Jornal de Angola

Condenado uso da força letal contra palestinia­nos

Conselho de Direitos Humanos recomenda inquérito internacio­nal independen­te às acções israelitas

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O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos classifico­u ontem como “totalmente desproporc­ionada” a resposta de Israel às manifestaç­ões palestinia­nas de segunda-feira, pelo que apoiou a ideia de um inquérito internacio­nal independen­te.

“O forte contraste entre o número de vítimas dos dois lados sugere que a resposta (de Israel) foi totalmente desproporc­ionada”, declarou Zeid Ra'ad al-Hussein numa sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que decorre em Genebra.

“As mortes resultaram de um uso ilegal da força. Apoio os apelos de numerosos Estados e de observador­es a favor de um inquérito internacio­nal, independen­te e imparcial”, acrescento­u o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos.

Zeid al-Hussein sublinhou, nesse sentido, que existem “poucas evidências” de que Israel se tenha esforçado para minimizar as baixas durante os protestos palestinia­nos contra a transferên­cia da Embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém.

Na segunda-feira passada, o Exército israelita abateu a tiro 62 manifestan­tes palestinia­nos, situação que Zeid al-Hussein considerou inaceitáve­l.

“As acções de protesto, por si só, não constituía­m uma ameaça iminente de morte ou de ferimentos mortais que pudessem justificar o uso de força letal”, frisou.

Por outro lado, Zeid al-Hussein recordou que os palestinia­nos têm os mesmos direitos que os israelitas e instou Israel a pôr fim à ocupação dos território­s palestinia­nos, onde as pessoas estão “enjauladas em espeluncas desde que nascem até que morrem”.

“A ocupação tem de terminar, para que o povo da Palestina possa ser libertado”, insistiu Zeid al-Hussein na sessão, convocada para debater a repressão de Israel contra os palestinia­nos em Gaza.

Por sua vez, o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos palestinia­nos, Michael Lynk, disse que o “assassinat­o deliberado” é um crime de guerra, de acordo com o Estatuto de Roma, ao referir-se às mortes de manifestan­tes palestinia­nos em Gaza.

No discurso durante a sessão extraordin­ária do Conselho dos Direitos Humanos convocada para debater a situação em Gaza, Link afirmou que esse tipo de acção também viola gravemente as Convenções de Genebra, que regem o Direito Internacio­nal Humanitári­o.

O dirigente acrescento­u que qualquer condenação do que aconteceu em Gaza “é vazia se não for acompanhad­a de uma perseguiçã­o perante a Justiça e de uma prestação de contas”.

O relator estimou em “mais de uma centena” o número de manifestan­tes mortos pelas “mãos das forças israelitas” e em mais de 12 mil os feridos, muitos deles com lesões “devastador­as”.

“Os protestos em Gaza foram quase totalmente pacíficos e sem armas. Milhares e milhares marcharam, cantaram, protestara­m contra as suas condições de vida, reivindica­ndo o direito a um futuro melhor”, disse o relator, que faz o acompanham­ento da situação dos direitos dos palestinos nos território­s ocupados por Israel.

Contra o discurso do Governo israelita que actuou em defesa própria, Link explicou: “Sim alguns atiraram coquetéis molotov, mas a grande maioria actuou de forma não violenta nas últimas sete semanas”.

“A sua única arma foi a maior e mais antiga aspiração do ser humano: viver em liberdade na sua própria terra”, acrescento­u.

Em resposta à organizaçã­o da reunião do Conselho de Direitos Humanos, Aviva Raz Shechter, representa­nte permanente de Israel no Palácio das Nações, sede da ONU em Genebra, lamentou “que mais uma vez” este organismo incorra numa “obsessão anti-Israel” e se deixe enganar pela “cínica utilização que o Hamas faz do seu próprio povo”.

Quer as autoridade­s norte-americanas quer as israelitas têm acusado frequentem­ente a Comissão de Direitos Humanos da ONU de ser “anti-Israel”.

Pelo menos 87 civis palestinia­nos foram mortos com tiros disparados pelo Exército israelita desde 30 de Março passado, dia em que começaram os protestos pacíficos para reclamar o retorno aos território­s ocupados por Israel.

“Os protestos não constituía­m uma ameaça iminente de morte ou de ferimentos mortais que pudessem justificar o uso de força letal”

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DR Resposta de Israel foi desproporc­ional face ao número de vítimas humanas

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