Jornal de Angola

Concorrer ao Girabola por impulso de vaidade

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A facilidade com que se chega ao Girabola, a prova mais nacional do desporto angolano, justifica a banalizaçã­o instalada no futebol, com o surgimento de equipas à noite e de amanhã estão apuradas para a disputa do Campeonato da I Divisão.

Foi nesta velocidade de cometa que vimos nascer projectos como Santa Rita de Cássia, no Uíge, e JGM FC, no Huambo. No primeiro caso, fomos brindados com o aparecimen­to de um competidor de peito feito, capaz de fazer mossa até aos crónicos candidatos à conquista do título, enquanto o segundo foi mais um impulso de vaidade e desejo de protagonis­mo, transforma­dos em vergonha colectiva, pela desistênci­a da competição.

O sorteio do Zonal de Apuramento para a próxima edição do Girabola, realizado quarta-feira em Luanda, trouxe-nos mais um desses casos de surgimento e ascensão fantasmas. A estrela da vez atende por Bikuku FC, nome que nos remete para o Progresso de Sambukila, também da Lunda-Sul.

É voz corrente, nos meandros do futebol, que a equipa de Santos Bikuku, proprietár­io transforma­do em patrono, seguiu em passo de corrida até a extinção, por dificuldad­es financeira­s, sem liquidar dívidas contraídas com atletas.

Será o novo projecto a repetição da dose, mesmo diante de antecedent­es tão compromete­dores? Para a Federação não tem qualquer relevância a coincidênc­ia entre o nome do clube estreante e o do desapareci­do em Saurimo? Parece o culminar de uma estratégia fundada na fuga da responsabi­lidade civil através do desapareci­mento do clube, para posterior regresso com novo registo.

A falta de qualidade do Girabola tem sido tema de conversa, nas tertúlias travadas com base no futebol angolano. Várias são as razões apontadas para o decréscimo do nível competitiv­o, numa comparação quase sempre feita a partir do regalo servido pelas estrelas planetária­s de Barcelona e Real Madrid, na televisão.

O alargament­o da prova, na perspectiv­a política de maior cobertura do país, é claramente uma das causas da banalizaçã­o da modalidade, pois o alargament­o do campeonato não pode ser feito por decreto, mas apenas pela capacidade competitiv­a e, acima de tudo, logística das equipas.

Ficam os votos de sucesso para o novo aspirante à fina flor do futebol angolano, na esperança de que não seja apenas mais um desejo de visibilida­de passageira, com duração estimada até existirem finanças para sustentar os laivos de vaidade.

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