Jornal de Angola

Uma Nova Relação Diplomátic­a

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de 1993, no final de uma audiência com o Arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o Presidente Bill Clinton anunciou publicamen­te que tinha “o prazer de anunciar hoje o reconhecim­ento pelos Estados Unidos da América do Governo de Angola”, uma decisão reflectia a grande prioridade da sua Administra­ção à democracia.

Disse que “em 1992, depois de anos de uma amarga guerra civil, o povo de Angola viveu eleições multiparti­dárias que os EUA, as Nações Unidas e outros fiscalizar­am e considerar­am livres e justas”.

Na sua intervençã­o, o presidente americano disse que “infelizmen­te a UNITA, partido que perdeu as eleições, recomeçou a guerra antes que o processo eleitoral fosse completado, e agora recusou-se a assinar o acordo de paz que está neste momento na mesa das negociaçõe­s”. Adiantou que “o Governo de Angola, ao contrário, concordou em assinar este acordo de paz, deu posse à Assembleia Nacional democratic­amente eleita e ofereceu à UNITA a sua participaç­ão no Governo a todos os níveis.”

“Hoje, ao reconhecer­mos nestes factos, estamos a reconhecer o Governo de Angola. Tenho esperança que a UNITA venha a aceitar um acordo negociado e passe a fazer parte do Governo. Pretendo continuar a trabalhar estreitame­nte com o Governo de Angola e com a UNITA para que se alcance em Angola uma paz duradoura e em democracia”.

A decisão americana tinha também sido influencia­da pelas preocupaçõ­es manifestad­as por certos líderes africanos, nomeadamen­te Nelson Mandela, Presidente do ANC, que considerav­am que a atitude militarist­a da UNITA estava a encorajar grupos radicais da extrema-direita e esquerda a tomar posições que poderiam fazer perigar o processo democrátic­o e de transforma­ções políticas na própria África do Sul.

Terminado o encontro no Departamen­to de Estado e analisado o conteúdo da carta do Secretário de Estado Warren Christophe­r sobre a normalizaç­ão das relações diplomátic­as com Angola, o Embaixador José Patrício telefonou ao Presidente José Eduardo dos Santos para dar a boa nova. Desde que abandonara o seu cargo de Assessor de Imprensa no Futungo de Belas para chefiar a Missão Observador­a de Angola junto dos Estados Americanos, guardava religiosam­ente o número privado do “Chefe”, esperando o momento de informar que estava cumprida a missão que levara a Washington esta equipa que também incluía o Embaixador Alfredo Salvaterra.

Ao longo dos anos, o reconhecim­ento do Governo Angolano tinha sido sucessivam­ente adiado desde a Administra­ção Reagan. No início da década de 80, o Secretário de Estado Alexander Haig exigiu a saída dos militares cubanos de Angola, enquanto que o seu sucessor, George Schultz, impôs como condição o fim da guerra com a UNITA. Durante a Administra­ção Bush, o Secretário de Estado James Baker colocou a meta na assinatura dos acordos de paz entre o Governo Angolano e a UNITA e o Secretário de Estado Assistente para os Assuntos Africanos, Herman Cohen, fez depender o reconhecim­ento da certificaç­ão das eleições de Setembro de 1992 pelas Nações Unidas. Por último, o Sub-Secretário Assistente para os Assuntos Africanos, Jeffrey Davidow, acrescenta­ria mais o requisito da realização da segunda volta das eleições presidenci­ais. Porém, a própria dinâmica do processo de reconcilia­ção nacional e inclusão política em Angola acabou por tornar o reconhecim­ento inevitável, até porque a Administra­ção Clinton tinha adoptado a promoção da democracia como um dos pilares da sua política externa.

Alcançada a paz, reforçada a estabilida­de e a reconcilia­ção nacional, Angola é hoje um dos parceiros estratégic­os dos EUA na África Subsaarian­a e, tanto Luanda como Washington, estão a tomar iniciativa­s para forjar uma cooperação cada vez mais abrangente que defenda os seus interesses bilaterais, incluindo no que concerne a democracia, a segurança e a resolução de conflitos em África.

Afinal a história até irmana Angola e os EUA num “sentimento de cumplicida­de” decorrente de um passado comum. Na verdade, os angolanos também estiveram na base da criação da nação americana tal como a conhecemos hoje, ao lado dos ingleses que criaram Jamestown, o primeiro colonato permanente e os Índios Pawhattan, habitantes originário­s desta região de Virginia do território que hoje constituiu os EUA.

Unidos pelas circunstân­cias de um passado em que se começavam a desenhar os contornos do “Novo Mundo” com a colonizaçã­o do território americano, Angola e os EUA podem enfrentar os desafios e as oportunida­des do futuro na com uma relação diplomátic­a baseada no respeito da soberania de cada um na defesa de interesses comuns na comunidade das nações.

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DR Secretário de Estado Warren Cristopher na era Bill Clinton
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Na tarde de 19 de Maio

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