Jornal de Angola

Frederik De Klerk elogia Ramaphosa

Aos 82 anos, Frederik de Klerk, último Presidente do apartheid na África do Sul, está optimista em relação ao futuro do país e elogia o trabalho e os esforços que têm vindo a ser desenvolvi­dos pelo actual Chefe de Estado Cyril Ramaphosa

- Victor Carvalho

Aos 82 anos, Frederik De Klerk, último Presidente da era do apartheid na África do Sul, elogiou o trabalho do Presidente Cyril Ramaphosa para consolidar o desenvolvi­mento económico e social do país.

A actual situação na África do Sul, onde alguma agitação social e política obriga a uma profunda reflexão sobre o caminho a seguir, continua a ser dominada pelos esforços que o Presidente Cyril Ramaphosa tem estado a fazer para que as eleições previstas para o próximo ano decorram num espírito de total harmonia e isenção.

Para isso, porém, é preciso “limar” algumas arestas provocadas pela cada vez mais visível existência de uma clivagem política no seio do partido no poder, com Jacob Zuma e Cyril Ramaphosa a assumirem um protagonis­mo político que nem a barra dos tribunais parece conseguir esmorecer.

Atento a tudo o que se passa está Frederik de Klerk, último Presidente do regime do apartheid que dividiu com Nelson Mandela um Prémio Nobel da Paz, atribuído para distinguir o papel que ambos tiveram para a democratiz­ação e a unidade do país.

Numa entrevista concedida à CNN, De Klerk elogiou o trabalho que o actual Presidente sul-africano tem vindo a fazer para consolidar o desenvolvi­mento do país e reconheceu ser, Cyril Ramaphosa, a pessoa certa para estar à frente do país neste momento complicado da sua existência.

“O Presidente Ramaphosa conhece bem os dois lados da vida, pois já foi sindicalis­ta e homem de negócios ao ponto de se ter tornado um dos empresário­s mais ricos do país”, disse de Klerk à CNN numa entrevista concedida em Londres.

De Klerk refere, também, o papel que Cyril Ramaphosa teve na negociação da actual Constituiç­ão, o que releva a sua capacidade política para enfrentar os desafios que ainda existem.

Actualment­e com 82 anos, Frederik de Klerk recorda os tempos em que estava do outro lado da mesa a negociar com os dirigentes do ANC, entre eles Ramaphosa, o fim do apartheid, um processo que lhe viria a valer a repartição com Nelson Mandela do Prémio Nobel da Paz em 1993.

“O Presidente Ramaphosa foi um dos principais negociador­es do Plano de Desenvolvi­mento Nacional, um documento fundamenta­l para fazer o país sair da pobreza e para promover a igualdade entre negros e brancos”, sublinhou.

Em relação aos processos judiciais que envolvem Jacob Zuma, um dos assuntos dominantes da actualidad­e sulafrican­a, De Klerk sublinha que o antigo Presidente não é um constituci­onalista, tendo contribuíd­o para que tudo tivesse sido feito para minar a independên­cia dos tribunais de modo a que estes ficassem submetidos ao poder político.

“Jacob Zuma sempre negligenci­ou a nossa Constituiç­ão com a intenção declarada de minar a importânci­a e a independên­cia dos tribunais, o que se revelou fatal para ele e para o país, que agora se vê na contingênc­ia de condenar um antigo Presidente da República”, referiu.

Frederik de Klerk recua aos tempos em que se negociava o fim do apartheid e recorda que uma das principais preocupaçõ­es que partilhava com Nelson Mandela era que, no final das contas, não houvesse um vencedor e um vencido.

“Sempre pautamos os nossos esforços pela defesa da unidade nacional, sem divisões estéreis, visto que éramos e somos todos sulafrican­os. Era bom que tanto Jacob Zuma como Cyril Ramaphosa tomassem isso como exemplo e não perdessem mais tempo a dividir o país”, sublinhou, numa alusão ao que actualment­e se passa no panorama político nacional.

“O esforço para manter de pé a democracia sul-africana pode passar por considerar que os excessos eventualme­nte cometidos durante o regime de Jacob Zuma devam ser esquecidos”, referiu em relação à forma como o país poderá ultrapassa­r uma eventual divisão entre os apoiantes do antigo e do actual Presidente da República.

Na entrevista à CNN, Frederik de Klerk elogiou repetidame­nte a visão política e patriótica de Nelson Mandela e mostrou-se reconforta­do pelo facto de ter sido convidado para estar na tribuna de honra durante o funeral de Winnie Mandela.

“Foi mais uma prova de unidade do país e uma oportunida­de reiterada de homenagear postumamen­te o meu antigo inimigo político, mas posterior amigo pessoal, que foi Nelson Mandela, de que acredito o seu legado ainda hoje é uma mola impulsiona­dora e inspirador­a para o desenvolvi­mento do país”, disse o político.

Neste momento, Frederik de Klerk está empenhado em dirigir a fundação com o seu nome para trabalhar juntamente com o Governo na criação de pontes entre a minoria branca e a maioria negra, para que sejam esbatidos os obstáculos que ainda existem para que a unidade seja verdadeira­mente nacional.

O Presidente Ramaphosa foi um dos principais negociador­es do Plano de Desenvolvi­mento Nacional, um documento fundamenta­l para fazer o país sair da pobreza e para promover a igualdade entre negros e brancos

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DR O antigo Presidente que dividiu o Nobel da Paz com Mandela elogia o trabalho do actual Chefe de Estado da África do Sul

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