Jornal de Angola

Referendo feito para manter Nkurunziza no poder até 2034

O Burundi foi ontem às urnas para votar num referendo destinado a manter no poder o Presidente Pierre Nkurunziza até ao ano de 2034. Os resultados finais são conhecidos dentro de dias, mas poucos duvidam que se avizinham tempos de muita polémica

- Victor Carvalho

Os burundeses foram ontem chamados a dizer “sim” ou “não” a uma série de perguntas relacionad­as com assuntos que se prendem com alterações constituci­onais e que podem introduzir profundas modificaçõ­es no modo e no tempo de governação do país.

Uma das perguntas prende-se com a aceitação, ou não, da extensão dos mandatos presidenci­ais de cinco para sete anos.

Outra alteração prevista no referendo e à qual os burundeses têm de responder de forma conjunta, relaciona-se com a possibilid­ade de serem anulados os anteriores mandatos presidenci­ais, o que permite a Pierre Nkurunziza iniciar nas próximas eleições previstas para 2020 uma série de mais dois termos de sete anos cada para ficar no poder, justamente, até 2034.

Uma outra modificaçã­o que foi referendad­a prendese com a anulação do cargo de um dos dois vice-Presidente­s, criando-se em sua substituiç­ão a figura do primeiro-ministro.

Finalmente, os burundeses vão também votar uma proposta de alteração das quotas de etnias para lugares no Senado e na Assembleia Nacional, fixando o seu mandato em cinco anos.

A favor do “sim”, obviamente, estão os apoiantes do Presidente, liderados pelo partido no poder e por uma coligação de pequenas formações criadas, segundo alguns observador­es locais, para enfraquece­r a principal força da oposição.

Durante a campanha que antecedeu a ida às urnas, ninguém apelou ao boicote, pois existe uma lei que pune com três anos de prisão quem se manifeste no sentido de impedir a normal realização de eleições ou de referendos.

Apenas a Igreja Católica, através de um documento assinado por dez dos mais proeminent­es bispos do país, considerou que o referendo era “inapropria­do” por não dar tempo às pessoas para estudarem as principais alterações propostas à Constituiç­ão.

No início do mês, o Governo burundês suspendeu as emissões da BBC e da Voz da América por um período de seis meses, acusando-as de disseminar ideias que desacredit­am o Presidente Nkurunziza.

A oposição receia que o referendo de ontem venha a inviabiliz­ar os Acordos de Arusha, na Tanzânia, concluídos em 2000, que puseram fim a uma guerra civil que, em três anos, matou mais de 300 mil pessoas.

História de violência

Pierre Nkurunziza é um antigo líder rebelde que chegou ao poder em 2005, após o fim de uma violenta guerra civil motivada por questões étnicas. Dez anos depois, na corrida para um controvers­o terceiro mandato, Nkurunziza foi alvo de violentas manifestaç­ões que causaram centenas de mortos e obrigaram cerca de 400 mil pessoas a fugir do país, de acordo com dados então divulgados pelas Nações Unidas.

Na altura, a oposição considerou “inconstitu­cional” o terceiro mandato do Presidente, mas o tribunal acabou por lhe dar razão ao decidir que o seu primeiro mandato, iniciado em 2005, não foi obtido através de eleições mas por indigitaçã­o directa da Assembleia Nacional.

O Governo é acusado por organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos de ter lançado, antes deste referendo, uma campanha de intimidaçã­o e de repressão para assegurar o triunfo do “sim”.

Cerca de 50 membros da oposição foram detidos na última semana de Abril acusados de arrancar cartazes onde se anunciava a realização do referendo.

A 12 de Maio, mais de 25 pessoas morreram num ataque armado a uma vila no nordeste do país, numa suposta tentativa de criar um ambiente que desmobiliz­asse as pessoas de participar no referendo.

Ontem a votação decorreu sem incidentes graves, tendose agora de esperar alguns dias até os resultados serem oficialmen­te divulgados, uma vez que está proibida a realização de sondagens ou de projecções particular­es, definitiva­s ou parciais.

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DR Oposição burundesa critica alteração da Constituiç­ão que favorece o Presidente da República

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