da periferia atende, por dia, mais de 60 pacientes. Os enfermeiros estão proibidos, por lei, de prescrever medicamentos, sendo apenas actividade da responsabilidade do médico. No âmbito de um acordo com a entidade patronal, os enfermeiros voltaram a realizar consultas com a finalidade de serem recompensados. “A recompensa não está a ser dada e o nosso salário é mísero, o que leva as pessoas a criarem alternativas”, disse o sindicalista. O sindicato defende, no caderno reivindicativo, um salário de 240 mil kwanzas para o auxiliar de enfermagem, em função do volume e das horas de trabalho.
Actualmente, um auxiliar de enfermagem tem um salário de 67 mil kwanzas, um valor que o secretário-geral do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda diz não cobrir as despesas diárias de uma família nem se aproxima à carga de trabalho, uma vez que os enfermeiros atendem mais doentes que os médicos, que, por lei, são os únicos com responsabilidade de prescrever.
Do ponto de vista da legislação, afirmou, o enfermeiro não pode prescrever, mas o Ministério da Saúde pediu para a classe olhar para a componente moral, no sentido de atenuar algumas dificuldades do sector e das populações.
“O Governo prometeu rever as preocupações dos trabalhadores da saúde, o que não está a acontecer”, lamentou o sindicalista.
“Achamos que já não temos moral, pois estamos a pensar parar com as prescrições, esperando que o Governo faça a sua parte”, frisou o responsável.
O secretário do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda disse que a organização tem informado o Ministério da Saúde sobre a necessidade de melhorar as condiçoes de trabalho e salariais dos trabalhadores do sector da Saúde.