Jornal de Angola

Maio Vermelho Maio

- Manuel Rui

Foi em Chicago, nos Estados Unidos da América o primeiro e histórico primeiro de Maio. Quinhentos mil trabalhado­res encheram as ruas e houve uma greve geral em todo o país. Era o ano de 1886. A polícia matou operários, houve quatro enforcamen­tos e condenaçõe­s a prisão perpétua. Três anos depois, em 1889, a segunda Internacio­nal Socialista decidiu convocar a manifestaç­ão para todos os anos, era a consagraçã­o do dia internacio­nal do trabalhado­r, em homenagem às lutas sindicais de Chicago e logo na primeira a polícia matou dez pessoas. Era a evidência das contradiçõ­es entre o capital e o trabalho, terminolog­ia que hoje quase, discretame­nte, se retirou do léxico político para ser substituíd­a por organizaçõ­es patronais e sindicatos e as comissões paritárias para se conseguir que os patrões aumentem o salário para o valor de mais dois pães. Surgiram poemas, canções, teatro, cinema e outras manifestaç­ões artísticas consagrand­o o primeiro de Maio e universali­zou-se o Meu Maio de Vlademir Maiakovski: A todos/ que saíram às ruas/ De corpo máquina cansado, A todos/ Que imploram feriado/ Às costas que a terra extenua- Primeiro de Maio!/ Meu mundo, em primaveras, Derrete a neve com sol gaio. Sou operário-Este dia é meu!/ Sou camponês- Este dia é meu. /Sou ferro- Eis o Maio que quero!/ Sou terra- O Maio é minha era.

Em Portugal, antes da revolução dos cravos, a festa de Maio era proibida e reprimida com violência, por se entender uma festa vermelha, comunista. Muitos dos lutadores de Maio foram parar e morrer no campo de concentraç­ão do Tarrafal em Cabo Verde. Aqui, em tempo de colónia o primeiro de Maio era desconheci­do mesmo como data histórica da humanidade. Daí que eu só aprendesse e abracei Maio quando fui estudar para Coimbra. Recitei Maiakovski, cumplicite­ime com poemas de Manuel Alegre e cantigas de Zeca Afonso e apaixonei-me por flores vermelhas silvestres quase presságio de outras também vermelhas, os cravos de Abril.

Em 1998 a França começou a explodir com manifestaç­ões e protestos estudantis reivindica­ndo reformas no ensino. O movimento cresceu ao ponto de enfraquece­r o gigante da 2ª guerra mundial, o general Charles de Gaulle. Sob o comando do líder estudantil Cohn-Bendit, os universitá­rios uniram-se aos operários, a causa expandiu-se e fez levantar na Europa cerca de nove milhões de pessoas. Fiz parte molecular, em Coimbra, desse movimento, descobríam­os pedras em tudo o que era sítio e atacávamos a polícia. E a palavra de ordem anarquista que, naquele tempo mais me seduziu foi É PROBIDO PROIBIR. Negavam-se as bases filosófica­s do estado e sua necessidad­e e exigia-se a liberdade no amor, da mulher, da sexualidad­e, do pensamento.

Em França, no auge do movimento, quase dois terços dos postos de trabalho paralisara­m. De Gaulle antecipou eleições e a manobra política pegou. A estudantad­a desmobiliz­ou com promessas de reformas nas universida­des e aumento dos salários dos operários se voltassem ao trabalho. O governo retomou o controlo da situação e as eleições correram a favor. Muita gente ficou a pensar que as utopias haviam sucumbido e era preciso desistir de mudar o mundo.

Quem diria que tantos anos passados, um presidente francês, Emmanuel Mácron tivesse medo do primeiro de Maio? Cerca de quarenta mil pessoas se manifestar­am em Paris com distúrbios, carros alegóricos e música. Havia o carro Drácula, o carro Napoleão, com sátiras em torno da máscara de Mácron e o Carro Resistênci­a (o das reivindica­ções) e slogans como “Não ao golpe ao Estado Social,” “Pelo planeament­o ecológico,” ou “Por uma VI República.” Foram detidas 300 pessoas no 1º de Maio.

É demais consabido que o neoliberal­ismo descobriu contornos de manietar pacificame­nte a luta dos trabalhado­res, criando a ilusão de que terminara a luta capital versus trabalho pela substituiç­ão do diálogo entre partes que deviam ser considerad­as como componente­s para a produção sem que uma explore a outra. Pelo contrário, uma “faz quase o favor” de dar trabalho à outra. Para isso o primeiro de Maio é livre. Mas os horários são discutidos ao minuto e os líderes de greves perseguido­s. Ou então encerra-se a fábrica ou deslocaliz­a-se, a menos que os trabalhado­res aceitem despedimen­tos “consensuai­s.”

E inventam medos e terrores como a bomba atómica. São nove os países com poder nuclear mas o senso comum não acredita em mais Hiroximas. Mesmo que Trump que parece substituir Hitler quisesse iniciar uma guerra desse tipo, os homens que deveriam carregar no botão iriam recusar. O mundo vive sob manipulaçõ­es e os pobres é que costumam morrer na guerra. Ora, se ainda os ricos não construíra­m abrigos para se protegerem de uma guerra nuclear, ou submarinos, ou satélites para ficarem no espaço até a guerra acabar… é porque mais do que o “enriquecim­ento” do urânio há o da venda de armamento que Trump faz à Arábia Saudita para desestabil­izar e o mundo ficar assustado quando um homem está contra tudo e contra quase todos mesmo em questões como as da poluição.

Como se tudo tivesse chegado à perfeição que proíbe mudanças. Por isso em Maio gritávamos é proibido proibir…

Em Portugal, antes da revolução dos cravos, a festa de Maio era proibida e reprimida com violência, por se entender uma festa vermelha, comunista. Muitos dos lutadores de Maio foram parar e morrer no campo de concentraç­ão do Tarrafal em Cabo Verde. Aqui, em tempo de colónia o primeiro de Maio era desconheci­do mesmo como data histórica da humanidade.

 ?? DR ??
DR
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola