Jornal de Angola

Uma cidade que pulsa há 62 anos

- Adão Diogo| Saurimo

A cidade de Saurimo completou a 28 de Maio 62 anos de existência à luz do Diploma 2.757. Fundada pelo português Henrique Dias de Carvalho, conheceu nos anos subsequent­es um desenvolvi­mento tímido. A descoberta do diamante, explorado a posterior, no sistema artesanal acentuou o interesse dos colonizado­res, impulsiono­u o comércio e iniciativa­s da sua urbanizaçã­o. A instalação da paz em 2002 lançou as premissas para o início da reconstruç­ão.

O frenesim criado por um trânsito poluído pelo barulho de motorizada­s em serviço de táxi, ao amanhecer, desperta a atenção do visitante nas ruas da então vila Henrique de Carvalho, nascida de uma povoação rural que ascendeu à categoria de cidade há 62 anos, depois de as autoridade­s coloniais constatare­m a existência de condições para o seu desenvolvi­mento económico e social.

À porta dos 62 anos, a urbe projectada para 18 mil habitantes alberga actualment­e mais de 400 mil, atraídos por uma série de avanços traduzidos na expansão do ensinoedas­aúde,pormeiodac­onstrução de escolas, hospitais e similares, recolha regular de lixo porta-a-porta e em contentore­s baseados nas ruas, multiplica­ção de espaços verdes e inovações em rotundas e jardins, reabilitaç­ão de ruas, melhoria no abastecime­nto de água, energia eléctrica, reabilitaç­ão e construção de hotéis, de valas de drenagem a céu aberto e relançamen­to da auto-construção dirigida nas periferias.

A higiene ressaltada pelos munícipes colocou a antiga capital do distrito da Lunda no patamar das cidades mais limpas do país. Alterou o visual de envelhecim­ento e abandono depois do saque popular sofrido pós-independên­cia. A paz e as iniciativa­s do governo provincial mudaram a página obscura do isolamento, tonificada por uma cultura urbana titubeante e clima de sufoco provocado pela presença de dezenas de milhares de pessoas fugidas das suas áreas de jurisdição, em busca de segurança. Emblemas O edifício do Aeroporto Deolinda Rodrigues, a Mediateca de Saurimo, o Hotel Galito, ampliado e modernizad­o, o Instituto Médio Politécnic­o, a sinalizaçã­o de ruas, a Piscina Olímpica, os espaços comerciais de referência como o Nosso Super e a Shoprite representa­m o cartão postal da actualidad­e e assinalam “a existência de vida.”

Favorecida pela sua localizaçã­o no centro da região, Saurimo é placa giratória onde a visão e o sentido de oportunida­de pulsam na mente das autoridade­s que investiram na instalação de painéis solares para iluminação pública nas periferias, numa estratégia para desencoraj­ar a delinquênc­ia e aumentar a segurança.

Buscam soluções para melhorar a produção de energia eléctrica a partir de quatro centrais térmicas instaladas nas periferias, enquanto os munícipes aguardam pela construção da segunda barragem sobre o rio Chicapa, por uma empresa alemã, a fim de disporem de mais 31 megawatts. Habitação O primeiro passo dado pelo governo provincial para transforma­r em realidade o “sonho da casa própria” foi a construção de 100 fogos habitacion­ais no bairro Social da Juventude. Ao lado deste, 20 outras moradias geminadas do tipo T3 formam o condomínio dos técnicos, em serviço na província, mas é nas obras de construção de uma nova centralida­de projectada para 212 moradias que os munícipes assentam a esperança de suprir a procura apertada de casas.

O projecto habitacion­al “Mwono Waha”, que cresce com investimen­tos de Catoca, no quadro da sua responsabi­lidade social, elevou a auto estima de dezenas de trabalhado­res e respectiva­s famílias que vivem em casas próprias, pagas por meio do sistema de renda resolúvel.

Jacira Yemba e Manuel Muta nasceram em Saurimo há 20 e 17 anos respectiva­mente. No percurso que realizam de casa para as escolas onde estudam e em saídas para passeio, falam das oportunida­des de ingresso para o ensino superior em vários cursos, como o de Engenharia e Pedagogia, através da Escola Superior Politécnic­a Lweji a Nkonde e do Instituto Superior Politécnic­o Lusíada, virado para a formação em cursos como Direito, Psicologia, Administra­ção e outros.

Jacira, que finalizou o curso médio de Informátic­a, manifesta gosto pelo Direito. Muta aposta em Engenharia. Ambos consideram que a implantaçã­o do ensino superior na terra natal é uma valência sem preço para garantir um futuro promissor. Voz dos munícipes Sem o requinte que no passado galvanizav­a os munícipes na criativida­de, as autoridade­s locais apelam à reflexão para descobrir incentivos que despertem nos investidor­es o interesse para desenvolve­r Saurimo.

O porta-voz das festas, Domingos Mutambi, destacou a efectivaçã­o de palestras sobre a vida e história da cidade e de uma feira agropecuár­ia, actividade­s desportiva­s e culturais, do programa traçado.

Os produtores vincaram a sua participaç­ão expondo para venda, bombó, banana, ba-tata-doce, mandioca, ginguba, beringela, abacaxi, limão, laranja, inhame e outros produtos.

A procura pelo bombó obrigou a feirante Gilda Rodrigues a recorrer do stock armazenado na comuna do Sombo, onde a dificuldad­e de transporte é a causa principal de prejuízos das colheitas. Para ela, a feira é uma janela de oportunida­des que “me permite vender muita comida que não tem mercado”, na sua área de jurisdição.

Acrescento­u que a exposição na feira permitiu também constatar a expansão da “iluminação e do asfalto” nas periferias e defendeu a necessidad­e de todos contribuír­em para a conservaçã­o dos bens e serviços instalados pelo governo.

Repartindo a atenção entre a entrevista e o controlo dos produtos, Delfino Miúdo, 16 anos, aplaudiu o sucesso resultante da recolha de lixo à porta do domicílio no bairro Luavur, onde a iluminação pública reduziu o impacto da delinquênc­ia marcada por violações e assaltos.

A senhora Luzia Caxingue, que veio do Lwo, atraída pela publicidad­e da feira, disse estar satisfeita com as vendas realizadas, sobretudo de banana. “Não tive muito lucro, porque só em transporte paguei Akz 20.000.”

Com centenas de abacaxi de tamanho invejável, arrumados sobre a plataforma de uma carrinha, Jeremias Bengo sublinha os constrangi­mentos vividos pelos camponeses para o transporte do que produzem. A vontade é asfixiada pelo encarecime­nto de hortícolas, citando o exemplo de uma lata de sementes de cebola custar no mercado Akz. 8.000.

A apreciação de líderes religiosos sobre o impacto da governação no município é, segundo o superinten­dente metodista do distrito da Lunda-Sul, João Isaac, “positiva, pela nova imagem e cresciment­o” da cidade de Saurimo.

O presbítero João Muacanhica aponta a necessidad­e de esforço para moldar os espíritos virados à prática do mal, que acentua a infelicida­de no seio das famílias e retarda os esforços que as autoridade­s desenvolve­m para garantir o bem-estar colectivo. Encoraja o governo a prosseguir com as acções programada­s, equidistan­tes da tentação por insinuaçõe­s maliciosas. Impacto de ravinas Os munícipes pagam o preço arruinante cobrado pela natureza, no passado, vítima do abate irracional de árvores para a produção de carvão e lenha nos polígonos florestais que existiam, ocupação desregrada de espaços para a construção de moradias, escavações desmedidas para a confecção de adobes e outros actos que concorrera­m para a extinção do inspirador rio Mwangueji.

Refém de um acto alheio, em vez de água, carrega no seu leito areia, lembrando “uma avenida exclusiva para viaturas adaptadas a este tipo de pavimento.” A falta de verbas adia o seu desassorea­mento, enquanto os nativos buscam do passado lembranças dos banhos refrescant­es, com impacto aos finais de semana e de donas de casa lavando a roupa.

Ao esboçar o cenário de uma povoação pacífica, com casas modestas envoltas por mata, onde o canto dos pássaros funcionava como despertado­r e o quotidiano da mulher marcado pelo cultivo da terra e lides domésticas, antigos habitantes enaltecem os traços nítidos de progresso alcançados em 16 anos, contra décadas de permanênci­a das autoridade­s coloniais portuguesa­s.

A procura pelo bombó obrigou a feirante Gilda Rodrigues a recorrer do stock armazenado na comuna do Sombo, onde a dificuldad­e de transporte é a causa principal de prejuízos das colheitas

 ?? JOÃO SALVO | EDIÇÕES NOVEMBRO | SAURIMO ?? A cidade de Saurimo regista ao longo dos anos uma série de avanços traduzidos na expansão de várias infra-estruturas sociais
JOÃO SALVO | EDIÇÕES NOVEMBRO | SAURIMO A cidade de Saurimo regista ao longo dos anos uma série de avanços traduzidos na expansão de várias infra-estruturas sociais
 ?? JOÃO SALVO | EDIÇÕES NOVEMBRO | SAURIMO ?? A reabilitaç­ão de ruas e construção de escolas bem como o relançamen­to da auto-construção dirigida melhoram a imagem da cidade
JOÃO SALVO | EDIÇÕES NOVEMBRO | SAURIMO A reabilitaç­ão de ruas e construção de escolas bem como o relançamen­to da auto-construção dirigida melhoram a imagem da cidade
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola