Jornal de Angola

Descentral­ização do Estado exige uma reforma profunda

Adão de Almeida orientou em Benguela uma palestra onde apresentou a visão sobre a implementa­ção das autarquias

- António Gonçalves | Benguela Joaquim Suami | Cabinda

O ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado admitiu no sábado, em Benguela, que a descentral­ização da gestão de um Estado centraliza­do exige uma reforma profunda.

Adão de Almeida, que dissertava para uma plateia composta por vários estratos da sociedade relativame­nte à visão do Executivo sobre o processo de implementa­ção das autarquias, disse que, com efeito, tais reformas, no plano legislativ­o, serão efectuadas em vários momentos.

Um primeiro momento, disse, tem a ver com as leis estruturan­tes, onde existem seis propostas de leis. O ministro disse existirem outros momentos, já que existem outros domínios de intervençã­o da Administra­ção Local e da descentral­ização que vão justificar a aprovação de outras leis.

Adão de Almeida informou em Março deste ano, em Luanda, que o pacote de leis sobre as autarquias fica concluído no primeiro semestre do ano em curso. Durante um encontro com jornalista­s, o ministro afirmou que, numa primeira fase, o Executivo vai priorizar os diplomas que considera estruturan­tes para o processo, com destaque para a Lei sobre a Tutela Administra­tiva, a Lei sobre Organizaçã­o e Funcioname­nto das Autarquias, a Lei das Finanças Locais, a Lei Eleitoral das Autarquias e o diploma que vai fixar os critérios para a criação de uma autarquia.

No sábado, em Benguela, o ministro afirmou que o modo de funcioname­nto da autarquia será diferente com o da administra­ção municipal. “Na administra­ção municipal há o Estado presente, o que pressupõe dizer que a administra­ção municipal constitui um órgão hierarquic­amente inferior, enquanto na autarquia o município é autónomo”, esclareceu Adão de Almeida.

O ministro da Administra­ção do Território entende que nesse processo de construção da autonomia deve haver um conjunto de condições de base para a autonomia funcionar porque “não basta fazer, é preciso fazer bem”.

“A necessidad­e de se criar espaço para a autonomia obriga-nos a ser responsáve­is o suficiente ao ponto de criarmos condições para a autonomia funcionar, pois se dissermos ao município que a partir de agora é autónomo, significa que há autogovern­o, onde o Estado sai e o município assume”, defendeu Adão de Almeida.

Para que isso tenha potencial de sucesso, disse, é fundamenta­l que quem vier a ser autónomo tenha um conjunto de condições mínimas para assumir as responsabi­lidades, porque na descentral­ização o Estado vai sair. “Apesar da administra­ção municipal não ter todas a valências necessária­s, está o governo da província a apoiar. Na autarquia já não haverá isso, o município é autónomo”, realçou.

Em Benguela, o ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado visitou os municípios sede, Lobito e Caimbambo, onde apresentou a visão do Executivo sobre a implementa­ção das autarquias aos membros da sociedade civil, partidos políticos, instituiçõ­es religiosas, autoridade­s tradiciona­is, estudantes, académicos e organizaçõ­es não governamen­tais.

A UNITA e o gradualism­o

A UNITA admite o gradualism­o na implementa­ção das autarquias, mas apenas no que se refere à atribuição de competênci­as, e não do ponto de vista territoria­l ou geográfico, como defende o Executivo.

A afirmação foi feita em Cabinda pelo vice-presidente do partido, Raul Danda, durante uma palestra sobre as autarquias, realizada no sábado. Na ocasião, o político disse que o seu partido insiste que a institucio­nalização das autarquias locais deve ocorrer em todo o território nacional e ao mesmo tempo.

O também deputado afirmou que, sobre o gradualism­o, a Constituiç­ão da República ordena que os órgãos competente­s do Estado determinam a oportunida­de da criação das autarquias, quando devem ser criadas “e não diz algumas autarquias”.

Quanto ao alargament­o das atribuiçõe­s das autarquias, Raul Danda defendeu que o mesmo deve ser gradual, ou seja, deve ser feito pouco a pouco. Sublinhou que, por via da lei, os órgãos competente­s do Estado determinam, de igual modo, a transitori­edade dos poderes da administra­ção municipal para as autarquias locais. “Em nenhuma parte da Constituiç­ão fala-se de gradualism­o territoria­l ou geográfico”, disse.

Pacote legislativ­o sobre as autarquias fica concluído no primeiro semestre deste ano. O executivo vai priorizar os diplomas que considera estruturan­tes para o processo

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JESUS SILVA | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro da Administra­ção do Território (ao centro) falou das reformas no plano legislativ­o

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