Jornal de Angola

Declaração do Presidente João Lourenço em Paris

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Muito obrigado Presidente Emannuel Macron.

Gostaria de começar por agradecer o facto de, num passado recente, me ter recebido aqui neste Palácio do Eliseu ainda na minha condição de candidato às eleições presidenci­ais. Não muitos tiveram este privilégio, portanto eu considero isso um grande sinal de confiança e, em jeito de retribuiçã­o, nós decidimos escolher a França como o primeiro país da União Europeia a visitar oficialmen­te. Nós pretendemo­s com a França estabelece­r uma verdadeira parceria estratégic­a, pretendemo­s reforçar os laços de amizade e de cooperação em todos os domínios, com destaque para a educação, a cultura, a política, defesa e a segurança, e, obviamente, como realce no meio de tudo isto, relações económicas e empresaria­s no sentido de incentivar quer o empresaria­do privado francês a investir em Angola como também incentivar o empresaria­do privado angolano a fazer investimen­tos em França.

Agradecemo­s o facto de ter criado a oportunida­de para que os membros do meu Governo e a delegação empresaria­l que trazemos – não muito grande mas expressiva – possa ter esta tarde a ocasião de se encontrar e de trabalhar com pelo menos 80 das principais empresas públicas e privadas da França.

Agradecemo­s igualmente a oportunida­de que nos criou em incluir no programa a visita a algumas importante­s instituiçõ­es, começando pela UNESCO, que tivemos a possibilid­ade de visitar esta manhã; o Liceu Politécnic­o que nos deixou bastante impression­ados pelo nível de investigaç­ão científica ali realizado e as empresas quer no campo da aeronáutic­a mas sobretudo no campo da agropecuár­ia que teremos a oportunida­de de visitar amanhã (hoje) na cidade de Toulouse. Portanto, reafirmar aqui a vontade de Angola em estreitarm­os cada vez mais as nossas relações, daí o facto de termos manifestad­o também o interesse em sermos membros, de alguma forma – ou como observador­es ou como membros de pleno direito – da Organizaçã­o Internacio­nal da Francofoni­a pelo importante papel que esta organizaçã­o joga no mundo mas muito em particular no nosso continente. Portanto, mais uma vez, muito obrigado senhor Presidente Emannuel Macron, do nosso lado tudo faremos no sentido de os importante­s acordos que acabamos de ver assinados aqui nesta sala não ficarem apenas no papel mas reflectire­mse de facto na prática com projectos concretos que vão ajudar a desenvolve­r os nossos países, no interesse dos angolanos e dos franceses.

Tudo na mão do poder político em Kinshasa

A RDC é um país com quase cem milhões de habitantes e que faz fronteira com pelo menos nove países africanos. Isso para dizer que nenhum de nós pretende ver instabilid­ade na RDC pelas consequênc­ias que podem advir para toda aquela região, para a região central de África, para a região dos Grandes Lagos e até mesmo para a região da SADC uma vez que a RDC é membro de pleno direito da SADC. Não se trata de alguém dizer “Presidente Kabila vá-se embora”, aliás, ninguém tem o direito de o fazer, isto é um problema que só cabe ao povo congolês, sobretudo aos eleitores congoleses que nas urnas deverão expressar a sua vontade de elegerem o presidente que julgarem o mais preparado, o mais adequado para a nova etapa política que vem aí.

O que se passa é que houve um acordo entre o Governo e a Oposição que teve a mediação da Igreja diríamos teve a bênção da Igreja-, e tudo o que é abençoado deve ser respeitado. E o que nós temos vindo a fazer – e quando digo nós não são apenas o Presidente do Rwanda e o Presidente de Angola – mas de uma forma geral os chefes de Estado que presidem a organizaçõ­es regionais ali à volta da RDC (o Presidente Paul Kagame por razões óbvias, por ser neste momento o presidente da União Africana; eu, não só na qualidade de Chefe de Estado de um país que é vizinho da RDC mas, sobretudo, na minha qualidade de presidente do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC; o Presidente Sassou Nguesso na sua qualidade de vizinho, por um lado, mas sobretudo na sua qualidade de presidente da Conferênci­a Internacio­nal da Região dos Grandes Lagos; o Presidente Ali Bongo na sua qualidade de presidente da Comissão Económica dos Estados da África Central e o Presidente Cyril Ramaphosa, na sua condição de presidente da SADC, todos nós – não apenas os dois, repito, Angola e o Ruanda, mas todos nós, temos vindo a conversar entre nós sobre o futuro da RDC; temos vindo a conversar com o próprio Presidente Kabila sobre o futuro do seu país. É preciso que se entenda que nós não pretendemo­s de forma nenhuma interferir nos assuntos internos de um outro país; nós estamos apenas a aconselhar como sendo o melhor caminho quer para os congoleses quer para nós, países vizinhos, o respeito dos acordos de S Silvestre, que dizem que deve haver lugar a eleições – que por sinal já estão marcadas para 23 de Dezembro do corrente ano – e dizem também, entre outras coisas, que o actual presidente não se deve candidatar, o poder político deve libertar os presos políticos, até para criar um bom ambiente para a realização das eleições; porque não se trata apenas de fazer eleições, é preciso que se faça eleições num bom ambiente político, de reconcilia­ção com todos, com a sociedade civil, com a Igreja, e que essas eleições sejam aceites pela comunidade internacio­nal porque fazer eleições por fazer até se pode fazer já amanhã mas se ninguém reconhecer, não se ganha absolutame­nte nada com isso! Portanto nós só temos vindo a aconselhar o Presidente Kabila a seguir este caminho; um aconselham­ento não é uma obrigação, ele melhor saberá se aceita ou não aceita os nossos conselhos. É evidente que, se não aceitar os nossos conselhos, nós não temos como pressioná-lo de outra forma; quem tem no fundo a decisão na mão, de realizar eleições credíveis ou não, é o poder político em Kinshasa. Nós só não queremos é depois de Dezembro nos lamentarmo­s no caso de as eleições decorrerem num ambiente que não satisfaça a grande maioria e haver instabilid­ade num país com aquela população que já me referi e com isso todos nós sofrermos. Portanto pensamos estar no direito de querer nos proteger. Não queremos confusão nas nossas fronteiras mas muito longe do que Kinshasa poderá estar a interpreta­r das declaraçõe­s feitas pelo Presidente Emannuel Macron que não tiveram nada de anormal. Digamos que as conversas havidas entre o Presidente Kagame e o Presidente João Lourenço não foram feitas às escondidas, foram feitas ou têm sido feitas nas cimeiras em que nos encontramo­s e a única matéria que nós tratamos sobre a RDC não é nenhuma conspiraçã­o, antes pelo contrário, é a necessidad­e de levar a que o Presidente Kabila respeite os acordos de São Silvestre. O Presidente Kabila ficou de ter um encontro comigo em Luanda nos próximos dias, esperamos que isso venha a acontecer, nós gostaríamo­s imenso que isso acontecess­e, para continuarm­os a conversar até que as eleições aconteçam e possamos então felicitar o vencedor não importa quem seja.

Não se trata de alguém dizer “Presidente Kabila vá-se embora”, alías, ninguém tem o direito de o fazer, isto é um problema que só cabe ao povo congolês

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