Jornal de Angola

Rotura em barragem ilegal provoca mais de 50 mortes

O Quénia tem sido fustigado nos últimos dias por fortes chuvas que aumentam o nível das águas em represas e barragens

- Victor Carvalho

As tempestade­s que têm assolado o Quénia tiveram a sua expressão mais vincada no rebentamen­to de uma pequena barragem criada para servir uma plantação de café que causou meia centena de mortes e obrigou milhares de pessoas a abandonare­m as suas zonas de residência.

Um porta-voz da Polícia queniana confirmou que a rotura verificada da barragem de Patel terá sido provocada pelas fortes chuvas que aumentaram o nível das águas rebentando com a sua estrutura de protecção.

Entre as vítimas mortais contam-se, sobretudo, mulheres e crianças que foram arrastadas pelas águas quando os homens estavam a trabalhar na plantação de café irrigada pela barragem, nas fazendas hortícolas e noutras plantações. De acordo com as autoridade­s, cerca de 70 milhões de litros de água verteram-se quando a barragem cedeu, criando uma queda de 500 metros de largura que arrastou tudo na sua passagem.

Pelo menos 200 soldados juntaram-se à missão de socorro, que conta com agentes da Cruz Vermelha do Quénia, da Polícia e de populares da região de Nakuru.

As águas caudalosas submergira­m duas aldeias, segundo um residente local. Os postes eléctricos também foram destruídos, o que privou o abastecime­nto de energia a grande parte da zona.

A barragem de Pavel está instalada junto a uma enorme fazenda privada de plantação de café, onde trabalham muitas das pessoas que foram atingidas pela tragédia.

Uma escola primária e centenas de casas, construída­s pelos trabalhado­res, foram também arrastadas pelas águas. O governador da província onde se deu o acidente, Lee Kinyajui, disse que foram todos apanhados de surpresa pois nada fazia prever um aumento tão acentuado do nível de queda de chuva.

“A água era tanta que arrastou casas de construção sólida, inundou quase metade de uma fazenda e provocou dezenas de mortes”, disse.

O responsáve­l sublinhou que o facto das habitações estarem erguidas perto da barragem obrigou a que a sua construção fosse feita com as necessária­s cautelas.

Citando o chefe da Polícia regional, Gideon Kibunjah, a imprensa local noticiou que a barragem de Patel era utilizada exclusivam­ente para a irrigação e a piscicultu­ra.

O Procurador-geral da República, Noordin Moha- med Haji, numa carta datada de 10 de Maio endereçada ao inspector-geral da Polícia, Joseph Bionnet, pediu que os resultados dos inquéritos que mandou instaurar sejam submetidos a tribunal em 14 dias.

De acordo com investigaç­ões preliminar­es, a construção desta barragem, tal como sucede com muitas outras existentes no país, não obedeceu aos parâmetros legalmente exigidos pelo que os seus proprietár­ios correm sérios riscos de serem processado­s.

As autoridade­s quenianas exigem, por isso, o apuramento das causas desta catástrofe e das suas responsabi­lidades, se as houver, sublinhand­o que “as conclusões desses inquéritos deverão ser submetidas aos meus serviços para um exame atento e uma acção apropriada num prazo de 14 dias”.

Existem no Quénia mais de 70 pequenas barragens construída­s de modo ilegal para servir em exclusivo grandes fazendas privadas.

Independen­temente do que vier a ser apurado, o facto é que as fortes chuvadas que caem no Quénia desde o início de Março já causaram a morte a 162 pessoas, de acordo com dados oficiais fornecidos pelo governo.

Mais de 220 famílias ficaram também sem casa, estando alojadas em centros de acolhiment­o criados pelo Governo em diferentes províncias do país.

A agência da ONU avisou que há áreas que continuam inacessíve­is e que é impossível saber o número total de pessoas afectadas.

As chuvas danificara­m 280 escolas, e algumas delas encontram-se totalmente debaixo de água. As inundações também afectaram vários hospitais e arrasaram quase 3.900 hectares de plantações.

Os serviços de emergência do país estão a efectuar trabalhos de resgate junto com a Cruz Vermelha queniana e entidades da ONU como o Unicef. A Cruz Vermelha queniana pediu ao Governo do país que declare as inundações um desastre nacional porque supõem uma dupla tragédia em muitas das comunidade­s que foram afectadas no ano passado por uma forte seca.

As inundações também podem desencadea­r ou piorar surtos de doenças como malária e cólera.

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DR Residentes da região de Nakuro sofrem as consequênc­ias da rotura da barragem de Patel

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