Rotura em barragem ilegal provoca mais de 50 mortes
O Quénia tem sido fustigado nos últimos dias por fortes chuvas que aumentam o nível das águas em represas e barragens
As tempestades que têm assolado o Quénia tiveram a sua expressão mais vincada no rebentamento de uma pequena barragem criada para servir uma plantação de café que causou meia centena de mortes e obrigou milhares de pessoas a abandonarem as suas zonas de residência.
Um porta-voz da Polícia queniana confirmou que a rotura verificada da barragem de Patel terá sido provocada pelas fortes chuvas que aumentaram o nível das águas rebentando com a sua estrutura de protecção.
Entre as vítimas mortais contam-se, sobretudo, mulheres e crianças que foram arrastadas pelas águas quando os homens estavam a trabalhar na plantação de café irrigada pela barragem, nas fazendas hortícolas e noutras plantações. De acordo com as autoridades, cerca de 70 milhões de litros de água verteram-se quando a barragem cedeu, criando uma queda de 500 metros de largura que arrastou tudo na sua passagem.
Pelo menos 200 soldados juntaram-se à missão de socorro, que conta com agentes da Cruz Vermelha do Quénia, da Polícia e de populares da região de Nakuru.
As águas caudalosas submergiram duas aldeias, segundo um residente local. Os postes eléctricos também foram destruídos, o que privou o abastecimento de energia a grande parte da zona.
A barragem de Pavel está instalada junto a uma enorme fazenda privada de plantação de café, onde trabalham muitas das pessoas que foram atingidas pela tragédia.
Uma escola primária e centenas de casas, construídas pelos trabalhadores, foram também arrastadas pelas águas. O governador da província onde se deu o acidente, Lee Kinyajui, disse que foram todos apanhados de surpresa pois nada fazia prever um aumento tão acentuado do nível de queda de chuva.
“A água era tanta que arrastou casas de construção sólida, inundou quase metade de uma fazenda e provocou dezenas de mortes”, disse.
O responsável sublinhou que o facto das habitações estarem erguidas perto da barragem obrigou a que a sua construção fosse feita com as necessárias cautelas.
Citando o chefe da Polícia regional, Gideon Kibunjah, a imprensa local noticiou que a barragem de Patel era utilizada exclusivamente para a irrigação e a piscicultura.
O Procurador-geral da República, Noordin Moha- med Haji, numa carta datada de 10 de Maio endereçada ao inspector-geral da Polícia, Joseph Bionnet, pediu que os resultados dos inquéritos que mandou instaurar sejam submetidos a tribunal em 14 dias.
De acordo com investigações preliminares, a construção desta barragem, tal como sucede com muitas outras existentes no país, não obedeceu aos parâmetros legalmente exigidos pelo que os seus proprietários correm sérios riscos de serem processados.
As autoridades quenianas exigem, por isso, o apuramento das causas desta catástrofe e das suas responsabilidades, se as houver, sublinhando que “as conclusões desses inquéritos deverão ser submetidas aos meus serviços para um exame atento e uma acção apropriada num prazo de 14 dias”.
Existem no Quénia mais de 70 pequenas barragens construídas de modo ilegal para servir em exclusivo grandes fazendas privadas.
Independentemente do que vier a ser apurado, o facto é que as fortes chuvadas que caem no Quénia desde o início de Março já causaram a morte a 162 pessoas, de acordo com dados oficiais fornecidos pelo governo.
Mais de 220 famílias ficaram também sem casa, estando alojadas em centros de acolhimento criados pelo Governo em diferentes províncias do país.
A agência da ONU avisou que há áreas que continuam inacessíveis e que é impossível saber o número total de pessoas afectadas.
As chuvas danificaram 280 escolas, e algumas delas encontram-se totalmente debaixo de água. As inundações também afectaram vários hospitais e arrasaram quase 3.900 hectares de plantações.
Os serviços de emergência do país estão a efectuar trabalhos de resgate junto com a Cruz Vermelha queniana e entidades da ONU como o Unicef. A Cruz Vermelha queniana pediu ao Governo do país que declare as inundações um desastre nacional porque supõem uma dupla tragédia em muitas das comunidades que foram afectadas no ano passado por uma forte seca.
As inundações também podem desencadear ou piorar surtos de doenças como malária e cólera.