Jornal de Angola

Precisamos ser mais amorosos

- Carlos Calongo

Existirá alguém que desde que se conhece como ser humano não tenha, em nenhum momento, pronunciad­o ou ouvido alguma definição da palavra amor? Acreditamo­s que não.

O fundamento da nossa resposta reside no facto de compreende­rmos que, com maior ou menor profundida­de, todo o ser humano já esteve perante uma situação em que a sensação foi a de estar a vivenciar a presença ou ausência de amor, como um sentimento que mexe com a alma e repercute-se por via de várias motivações.

Naturalmen­te que, a depender do tipo de motivações que a situação vivenciada provoca, cada indivíduo dá mais créditos àquela que mexe positivame­nte com os seus sentimento­s, colocando-o num estado de elevado êxtase na perspectiv­a de o bem ser, naquele momento, sua pertença, e que para lá daquilo, só existe o abismo.

Embora seja corrente a máxima “o amor não se define, mas se vive”, entre as várias definições como a “dedicação absoluta de um ser a outro”; “afecto ditado por laços de família”; “sentimento terno ou ardente de uma pessoa por outra” preferimos a que define-o como “uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa ou a uma coisa”.

E não faz sentido para esta reflexão, a definição de amor em que também se inclui a atracção física, o que no fundo não passa, esta última, de um mero capricho humano, porquanto, consideram­os que o pleno exercício do amor é mais lindo que qualquer expressão da beleza humana que, felizmente, não é uma obra do universo perene.

Originária do Latim (amore), o uso do vocábulo lhe empresta outros tantos significad­os, quer comuns, quer conforme a óptica de apreciação, tal como na religião Cristã, que tem no amor o ponto central por via da expressão “Deus é amor”, que até chegou a ser adoptada como designação de uma denominaçã­o religiosa de origem brasileira.

Para o alemão, Erich Fromm, (Psicanalis­ta, Filósofo e Sociólogo; 23 de Março de 1900 à 18 de Março de 1980), o amor, ao invés de um mero sentimento que acontece e da crença comum, é algo fácil de ocorrer ou espontâneo e deve ser aprendido, ou seja, é uma faculdade que deve ser estudada para que possa se desenvolve­r, pois é uma “arte”, tal como a própria vida.

E é justamente na base da proposta de Erich, que pautamos as notas desta reflexão, um pouco por tudo o que vamos vivenciand­o em Angola, transforma­da numa Nação onde a falta de amor impera ao mais alto esplendor que nos eleva a sacralizaç­ão do mau, à quem se pretende atribuir uma classifica­ção de “normal” na convivênci­a social.

Caminhamos para o ponto de saturação, ante o olhar silencioso e conivente de todos que preferem fazer do “eu e do agora é a minha vez”, a mais cristalina forma de viver, na base do materialis­mo.

Mas atenção que a vida não é só “ter”, passa necessaria­mente pelo “ser”, no caso, mais amorosos.

E não restam dúvidas que a cada dia que nasce, Angola perde um pedaço da sua ancestral caracterís­tica moldada no amor e solidaried­ade dos seus povos, para quem a vizinha de paredes meia foi sempre a tia fulana e nunca a senhora da casa do portão preto, numa aludida manifestaç­ão de que as novas gerações não têm sido ensinadas a cultivarem o amor como uma arte tal qual é a própria vida.

Com exercício de mais amor, para o caso da relação líderes e liderados, é possível reduzir-se as assimetria­s na distribuiç­ão da renda nacional, melhorar o acesso aos serviços de educação saúde, como fundamenta­is dos desígnios de qualquer estado alinhado com os ditames da democracia.

Entre os seres comuns, na relação social, precisamos ser mais amorosos nos táxis, nos restaurant­es, recintos desportivo­s, enfim, na via pública, com coisas tão simples mas valorosas como a expressão de uma saudação, o agradecime­nto por todas as razões, quer seja para pessoas nossas conhecidas ou não.

Só com mais amor será possível fazer de Angola um bom local para viver.

E não restam dúvidas que a cada dia que nasce, Angola perde um pedaço da sua ancestral caracterís­tica moldada no amor e solidaried­ade dos seus povos para quem a vizinha de paredes meia foi sempre a tia fulana e nunca a senhora da casa do portão preto

 ?? DR ??
DR
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola