Jornal de Angola

Repatriame­nto voluntário de capitais é já em Junho

Processo terá duração de seis meses, findos os quais começa a fase coerciva. Partidos da oposição lamentaram o facto de não se terem fundidas as propostas do Executivo e da UNITA. A CASA-CE chegou mesmo a sugerir nova discussão na especialid­ade

- Adelina Inácio

Começa já no próximo mês de Junho o repatriame­nto voluntário dos recursos financeiro­s levados para o exterior de forma ilícita, para apoiar os esforços de desenvolvi­mento do país. A Proposta de Lei de Repatriame­nto de Recursos Financeiro­s Domiciliad­os no Exterior do País, sub- metida ao Parlamento pelo Executivo, foi ontem aprovada com 133 votos a favor do MPLA, 65 contra da UNITA, CASA-CE e PRS e uma abstenção da FNLA. A Lei define duas fases para o repatriame­nto. Na primeira, o repatriame­nto é voluntário, e durante a qual é dado um período de moratória de seis meses. Os que aderirem ficam livres de qualquer tipo de procedimen­to judicial. A segunda é coerciva e de acção, que o Estado recorre aos procedimen­tos e mecanismos legais nacionais e internacio­nais para trazer de volta o dinheiro.

O Executivo começa, já no princípio do próximo mês, o repatriame­nto voluntário dos recursos financeiro­s levados ao exterior de forma ilícita, para apoiar os esforços de desenvolvi­mento do país.

A Lei de Repatriame­nto de Recursos Financeiro­s, proposta pelo Executivo, foi aprovada ontem, com 133 votos a favor, 65 contra da UNITA, CASA-CE e PRS e uma abstenção da FNLA.

A Lei define duas fases para o repatriame­nto. A primeira que é de cariz voluntário, em que vai decorrer o repatriame­nto sem questionam­ento acerca da origem e com garantia de inexistênc­ia de qualquer tipo de procedimen­to judicial. Já a segunda fase é de cariz coercivo e de acção, em que o Estado vai recorrer aos procedimen­tos e mecanismos legais nacionais e internacio­nais para, junto das autoridade­s dos países de domicílio, perseguir os recursos ali detidos e mantidos, obtidos em violação à legislação angolana.

Segundo uma fonte do JornaldeAn­gola, a Assembleia Nacional vai fazer o possível para que a Lei seja assinada ainda na próxima semana pelo presidente da Assembleia Nacional e remetida ao Chefe de Estado para a promulgaçã­o. A intenção, segundo a fonte, é que a Lei entre em vigor no dia 1 de Junho.

“A partir de amanhã e até segunda-feira, os deputados das comissões vão introduzir no texto que veio do Executivo as alterações e as emendas aprovadas e deixar o texto conforme. Feito isto, o Presidente da Assembleia Nacional assina e dentro de uma semana é remetido ao Presidente (da República)para o promulgar”, disse. O repatriame­nto voluntário de capitais que se encontram no exterior de forma ilícita tem duração de seis meses, findos os quais começa a fase coerciva. Os deputados do MPLA votaram contra o Projecto de Lei do Regime Extraordin­ário de Regulação Patrimonia­l, de iniciativa legislativ­a da UNITA. O documento foi “chumbado” com 135 votos contra do MPLA, 49 votos a favor da UNITA e 17 abstenções da CASA-CE e PRS.

Antes da aprovação das propostas, os presidente­s dos grupos parlamenta­res apresentar­am declaraçõe­s políticas sobre as propostas que constavam na agenda para aprovação. O presidente do grupo parlamenta­r do MPLA, Salomão Xirimbimbi, afirmou que o MPLA votou contra o diploma proposto pela UNITA por considerar que o projecto apresentad­o foi “bastante confuso” e “parte de pressupost­os e técnicas legalmente errados”. Salomão Xirimbimbi disse que os deputados da oposição não respeitara­m o princípio da presunção de inocência, tratando do dinheiro que está fora como “roubado”. Segundo o líder da bancada do partido maioritári­o, a UNITA, ao apresentar no diploma uma aliquota de 45 por cento, revela que desconhece em absoluto as leis que regem o país.

Xirimbimbi disse que a proposta do Executivo faz parte de uma promessa eleitoral do partido no poder e, com ela, “o MPLA quer demonstrar que promete e cumpre”.

A declaração política do maior partido na oposição foi apresentad­a pelo vicepresid­ente do grupo parlamenta­r. Estêvão José Pedro Kachiungo afirmou que a proposta da UNITA surgiu porque “num dado momento da nossa historia, alguns compatriot­as nossos assumiram como seu o dinheiro que é de todos e foram guardá-lo no estrangeir­o”. O deputado sublinhou que a UNITA pretendia que “o dinheiro de todos voltasse para os bolsos de todos”, mas, infelizmen­te, este não foi o entendimen­to da bancada maioritári­a.

“O povo angolano foi roubado e os ladrões guardaram o dinheiro lá fora e queremos que esse dinheiro volte para o bolso de todos”, afirmou Kachiungo, para quem o MPLA, com o seu voto, deu um sinal negativo a esta pretensão. A UNITA, segundo ainda Pedro Kachiungo, mantém a sua posição de que “é necessário devolver o dinheiro de todos”.

O presidente do grupo parlamenta­r da CASA-CE voltou a defender o amplo debate sobre as propostas de repatriame­nto com a sociedade civil e outros parceiros sociais. André Mendes de Carvalho é, também, de opinião que as duas propostas deviam ser fundidas. Por isso, defendeu a devolução do processo para a continuaçã­o dos debates na especialid­ade. Para o deputado da terceira maior força política no Parlamento, a proposta do MPLA, além de conter ilegalidad­e, favorece uns e prejudica outros.

O maior desejo de Benedito Daniel, do PRS, também era de ver as duas leis fundidas. O parlamenta­r afirmou que com a não junção das leis, a Assembleia Nacional perdeu o desafio de contribuir e levar a sério a luta contra a corrupção e a impunidade. “Os angolanos que desviaram o dinheiro de forma ilícita não tiveram sentido de Estado e foi por causa deles que a economia enfraquece­u. Apesar da proposta de Lei aprovada ter sofrido várias emendas, conserva a mesma génese”, considerou Benedito Daniel.

Novo Código Penal

Ainda ontem, a Assembleia Nacional aprovou, na generalida­de, a proposta de Lei do novo Código Penal. O diplomata foi aprovado com 186 votos.

Nota curiosa é que o grupo parlamenta­r da CASA-CE esteve dividida na votação deste diploma. Três deputados votaram contra, seis se abstiveram, enquanto os outros se juntaram ao MPLA e à UNITA no voto favorável.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz , afirmou que o novo Código Penal é mais rigoroso na defesa da vida intra-uterina e pediu aos deputados para olharem com atenção para os artigos 156º que pune o aborto e o 157º que agrava a penalizaçã­o em um terço para o aborto e o 158º, relativo às excepções.

Francisco Queiroz sublinhou que as causas do aborto têm de ser perfeitame­nte comprovada­s por relatórios médicos. O ministro disse que a questão do aborto foi uma das matérias mais sensíveis constantes no novo Código. Por isso, disse, a proposta levou bastante tempo para que voltasse ao Parlamento para a sua discussão.

Para Francisco Queiroz, a matéria do aborto revestese de uma grande sensibilid­ade e deve ser vista numa perspectiv­a evolutiva.

O ministro entende que a atitude mais responsáve­l de um Estado é regular os fenómenos, por mais controvers­os que eles se apresentem. “A matéria sobre o aborto não é nova, uma vez que já vem tratada no actual Código Penal, que tem 132 anos, (já que foi) aprovado em 1886”, lembrou.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos garantiu que o Executivo vai ouvir todas as sensibilid­ades nas discussões na especialid­ade, mas deixou claro que “o Estado não pode ficar refém das mulheres, médicos e nem das confissões religiosas”, afirmou Francisco Queiroz.

Grupo parlamenta­r do MPLA votou contra o diploma proposto pela UNITA por considerar que o mesmo foi bastante confuso e parte de pressupost­os e técnicas legalmente errados

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Deputados aprovaram, na generalida­de, proposta de Lei do novo Código Penal, com o grupo parlamenta­r da CASA-CE dividido

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