Grandes projectos agrícolas têm graves falhas de gestão
O maior investimento público alguma vez feito no país para reduzir o défice de produção de cereais está a ser alvo de injecção de dinheiro do erário,através do Fundo Soberano, para superar falhas técnicas e problemas de gestão
Fazendas do Estado, criadas há pouco mais de cinco anos, para aumentar a produção interna e reduzir as importações de bens de primeira necessidade, “apresentam problemas gravíssimos”, que impedem a exploração integral das capacidades instaladas, revelou a Cofergepo, empresa envolvida na gestão de projectos agro-industriais públicos. “Umas mais do que as outras, no geral, todas as unidades apresentam problemas gravíssimos” de gestão, disse ao
Jornal de Angola o director-geral da Cofergepo, José Suspiro, referindo-se às fazendas de Sanza Pombo, Camacupa, Longa, Camaiangala e Cuimba.
Fazendas do Estado, criadas há pouco mais de cinco anos, para aumentar a produção interna e reduzir as importações de bens de primeira necessidade, “apresentam problemas gravíssimos”, que impedem a exploração integral das capacidades instaladas, revelou a Cofergepo, empresa envolvida na gestão de projectos agro-industriais públicos.
“Umas mais do que as outras, no geral, todas as unidades apresentam problemas gravíssimos”, disse ao Jornal de Angola o director-geral da Cofergepo, José Suspiro, referindo-se às fazendas de Sanza Pombo, Camacupa, Longa, Camaiangala e Cuimba, localizadas nas províncias do Uíge, Bié, Cuando Cubango, Moxico e Zaire, respectivamente.
José Suspiro reparte as responsabilidades pela degradação precoce das fazendas entre as empresas chinesas envolvidas na sua construção, que diz terem descurado importantes pormenores técnicos, e a empresa gestora, Gesterra, que acusa de não ter cuidado dos equipamentos como devia, a ponto de permitir que máquinas modernas que deviam ter um tempo útil de 20 anos se estragassem em cinco anos.
As fazendas de Sanza Pombo, Camacupa, Longa, Camaiangala e Cuimba fazem parte de um rol de projectos agroindustriais que eram geridos pela Gesterra, até 2016, quando, por força de um decreto presidencial, passaram para o controlo do Fundo Soberano, que as confiou aos cuidados da Cofergepo.
Olhando para as condições em que recebeu as cinco unidades, a Cofergepo diz não ter dúvidas de que, se por um lado, as empresas chinesas que participaram na criação das fazendas cometeram erros técnicos, cuja reparação se revela onerosa, por outro, a empresa que geria os projectos contribuiu para a degradação prematura dos equipamentos.
À Gesterra recai ainda a acusação de, estranhamente, ter permitido que os chineses retirassem meios e equipamentos da fazenda do Longa e de ter dado um destino incerto a várias máquinas e equipamentos da fazenda de Sanza Pombo.
Falhas técnicas
Entre as falhas apontadas às empresas chinesas, a Cofergepo destaca o facto de terem colocado os pivôs para rega em terrenos pantanosos, sem proceder, primeiro, à drenagem dos solos, e de ter instalado no Longa equipamentos desproporcionais às necessidades da Fazenda.
Sobre o estado em que encontraram as fazendas, o director-geral da Cofergepo começa por referir-se ao Longa, onde havia muito “ferrovelho”. Dos 35 tractores apenas três funcionavam “mais ou menos”. Os 15 pivôs para irrigação estavam completamente inoperacionais.
A degradação dos pivôs, lembra, resulta do facto de terem sido instalados em terreno pantanoso, apesar da respectiva drenagem constar do orçamento. Quadro idêntico foi encontrado na fazenda de Camacupa, onde os pivôs instalados numa área de 400 hectares foram encontrados completamente destruídos.
Aliás, na fazenda do Longa, segundo José Suspiro, os pivôs instalados pelos empreiteiros chineses nunca funcionaram, “porque as áreas em que tinham que circular estavam alagadas e era necessário, primeiro, fazer a drenagem”, o que só começou a ser feito pela nova gestora.
Na fazenda do Sanza Pombo, segundo o gestor, o parque de máquinas também estava completamente destruído. Dos oito tractores de marca Lovol de 180 HP, sete tinham os motores abertos, três dos quais sem possibilidade de recuperação.
Trata-se de equipamentos concebidos para operar entre oito e 10 mil horas, ou 12 a 15 anos, e que não passaram das mil horas, no geral. Das quatro máquinas John Deer de 120 HP foi encontrada apenas uma em funcionamento. Dos 10 bulldozers de grande dimensão, dois trabalhavam com dificuldades.
O rol de equipamentos avariados na fazenda do Sanza Pombo incluía três escavadoras do tipo Volvo 240 BLC, cuja recuperação está avaliada em cerca de 300 mil dólares norte-americanos, segundo o director da Cofergepo.
Nas outras fazendas, de acordo com a direcção da Cofergepo, o cenário é quase idêntico, admitindo, no entanto, que seria mais difícil hoje a recuperação dos empreendimentos, se o Executivo não tivesse afastado a Gesterra da sua gestão.
Não obstante a decisão de transferência da gestão das fazendas remontar a 2016, segundo a direcção da Cofergepo, o processo só ficou concluído há pouco menos de oito meses.
Para reactivar as cinco fazendas, a Cofergepo diz ter gasto, até ao momento, cerca de 24 milhões de dólares. Mas em relação à fazenda Longa, a empresa admite que, pelo “grau de destruição que apresenta, a recuperação levará entre três e quatro anos”.
“A herança recebida da Gesterra”, diz José Suspiro, inclui conflitos com a população, cujas lavras foram expropriadas, e os proprietários não foram indemnizados nos termos dos acordos assinados.
Sobre a Gesterra recai a acusação de, estranhamente, ter permitido que empresas chinesas retirassem, para destino incerto, meios e equipamentos da fazenda do Longa