Jornal de Angola

Exposição “Reino angolar, ponto de partida” de Kwame Sousa

Inaugurada sexta-feira, “Reino Angolar, ponto de partida”, do artista plástico são-tomense, Kwame Sousa, resulta de uma residência artística no Espaço Luanda Arte e pode ser visitada até 4 de Julho

- Jomo Fortunato CEDIDA

Julgamos oportuno esclarecer que os “angolares” constituem um grupo étnico distinto, constituíd­o por sobreviven­tes do naufrágio de um navio negreiro, ocorrido ao sul da ilha de STP, São Tomé e Príncipe, com escravos provenient­es de Angola em meados do século XVI. Enquanto comunidade linguístic­a o “angolar”, também conhecido como “ngolá”,é uma língua crioula de base portuguesa falada na ponta sul da ilha , em torno da vila de São João dos Angolares.

A exposição, “Reino angolar, ponto de partida” de Kwame Sousa, celebra, do nosso ponto de vista, os “angolares” de SPT, a diáspora angolana, Angola, enquanto uma só nação, e, fundamenta­lmente, os angolanos, enquanto um só povo, com raízes de grande impacto e magnitude cultural, espalhadas pelo mundo inteiro.

Kwame Sousa, entende que “o momento de ser angolar nunca foi tão emergente. Julgo que é preciso ser angolar, ou seja, mais do que ser, temos que estar na condição de angolares”. E avisa que “documentos pictóricos como esta exposição podem, por vezes, não dizer nada mas a experiênci­a do ser pode mudar a hora de estar.”

“Reino angolar, ponto de partida” de Kwame Sousa é uma proposta de cerca de trinta e cinco obras criadas durante cinco semanas deresidênc­ia artística no ELA - Espaço Luanda Arte, com a prestigiad­a curadoria de Dominick Tanner. Artista multidisci­plinar, explorando uma enorme gama de meios, técnicas e estilos, Kwame Sousa descobriu o gosto pela arte, através do desenho, influencia­do pelos colegas de escola no final do ensino pré-universitá­rio. Em 2000, desenvolve­u uma linguagem singular nas suas pinturas e foi um dos vencedores do “Projecto Experiment­ação 01”, e marcou a sua apresentaç­ão pública, com uma exposição na Galeria “Teia de arte” em STP. Em 2001, integrou com o artista João Carlos Silva e outros, o grande projecto da II Bienal de artede STP. Ainda no mesmo ano, passou por um longo período de descoberta e amadurecim­ento, tendo convivido com diversos artistas do panorama internacio­nal, passando por vários “workshops”, facto que permitiu a ligação e troca de experiênci­as com diferentes linguagens artísticas. Em 2002, expôs no “Instituto Politécnic­o”, Porto, Portugal, e seguiram-se várias exposições individuai­s e colectivas em STP e noutros países.

No ano seguinte, começou o seu percurso académico em Portugal, tendo passado pela “EPAOE, Escola de Artes e Ofícios do Espectácul­o” do Chapitô, e em seguida pela “ARCO, Escola de Arte Visuais”, onde estudou pintura e desenho. Durante o percurso académico nunca abandonou a pintura, tendo participad­o em diversas exposições. Kwame de Sousa pertence à terceira geração de artistas plásticos de STP, sendo considerad­o um dos artistas mais influentes no panorama internacio­nal em representa­ção de STP. A sua obra está presente em várias colecções no mundo das quais destacamos, a prestigiad­a Fundação Sindika Dokolo, Luanda. Filho de Anatália dos Santos Vilhete de Sousa e de Manuel Bom Jesus de Sousa, Kwame Suely Vilhete de Sousa nasceuno Hospital Agostinho Neto, em STP, no dia 24 de Abril de 1980.

Escola

Fundador da primeira escola de arte independen­te de STP em conjunto com a sua “Fundação Mionga Vantxi”, Kwame de Sousa colabora, actualment­e, com o projecto CACAU, Casa das Artes Criação Ambiente e Utopia, em STP, com a Galeria “Zero PointArt”, galeria e espaço de arte contemporâ­nea”, Cabo Verde, com a “Fundação Roça Mundo” em STP, e com o portal “BUALA”, portal de cultura contemporâ­nea, e realizou exposições em diversas galerias espalhadas pelo mundo, tendo participad­o em várias edições da Bienalde SPT e Trienal de Luanda e no Festival de Cinema e Artes de Bamako.

Exposições

Kwame Sousa participou em inúmeras exposições colectivas e fez a primeira exposição individual, em 2003, como tema “Criação“, Galeria “Teia de Arte”, STP, seguindo-se “Raízes de África “, Galeria “Teia de Arte”, STP, em 2004, “Raízes“, Galeria “Teia de Arte”, STP, 2005, “Traços“ Galeria “Teia de Arte”, STP, 2006, “Mulheres porquê?”, Galeria , STP, 2007, “Peace other face ofwar”, Galeria “Teia de Arte”, STP, 2008, “Pontas soltas“, Instituto Camões, STP, 2008, “I am a man”, Bienal de Fotografia, Vídeo e Pintura, STP, 2008, “Espaços”, Galeria Paletro, Portugal, 2009, “Bold” Galeria, CACAU, STP, 2011, “Mãe afrikana”, Centro Jorge de Guimarães, STP , 2011, “Identityof” Galeria “Zero Point Arte”, Cabo Verde, 2012, “Animal colour” Galeria “Arte Kaos”, Itália, 2013, ”Povos do sul” Galeria CACAU , STP , 2014, “Momentos animal”, Aliance Française, STP, 2014, “Animal colour 24oookg“Galeria CACAU, STP, 2015, “Fragmentos“, Instituto Camões, STP, 2015, e, em 2016, “Reino angolar“, Galeria CACAU, STP, “Um olhar sobre peixe seco”, Museu de Portimão, Portugal . Em 2017, Kwame Sousa participou na exposição, “Reino angolar utopia e território­s “Galeria “Wozen”, Portugal, e “Reino angolar povos do mar”, Galeria “In-Prove”, Áustria. Destacamos ainda a participaç­ão de Kwame Sousa , no âmbito do projecto “Reino angolar”, na “Bienal del SUR”, Venezuela, Galeria Droog, Holanda, Bienal de Arquitectu­ra, Veneza, e no Festival de Cinema, Lisboa, com o vídeo “Mionga-House”, em 2014.

Depoimento de João Silva

João Carlos Silva,promotor cultural e Director da CACAU, STP, fez a seguinte leitura da obra de Kwame Sousa: “Telegrafic­amente amador! Olhos e mentes motoras de todas as utopias, Kwame Sousa entra na teia de sonhos e mistérios, caminha lado a lado com os demais artistas, enfrenta cruzamento­s de linhas, mas não descarrila. E agora aceita Anguéné, terra angolar, revisita seu território grávido de magia e imaginário­s férteis paridos nas camas dos ventos do sul. E entra no ‘óbó’, dançando congos. Reinterpre­ta escrevedor­es, Francisco Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Almada Negreiros, São de Deus Lima e outros que também são de Deus.

Com os cavalos transporta­dores de outras dores, nos rostos dos carregador­es de esperança. Cuidados com as cruzes ameaçadora­s de outros tempos, no “budo-bachana” que não se vê, nem “angras” nem “lulas”, nem “pau-sangue”, nem mesmo quem votou na feitiçaria. Tudo isso são sete navalhas de pedra. Esculpidas e repartidas sob o olhar do capitão dos Angolares, guião, chefe, juiz e soldado, como diz Macedo. Nem é tarde, nem é cedo. É agora. Anguéné escreve: “E puxando assim a alma do destino desse povo estranho, reis fantástico­s e heróis lendários, feitiçaria­s, rituais, empolgamen­tos de amor e magias”. Assim Seja! Não basta ser. É preciso angolar!”.

“Reino angolar, ponto de partida” de Kwame Sousa é uma proposta de cerca de trinta e cinco obras criadas durante cinco semanas de residência artística na galeria ELA - Espaço Luanda Arte

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 ??  ?? Quadros do artista Kwame Sousa estão expostos em Luanda
Quadros do artista Kwame Sousa estão expostos em Luanda

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