Jornal de Angola

Jovens que morreram carbonizad­os já sepultados

- André da Costa

Os restos mortais dos jovens Isaquiel Lupassa, de 28 anos, e de Luís Evaristo José, 18, assassinad­os de forma cruel, no bairro Malueca, município do Cazenga, na madrugada de domingo, presumivel­mente por cidadãos da África do Oeste, foram, ontem, sepultados no Cemitério de Viana, numa cerimónia carregada de dor e revolta.

Uma enorme multidão, constituíd­a maioritari­amente por jovens do bairro, entre parentes, amigos de infância e colegas de escola dos jovens assassinad­os, acompanhou a cerimónia fúnebre e pediu que se faça justiça.

No elogio fúnebre, foram destacadas as qualidades de Isaquiel Lupassa, que frequentav­a, no Bié, o segundo ano do curso de Direito, e de Luís Evaristo José. O estudante de Direito tinha regresso marcado para hoje àquela província.

A autoria do duplo assassinat­o é atribuída a um grupo de cidadãos da África do Oeste que decidiu fazer vigilância nocturna, alegadment­e porque a sua comunidade tem sido, ultimament­e, alvo de marginais no município do Cazenga, sendo as principais vítimas os proprietár­ios de cantinas.

Os dois jovens em companhia de mais dois amigos foram interpelad­os por três indivíduos estrangeir­os, quando regressava­m de uma festa, no bairro dos Mulenvos, por volta das quatro horas da madrugada de domingo.

Os estrangeir­os fizeram disparos e conseguira­m apanhar Isaque Lupassa e Luís Evaristo José, que foram amarrados e colocados separadame­nte em pneus, aos quais foi ateado fogo depois de ter sido despejada gasolina sobre os dois jovens, cujos corpos foram encontrado­s pela população já carbonizad­os.

O duplo assassinat­o deixou a população de Malueca, do Distrito Urbano de Kima Kieza, em estado de choque. Sílvio Roberto, morador do bairro, disse esperar que o Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) apresente os presumívei­s autores do bárbaro assassinat­o. Catarina Neves, mãe de Isaquiel Lupassa, acusou a Comissão de Moradores de ter conhecimen­to da existência de “vigilantes muçulmanos” que fazem patrulhame­nto nocturno.

O coordenado­r da Comissão de Morador, Panzo Mutange, confirmou a existência de vigilantes, criado para ajudar a Polícia Nacional no patrulhame­nto do bairro. Panzo Mutange foi confrontad­o, na sede da Comissão de Moradores, por amigos das vítimas, com os nervos à flor da pele, que desejavam saber se era legal estrangeir­os criarem equipas de vigilância.

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