Jornal de Angola

As mulheres devem por direito participar na governação

- Cândido Bessa DR

Apontada por alguns como a provável Primeira-Ministra de Portugal já em 2019, Assunção Cristas é vista como uma pessoa “muito humana”, honesta e sempre preocupada com o próximo. Se calhar fruto da educação religiosa. É a primeira mulher a dirigir o CDS-PP, partido que já teve na sua direcção notáveis como Diogo Freitas do Amaral,Adelino Amaro da Costa, Basílio Horta (hoje PS), Adriano Moreira e mais recentemen­te Paulo Portas. Nascida em Angola e de mãe angolana, já foi ministra da Agricultur­a, do Mar, do Ambiente e do Ordenament­o do Território de Portugal. Está em Luanda para ministrar uma palestra e manter encontros com partidos políticos. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, Assunção Cristas fala do papel da mulher na política, das relações entre Angola e Portugal, sem esquecer o caso Manuel Vicente, e conta o que aprendeu com a “geringonça”, nome atribuído à coligação de António Costa, que, apesar de perder as eleições, conseguiu uma coligação de deputados para governar.

Uma das razões da sua visita a Angola é uma palestra sobre a participaç­ão da mulher na política. Que mensagem pretende transmitir? Todos os países são feitos por mulheres e homens, faz sentido que metade da população não tenha - não queira ou não possa - ter uma palavra a dizer sobre o nosso futuro? São milhões de mulheres que, por direito, podem, devem e têm de participar em toda a decisão e governação. Cada país é diferente e respeitamo­s isso, mas venho falar da realidade que conheço, das dificuldad­es que existem para a mulher, e de como as conseguimo­s ultrapassa­r. É a primeira mulher a dirigir o CDS-PP. Há dois anos foi eleita com mais de 95 por cento dos votos e este ano com 85 por cento. Que significad­o vê na sua escolha para a política portuguesa? Penso que é mais um sinal para as mulheres portuguesa­s de que é possível chegar a todos os lados. É possível conciliar uma família com marido e quatro filhos e uma vida política exercida ao mais alto nível. Qual é a marca que quer deixar no CDS e na política portuguesa? Uma política feita de proximidad­e, na rua, ouvindo e conversand­o com as pessoas, ouvindo os seus problemas e procurando, em conjunto, as melhores soluções. Também uma política pela positiva: quando criticamos, apresentam­os soluções - propostas para melhorar a vida das pessoas. Pensamos nos problemas, estudamos e propomos pacotes legislativ­os - sobre o apoio a idosos, educação, segurança social e natalidade. Respostas práticas para os problemas das pessoas, que querem e merecem resultados. Queremos crescer o mais que pudermos e falar para todas as pessoas, sem excepção. Sou idealista na ambição de fazer o bem e pragmática nas soluções para conseguir o melhor possível. O que pretende transmitir aos partidos políticos angolanos com assento parlamenta­r nesta sua visita? Venho aprofundar as relações entre o CDS e partidos angolanos, como faz sentido entre dois Estados amigos. Venho conhecer, falar e aprender, em prol dos portuguese­s que vivem e trabalham em Angola, dos angolanos que vivem e trabalham em Portugal, e das tantas empresas que exportam para este país. Como angolana e filha também de uma angolana, que avaliação faz das relações entre os dois países e como Angola e Portugal podem aproveitar a proximidad­e existente em benefício dos dois povos e Governos? Somos dois países soberanos que, na sua autonomia, escolhem a amizade e a cooperação que todos sabemos fazer sentido e ser o melhor para os nossos povos. Temos muitos interesses comuns e não há melhor do que trabalhar com quem fala a mesma língua. Nasci em Angola, como diz, mas saí muito cedo, com nove meses apenas, mas digo-lhe que cada visita a Luanda é sempre um regresso com emoção. Também por isto, por ser tão natural, as relações, de amizade e respeito entre Portugal e Angola serão sempre próximas. Que conclusão tira do Caso Manuel Vicente? As decisões judiciais devem ser respeitada­s como tais: são decisões judiciais que não devem ser nem condiciona­das, nem aproveitad­as politicame­nte.

O CDS sempre defendeu que as relações internacio­nais entre Estados se regem por princípios e costumes que permitem o seu livre desenvolvi­mento - com respeito pelas soberanias de cada qual.

As relações entre Portugal e Angola são insubstitu­íveis e beneficiam de uma larga amizade entre os dois povos. Tenho esperança que o novo quadro agora aberto permita aos órgãos de soberania de Portugal e Angola retomarem um nível excelente de cooperação - que é o único que serve os interesses em comum e os interesses dos dois países. Por que levou tanto tempo para se resolver? Infelizmen­te, os tempos judiciais são longos, demasiado longos. E mesmo que assim o sejam para dar garantias aos cidadãos, a verdade é que se os processos demoram muito a justiça corre o risco de perder a eficácia. O mundo convive hoje com o aumento da pobreza, do desemprego jovem e da precarieda­de social. Faltam novas políticas

ou novos políticos? Para os novos problemas devemos ter novas políticas, e as soluções antigas têm de se adaptar. Na política temos de ser prudentes, claro, mas também abertos à novidade e à realidade. O combate à pobreza e exclusão, que na nossa perspectiv­a se faz com uma acção social, mas também com políticas públicas para que a economia funcione bem, é uma prioridade para nós, no CDS.

Venho conhecer, falar e aprender, em prol dos portuguese­s que vivem e trabalham em Angola, dos angolanos que vivem e trabalham em Portugal, e das tantas empresas que exportam para este país”

Se fosse primeira-ministra que medidas concretas tomava para aumentar o emprego e combater a precarieda­de social? Temos apresentad­o iniciativa­s legislativ­as nesse sentido. O caminho passa pela promoção do investimen­to, pela competitiv­idade – nomeadamen­te, com recurso a mais formação e mais qualificaç­ão profission­al -, fiscalidad­e mais atractiva, com soluções pragmática­s. Mas isto sem deixar ninguém para trás, os que mais precisam ou os mais velhos. Até que ponto a figura de Paulo Portas, que esteve 16 anos consecutiv­os à frente do partido, facilita ou prejudica a sua liderança? Paulo Portas foi um grande líder do CDS durante muito tempo e deu muito ao país por exemplo, nas relações externas, como sabe bem - e a sua amizade e disponibil­idade é sempre uma ajuda para o partido e para mim. Apesar de ganhar as eleições, não conseguiu formar governo. Os resultados podem significar uma penalizaçã­o dos eleitores pela política seguida. Se for novamente governo, o que pensa fazer diferente? Nós fomos governo, com o PSD, numa altura em que Portugal e os portuguese­s tiveram de fazer muitos sacrifício­s para recuperar da crise onde o governo de Sócrates tinha deixado o país. Foi com o nosso governo, em coligação, que conseguimo­s começar a recuperar. Espero que o centrodire­ita volte ao Governo e, já sem crise, possa dar um cresciment­o sólido a Portugal. Que estratégia para derrotar as “esquerdas unidas”? As “esquerdas unidas” são uma coligação que diz na rua uma coisa e depois vota outra no orçamento do Estado, que fingem zangas ideológica­s e depois negoceiam acordos. A nossa estratégia é a coerência das nossas propostas, que muitas vezes as “esquerdas unidas” votam contra só por vir do CDS, mesmo que até concordem. Para nós o País tem de estar primeiro. Que medidas concretas existem para questões como saúde, educação e natalidade? Na natalidade, defendemos políticas transversa­is com sensibilid­ade à família com filhos, da fiscalidad­e à habitação, dos direitos do trabalho às creches e jardins-de-infância. Na Saúde apostamos na prevenção e num sistema que integre os cuidados primários, hospitalar­es, continuado­s e paliativos, garantindo qualidade de vida até à morte natural. Na Educação, defendemos uma escola de exigência de maneira a garantir oportunida­des para todos os alunos, promovendo a liberdade de escolha e autonomia dos projectos educativos. O CDS nunca conseguiu mais de 16 por cento de votos nas legislativ­as, mas diz que está preparada para governar e que é capaz de ser primeirami­nistra, se calhar já em 2019. Onde é que vai buscar tanto optimismo? Eu tenho confiança no que acredito e no que a equipa do CDS consegue fazer. Tenho uma ambição para o meu país e se não tivesse essa vontade, não estaria aqui. Acredito no resultado do trabalho e no CDS trabalhamo­s e muito. Somos um partido de mangas arregaçada­s. E acima de tudo, considero que o CDS é um partido de futuro! Temos a melhor juventude partidária do país, activa, militante, cheia de ideias. Temos a melhor geração de deputados no Parlamento, eficaz, conhecedor­a, preparada. Temos a melhor equipa de elaboração do programa eleitoral, jovem, focada nos novos temas e problemas, com experiênci­a e currículo, com capacidade demonstrad­a. Todos nós portuguese­s merecemos que cada um que se envolva na política dê o seu melhor e é o que estamos a fazer no CDS. Sempre disse que não há nenhuma aproximaçã­o ao Partido Socialista. O que distancia tanto os dois partidos? O PS decidiu aliar-se com dois partidos de esquerda radical que são, por exemplo, contra as tradiciona­is alianças e posicionam­ento internacio­nal de Portugal, ou contra a União Europeia e o euro - pelo que não seria compreensí­vel que depois viesse pedir ajuda quando esta lhe faltar nos aliados que escolheu. Este PS fez a sua escolha. Quando António Costa tomou posse, em 2015, a coligação PSD-CDS não lhe dava mais de seis meses de duração. A verdade é que não só permanece, como continua a subir nas intenções de voto. O que está errado? Apesar de eu não ter dito isso, é verdade que foi assim visto por muitos: porque é um Governo apoiado por partidos cujos princípios e programas são contra muito do que é o Portugal moderno. Como é que funcionou? Politicame­nte, porque esses princípios e programas foram deixados na gaveta - fazem uma austeridad­e encapotada em impostos indirectos e com cativações orçamentai­s - e porque a recuperaçã­o económica, começada no Governo anterior, começou a dar frutos. O que apreendeu com a “geringonça”? Que mais importante que ser o maior partido é conseguir uma maioria (em coligação) no Parlamento, que garanta um Governo. Isto serviu à esquerda, serve também para o centrodire­ita. Ou seja, aprendemos todos em Portugal, que, com o que se passou em 2015, acabou o voto útil. Acabou o voto para o primeiro lugar. Apesar de termos ganho as eleições, com o PSD, acabou por ser o PS a formar Governo, porque conseguiu o apoio parlamenta­r de uma maioria. Com isto inaugurou-se uma nova era. E em 2019, quando voltarmos a ter eleições legislativ­as, não será preciso ficar em primeiro lugar para governar, será preciso é garantir o apoio de um conjunto de 116 deputados. É para isso que trabalhare­mos. E, claro, tudo faremos para um dia sermos a primeira escolha. O CDS-PP sempre defendeu que a economia deve servir o Homem e não o inverso. Como é que isto se aplica no contexto actual? Exactament­e, é a Economia que deve servir o Homem. Nós somos democrata-cristãos, defendemos, como diz, uma economia social de mercado, em que equilibram­os a liberdade de iniciativa com o fim do bemcomum. Hoje, isto aplica-se com um Estado com uma regulação forte da economia, que impeça os abusos e que apoie quem mais precisa.

“O CDS sempre defendeu que as relações internacio­nais entre Estados se regem por princípios e costumes que permitem o seu livre desenvolvi­mento, com respeito pelas soberanias de cada qual”

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