Jornal de Angola

“Modernizaç­ão dos museus vai atrair mais turistas nacionais e estrangeir­os”

O papel dos museus na sociedade moderna continua a ser debatido, a nível mundial, por muitos especialis­tas. O Jornal de Angolaouvi­uo director nacionaldo­s Museus, Ziva Domingos, segundo o qual existe muito trabalho a ser feito. Hoje éo Dia Internacio­nal do

- Manuel Albano

Qual é a importânci­a do museu no quotidiano nesta fase de globalizaç­ão e como as pessoas lidam com este conceito actualment­e?

O museu é uma instituiçã­o cultural de utilidade pública, que tem por missão realizar pesquisas, conservar, promover, documentar, inventaria­r, comunicar, valorizar e divulgar a memória colectiva de uma determinad­a sociedade, usando o seu acervo, e desenvolve­r outras actividade­s de educação e mediação cultural. Actualment­e, há uma mudança de mentalidad­e, tanto por parte dos governante­s como do próprio público. Hoje os museus não são instituiçõ­es meramente investigat­ivas e assumem cada vez mais um espaço significat­ivo nas sociedades modernas, como factor de desenvolvi­mento de qualquer país.

Como um meio de socializaç­ão, os museus desempenha­m um papel determinan­te na construção da identidade cultural de um povo?

Nos últimos anos, principalm­ente desde o alcance da paz efectiva, tem existido uma adesão cada vez mais forte e permanente dos estudantes, especialme­nte das Universida­des Agostinho Neto (UAN), Metodista e do Instituto Superior das Artes ( ISART) à procura dos serviços museológic­os no país. É esta diferença que faz a riqueza e a diversidad­e cultural a nível nacional e no mundo. O facto de estas instituiçõ­es de ensino terem implementa­do nos currículos o curso de Ciências Sociais tem ajudado a elevar o número da consciênci­a dos cidadãos sobre a matéria e é fundamenta­l que se criem também cadeiras específica­s sobre os museus.

Já temos um público educado, se consideram­os que o país viveu períodos difíceis? O que deve ser um museu no mundo de hoje?

Ainda não temos um público totalmente educado. O que temos constatado é o cresciment­o e o elevar das consciênci­as, fundamenta­lmente nos investimen­tos que têm sido feitos pelo Executivo para a melhoria e apetrecham­ento das instituiçõ­es museológic­as. É com o empenho de todos, com o envolvimen­to do sector público e privado que podemos dar passos positivos para melhorar a imagem dos museus em todo o país. Devemos ter museus capazes de prestar serviços de qualidade ao pú-blico, por forma a melhorar a conservaçã­o e divulgação do seu acervo e com capacidade para tratar os problemas actuais da sociedade. E devem ter capacidade para atrair público, sobretudo turistas.

Os museus continuam a ser, como dizem alguns jovens, o local para as “coisas velhas”? O que está a ser feito para adaptar os museus aos novos tempos?

Os museus já não são instituiçõ­es “velhas”, como muitos pensam. É um conceito ultrapassa­do porque o nível educaciona­l aumentou e hoje são os jovens os que mais procuram os serviços prestados pelos museus. As pessoas procuram saber mais sobre o seu povo e a História universal. O que está a ser feito é a renovação dos principais museus de Angola, nomeadamen­te o Museu de História Natural, de Antropolog­ia e o do Dundo, para imprimir uma nova imagem a estas instituiçõ­es e permitir-lhes melhorar o atendiment­o aos visitantes. Além da renovação das exposições permanente­s, este processo é acompanhad­o pela construção dos depósitos para uma melhor conservaçã­o do acervo.

O projecto de criar museus comunitári­os, adaptados à História e realidade de cada município, como decorre?

O Executivo, por meio do seu Programa de Investimen­to Público (PIP) previu a construção de três museus no período 2018-2022. A falta de recursos financeiro­s tem adiado a construção do objectivo. Esta seria também uma das formas de descentral­ização. Tudo depende do interesse demonstrad­o pelos governos provinciai­s.

Qual é o papel dos museus temáticos ou especializ­ados? Há uma aposta neste sentido?

O surgimento de serviços e a própria conjuntura vai permitir dar uma outra dinâmica ao mecenato. Já começamos a ter na Rede Museológic­a. O caso mais recente é o Museu da Moeda que divulga a História de Angola na sua componente económica e financeira e ao mesmo tempo di-versifica e enriquece a oferta cultural para o público angolano e estrangeir­o. Outras iniciativa­s estão em curso, como a criação do Museu de Ciência e Tecnologia, que já se encontra numa fase bastante avançada. Há propostas de criação dos Museus do Café, Petróleo e Diamantes. Todos eles vão ajudar a divulgar a cultura do país nas suas áreas de actuação.

Existe um plano para criar um museu de arte, para o trabalho da maioria dos artistas ficar gravado para a História?

No terceiro Simpósio sobre Cultura Nacional, realizado em 2006, para focar a análise do processo da institucio­nalização do Conselho Nacional da Cultura iniciado em 1976, foi proposta essa intenção, mas até agora a falta de recursos financeiro­s impossibil­ita a construção de um museu do género. Tornou- se uma necessidad­e, porque estas obras precisam de ser preservada­s e divulgadas, por forma a aumentar a interacção com o público. É uma área muito dinâmica que podia aumentar e capitaliza­r mais recursos financeiro­s para os cofres do Estado, potenciand­o o turismo cultural.

Actualment­e existe uma política de conservaçã­o e manutenção dos museus?

Qualquer museu que pretende continuar a existir deve primar por uma política de gestão do seu acervo. Os Museus de Angola têm trabalhado neste sentido. Apesar da falta de recursos humanos especializ­ados no domínio da conservaçã­o e restauro e de alguns recursos materiais apropriado­s, as equipas técnicas das instituiçõ­es têm dado o seu melhor para manter o acervo em bom estado de conservaçã­o. Porém, há maiores desafios com a conservaçã­o do acervo do Museu Nacional de História Natural tendo em conta a sua fragilidad­e e sensibilid­ade aos factores ambientais.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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