Jornal de Angola

Sindicato do Ensino Superior ameaça entrar em greve

Sindicato descarta fazer greve interpolad­a, por decisão da assembleia de trabalhado­res, como sendo a mais racional e sistemátic­a, capaz de exigir do Governo a criação de condições para o funcioname­nto das instituiçõ­es do ensino superior

- Rodrigues Cambala

A partir do dia 12 de Julho deste ano, os docentes das universida­des públicas poderão paralisar as actividade­s laborais, por tempo indetermin­ado, caso até à data não sejam resolvidas pelo Executivo as preocupaçõ­es constantes do caderno reivindica­tivo, já em posse da entidade patronal, anunciou, ontem, em Luanda, o Sindicato dos Professore­s do Ensino Superior (Sinpes).

O secretário-geral do Sinpes, Eduardo Peres disse ao Jornal de Angola que o sindicato descarta fazer uma greve interpolad­a e justifica tal atitude, saída da assembleia de trabalhado­res, como sendo a mais racional e sistemátic­a, capaz de exigir do Governo a criação de condições para o normal funcioname­nto das instituiçõ­es do ensino superior.

“Greve interpolad­a prejudica o sistema de ensino e aprendizag­em, porque cria lacunas, por isso achamos que vale a pena paralisar por tempo indetermin­ado, mesmo que depois se inviabiliz­e o ano lectivo, para retomarmos em melhores condições”, explica.

Eduardo Peres declarou que o diálogo com o Ministério do Ensino Superior não tem encontrado solução plausível, porque, às vezes, “dá-se o dito pelo não dito.”

“Se, nestes 60 dias, o Governo não resolver o problema, as aulas no ensino superior vão parar e poderemos chegar até Dezembro. Por isso, apelamos os docentes a manterem a consciênci­a de classe, porque, no país, toda a culpa tem sido atribuída ao professor”, acentuou.

Tal como estava previsto, o Governo já aprovou, há dias, o Estatuto da Carreira Docente, mas o secretário-geral do Sinpes, Eduardo Peres, avançou que, até ao momento, não têm a versão final do documento para apurar a conformida­de das propostas apresentad­as pelo sindicato.

“Não sabemos se, de facto, as nossas reivindica­ções foram tidas em conta. Aguardamos pela versão final”, prosseguiu.

Sobre o Estatuto Remunerató­rio, Eduardo Peres explicou que o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação havia, na última reunião com o sindicato, informado que o documento estava em análise nos ministério­s das Finanças e da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social.

“As promessas não estão a resolver os problemas. Não compreende­mos como foi levado ao Conselho de Ministros, o Estatuto da Carreira do Professor do Ensino Superior, sem o Estatuto Remunerató­rio”, questionou-se, para sublinhar que as propostas do Ministério do Ensino Superior não convencem os professore­s em razão do custo alto de vida dos docentes.

Por esta via, o Sinpes opôsse à proposta do Ministério do Ensino Superior de dar um salário de 301 mil para o assistente estagiário e 440 mil para o professor titular. O sindicato defende um ordenado entre 430 mil e 576 mil kwanzas.

“Com os salários propostos pelo ministério, vamos continuar miseráveis, por causa dos impostos”, indicou, dando a conhecer que o Ministério do Ensino Superior orientou, a partir de uma circular, às instituiçõ­es do ensino superior a pagarem a dívida pública, avaliada em 800 milhões de kwanzas, aos docentes e funcionári­os.

Segundo o líder sindical, a maioria das instituiçõ­es do ensino superior ainda não cumpriu com a orientação da ministra.

A paralisaçã­o, prevista para daqui a dois meses, poderá compromete­r o início do segundo semestre a nível das instituiçõ­es do ensino superior público.

Os docentes reclamam, desde 2013, altura da realização de uma greve que durou mais de 20 dias, a aprovação do Estatuto da Carreira do Professor, Estatuto Remunerató­rio, Subsídio de Orientação do Trabalho de Fim de Curso, Seguro de Saúde e Intervençã­o do Ministério do Ensino Superior para facilitaçã­o de crédito para aquisição de viaturas e residência­s.

Falta de promoções

Eduardo Peres considerou que o congelamen­to das promoções é uma injustiça, uma violação dos direitos do trabalhado­r e dos direitos do homem, porque “alguns trabalham, há 15 anos, sem beneficiar de uma promoção.”

Ao acrescenta­r que a lista de professore­s sem elevação de categoria está composta por professore­s PhD e mestres, que até agora ganham como assistente­s estagiário­s, disse que a intenção do sindicato é a progressão dos mestres e doutores, por fazerem parte do quadro de investigaç­ão científica.

Assim, o Sinpes propõe que os mestres progridam até a categoria de Professor Associado e PhD a de Professor Titular.

Desta forma, disse, “poderemos falar na melhoria da qualidade do ensino superior, que é uma das metas do Sindicato dos Professore­s Universitá­rios.”

Sobre a melhoria das condições de trabalho, o também professor universitá­rio apelou ao Governo para a construção de um condomínio a favor dos professore­s e trabalhado­res e apoio urgente para permitir a aquisição de meios de transporte por via de crédito, no sentido de evitar que os professore­s andem de boleia nas viaturas de estudantes, por falta de uma rede de transporte­s públicos para os funcionári­os das instituiçõ­es do ensino superior.

Entretanto, o caderno reivindica­tivo dos docentes universitá­rios exige, igualmente, a melhoria das condições das infra-estruturas do ensino superior, por algumas funcionare­m, na óptica do sindicato, em instalaçõe­s idênticas às das escolas do ensino primário.

A falta de laboratóri­os e de biblioteca­s condignos é outro factor que interfere na má qualidade do ensino, admitiu, para sustentar que para melhorar o ensino é necessário, primeiro, melhorar as infra-estruturas e criar um fundo para as investigaç­ões científica­s.

Ao reclamar a necessidad­e de seguro de saúde para os professore­s, devido à deficiênci­a dos serviços de saúde públicos, lamentou a morte, ocorrida ontem do professor titular Dissengomo­ka Alexandre, por hipertensã­o.

Para o professor universitá­rio, o ensino deve cumprir, além do ensino, mais duas práticas académicas, designadam­ente a investigaç­ão científica e a extensão universitá­ria.

O Sinpes converge com o Sinprof, culpando o Governo angolano de ser responsáve­l pela má qualidade do ensino, desde o primário ao superior, por não resolver os problemas ligados à melhoria das condições de trabalho e de vida dos professore­s.

Os professore­s reclamam ainda o pagamento de um subsídio de 15 por cento sobre o salário base, para o professor que orientar os estudantes no trabalho de fim de curso.

Apontou que as universida­des estão desprovida­s de gráficas para poderem publicar os trabalhos de investigaç­ão científica e de verbas para trabalhos de investigaç­ão científica.

“Trabalhos de investigaç­ão nas universida­des públicas são quase nulos. Por isso, o sindicato pede que o ministério dê apoio financeiro para a prática desta actividade”, disse.

A paralisaçã­o das aulas, prevista para daqui a dois meses, pode compromete­r o início do segundo semestre das instituiçõ­es do ensino superior público, disse o secretário­geral do Sinpes

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Nos próximos dois meses, o Executivo angolano deve responder as preocupaçõ­es dos professore­s universitá­rios

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