Colombianos vão às urnas para eleger o Presidente
Votação ocorre num ambiente de acentuadas divergências sobre execução do acordo de paz assinado com ex-guerrilheiros das FARC
Cerca de 49 milhões de colombianos votam hoje nas eleições presidenciais, num ambiente de bipolarização entre a direita, com o candidato Iván Duque, e a esquerda, do ex-guerrilheiro e ex-autarca de Bogotá Gustavo Petro.
Nesta eleição, pesa fortemente o acordo de paz assinado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo guerrilheiro de esquerda activo cerca de 50 anos no país, e cujo futuro dependerá em grande parte do novo Chefe de Estado.
O acordo, que atravessa uma crise, é um compromisso do Estado colombiano mas a sua execução depende da vontade de o próximo Presidente levar adiante o pacto que fez com que cerca de 7.000 guerrilheiros abandonassem as armas.
Os colombianos estão divididos entre aqueles que acreditam que o acordo precisa mudar porque é muito generoso com as FARC, agora convertida em partido político, e aqueles que o defendem pela paz que garante.
A dúvida sobre o futuro da paz é real para a coligação de direita liderada por Iván Duque, candidato do Centro Democrático e que lidera todas as sondagens de intenção de voto.
Iván Duque tem o apoio dos ex-Presidentes Álvaro Uribe (2002-2010) e Andrés Pastrana (1998-2002), principais opositores ao acordo com as FARC e que já mostraram a sua força no refendo de 2 de Outubro de 2016, em que lideraram o triunfo do “não” ao pacto com a ex-guerrilha.
O acordo com as FARC só foi aprovado, posteriormente com reformulações, pelo Congresso colombiano em Dezembro de 2016.
Numa entrevista à agência de notícias espanhola EFE, Duque garantiu que não quer “rasgar” o legado do Presidente cessante, Juan Manuel Santos, o que inclui o acordo de paz, mas alcançar um país de “consensos”, mostrando a vontade de corrigir apenas “algumas das suas políticas económicas e sociais”.
O defensor mais ferrenho do acordo rubricado em Havana é o candidato do Partido Liberal (Governo), Humberto de la Calle, que negociou com as FARC e que, em entrevista à agência de notícias Efe disse que a paz está “em risco” com uma vitória de Duque ou também de Germán Vargas Lleras, de direita, do movimento 'Melhor Vargas Lleras'.
Junto com o liberal, outro candidato que aposta na paz no período de 2018 a 2022 é o esquerdista Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana e ex-autarca de Bogotá.
Petro, ex-membro do movimento guerrilheiro 19 de Abril (M-19) foi desmobilizado graças a um acordo em 1991, afirmou que a paz é mais do que desarmar as FARC. Tanto que o seu programa tem o lema “rumo a uma era de paz”, para o qual considera necessário melhorar serviços como educação, saúde ou a relação com a natureza.
Gustavo Petro ocupa o segundo lugar em todas as pesquisas com um intervalo variável de apoio, mas com um cenário difícil numa possível segunda volta devido à polarização gerada pelas suas declarações.
Os outros dois candidatos à Presidência, o ex-VicePresidente Vargas Lleras e o ex-autarca de Medellín, Sergio Fajardo, manifestaram o seu apoio ao acordo de paz, o segundo com mais clareza, em parte porque é apoiado pelos verdes e pelo esquerdista Pólo Democrático Alternativa (PDA).
Entretanto, essas cinco visões são hoje testadas nas urnas e se, como indicam as pesquisas de intenção de voto, Duque e Petro passarem para uma segunda volta, a paz poderá tornarse uma questão decisiva na eleição do próximo Presidente da Colômbia.
Os colombianos no exterior começaram a votar desde segunda-feira.
Pela primeira vez na história do país, segundo a agência de notícias Efe, quatro mulheres são candidatas a Vice-Presidente e têm a possibilidade real de alcançar o cargo.
Os colombianos continuam divididos entre os que discordam e concordam com o acordo de paz estabelecido com as FARC, convertida agora em partido político