Irão aposta na diplomacia para salvar acordo nuclear
Presidente russo apoia esforços de Teerão e analisa a situação com a Chanceler alemã e o Chefe de Estado da Turquia
O ministro iraniano
dos Negócios Estrangeiros, Mohamad Javad Zarif, iniciou ontem uma viagem diplomática para tentar salvar o acordo nuclear após a retirada dos Estados Unidos, num momento de grande tensão após os ataques israelitas às infra-estruturas iranianas na Síria.
Mohamad Javad Zarif visita Pequim, Moscovo e Bruxelas para falar como salvar o acordo, disse à AFP um seu porta-voz.
O Irão não parece disposto a entrar num conflito mais amplo com Israel, uma questão que também é abordada nas reuniões.
O Exército israelita realizou na quinta-feira dezenas de ataques contra alvos na Síria, em represália aos disparos de mísseis “iranianos” em direcção aos Montes Golã ocupados por Israel.
Teerão, que apoia militarmente o Governo do Presidente Bashar al-Assad, desmentiu na sexta-feira a versão israelita do ocorrido na véspera. “Os ataques do regime sionista contra o território sírio aconteceram com pretextos inventados (por Israel), que carecem de fundamento”, declarou o porta-voz do Exército iraniano, Bahram Ghasemi, citado pela agência Isna.
O Presidente iraniano, Hassan Rohani, afirmou, na quinta-feira, durante uma conversa telefónica com a Chanceler alemã Angela Merkel, que o seu país não queria “novas sanções” na região.
Putin é mediador
Na sexta-feira, a calma imperava na fronteira entre Israel e Síria, ao mesmo tempo em que vários líderes mundiais fizeram um apelo para reduzir a tensão após os ataques israelitas e a decisão do Presidente americano, Donald Trump, de abandonar o histórico acordo nuclear com o Irão. A Rússia, que mantém boas relações com o Irão e Israel, tenta actuar como mediador para evitar um conflito aberto.
O Presidente russo, Vladimir Putin, que defende o acordo nuclear, multiplicou os contactos diplomáticos, depois de falar, entre outros, com a chanceler Angela Merkel, e com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
O Presidente russo e a Chanceler alemã “ressaltaram a importância de preservar o acordo para a segurança internacional e regional”, anunciou o Kremlin em comunicado.
A conversa telefónica acontece uma semana antes de uma visita que Angela Merkel vai fazer à Rússia. Na próxima sexta-feira Angela Merkel deve reunir-se com Vladimir Putin em Sochi, uma estância turística no Mar Negro, ao sul do país.
Hoje, entretanto, em Sochi, o Presidente russo recebe o director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Yukiya Amano.
“Em todos os níveis, ressaltamos a necessidade de manter este acordo (nuclear iraniano) que é crucial para a estabilidade no mundo inteiro”, afirmou o conselheiro do Kremlin, Yuri Ushakov, ao denunciar uma decisão “precipitada e errónea” dos Estados Unidos de abandonar o pacto internacional.
Na noite de quinta-feira, Putin e seu homólogo turco “confirmaram a determinação” para continuar a cooperar para manter o acordo com os outros países partes, informou o Kremlin.
Segundo fontes da Presidência turca, ambos os Chefes de Estado concordaram em classificar a decisão americana como “errónea” e “destacaram que este acordo era um sucesso diplomático que tem que ser preservado”.
A Rússia impôs-se nesses últimos anos como um actor de relevância no Médio Oriente, um papel reforçado pela sua bem sucedida intervenção militar na Síria lançada em 2015 em apoio ao Governo de Bashar al Assad.
Além disso, mantém boas relações com países com interesses divergentes e às vezes até rivais, do Irão à Turquia sem descartar Israel.
Mais uma vez, a Rússia encontra-se no centro da situação, depois do Presidente Donald Trump decidir abandonar o acordo assinado em 2015.
Evitar a guerra
Os ataques israelitas reforçaram o temor de que o Irão convença o grupo Hezbollah, seu aliado, a lançar foguetes contra Israel a partir do sul do Líbano como represália.
Ao mesmo tempo, as dúvidas prosseguem sobre o real alcance dos ataques israelitas de quinta-feira na Síria.
Analistas iranianos afirmaram que Israel atacou primeiro e que a reacção veio das forças sírias, não do Irão.
O Exército israelita publicou imagens por satélite dos seus supostos alvos de quinta-feira, que descreveu como quatro centros de Inteligência iranianos nas localidades sírias de Tel Gharba, Tel Kleb, Tel Nabi Yusha e Tel Maqdad. Também divulgou fotos de um complexo militar em Al-Kiswa e de um centro logístico situado a 10 quilómetros de Damasco. Outros analistas consideraram que Israel tinha o aval dos Estados Unidos para ser mais agressivo contra a presença iraniana na Síria.