Jornal de Angola

Contas eleitorais estão mal feitas

Comissão Nacional Eleitoral propõe o aperfeiçoa­mento do regime de financiame­nto e controlo das campanhas eleitorais e dos instrument­os de informação e gestão

- Adelina Inácio

Os cinco partidos e a coligação concorrent­es às eleições gerais de 2017 não foram capazes de apresentar suporte documental adequado para justificar as despesas efectuadas durante as eleições gerais de 2017. “A prestação de contas foi feita e a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) constatou algumas falhas em todas as candidatur­as”, disse Lucas Quilundo, portavoz da CNE, em declaraçõe­s ao Jornal de Angola.

Os partidos e a coligação concorrent­es às eleições gerais de 2017 não foram capazes de apresentar suporte documental adequado para justificar as despesas efectuadas com a campanha eleitoral e os delegados de listas.

A conclusão foi feita pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), através de um parecer sobre os relatórios de prestação de contas dos partidos e coligações concorrent­es às eleições de 23 de Agosto de 2017.

“A prestação de contas foi feita e a CNE constatou algumas falhas em todas as candidatur­as. Compreende­mos os administra­dores eleitorais das candidatur­as tenham tido algumas dificuldad­es na recolha e no tratamento da informação para que a mesma correspond­esse às contas certas”, disse Lucas Quilundo, porta-voz da CNE.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o porta-voz da CNE adiantou que devido às falhas dos partidos e coligações de partidos as contas das candidatur­as foram aprovadas com reservas e vão agora ser encaminhad­as para o Tribunal de Contas, que verificada a regularida­de ou irregulari­dade.

Concorrera­m nas eleições gerais de 2017, realizadas a 23 de Agosto, o MPLA, UNITA, APN, PRS, FNLA e a coligação CASA-CE.

Lucas Quilundo explicou que a Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais impõe uma série de procedimen­tos que a CNE deve observar no processo de fiscalizaç­ão das contas da campanha eleitoral das candidatur­as e este procedimen­to implica também a recolha de informação por parte das candidatur­as.

Relativame­nte às irregulari­dades, Lucas Quilundo explicou que a CNE extrai certidões que remete ao Tribunal de Contas para apreciar a sua regularida­de ou irregulari­dade e as publica no jornal de maior circulação. “O que a CNE publica no jornal de maior circulação não é o relatório de prestação de contas das candidatur­as, mas a apreciação que a CNE faz destas contas. A CNE verifica as contas dos partidos e emite uma opinião”, esclareceu o porta-voz da CNE.

Fiscalizaç­ão limitada

A Comissão Nacional Eleitoral concluiu, também, que a contabiliz­ação integral das receitas e despesas efectuadas com a campanha eleitoral e com os delegados de lista, nos termos dos princípios contabilís­ticos internacio­nalmente aceites, é afectada por omissões legais e regulament­ares, limitando, deste modo, a acção fiscalizad­ora da CNE.

Para a campanha eleitoral, cada uma das seis formações políticas concorrent­es recebeu mil milhões e 40 milhões de kwanzas. A diferença de valor verificou-se apenas nas verbas atribuídas para o pagamento dos delegados de lista. Com efeito, as três maiores forças políticas, nomeadamen­te MPLA, UNITA e CASA-CE, receberam, cada, 250 milhões de kwanzas, repartidas em duas tranches. O PRS, FNLA e APN receberam, respectiva­mente, 176,3 milhões, 157 milhões e 112,1 milhões de kwanzas, igualmente em duas tranches.

Na primeira tranche, o MPLA recebeu 236 milhões e 980 mil kwanzas, enquanto na última foram 13 milhões e 20 mil kwanzas. A UNITA recebeu 227 milhões e 720 mil kwanzas na primeira tranche e 22 milhões e 280 mil na última. A coligação CASA-CE recebeu 193 milhões e 170 mil kwanzas na primeira tranche e 56 milhões e 830 mil na última. O PRS recebeu, na primeira tranche, 124 milhões e 440 mil kwanzas, a FNLA 111 milhões e 800 mil kwanzas e a APN 80 milhões e 70 mil kwanzas. Na última tranche, os partidos liderados por Benedito Daniel, Lucas Ngonda e Quintino Moreira receberam 51 milhões e 950 mil kwanzas, 45 milhões e 260 mil kwanzas, e 32 milhões e 70 mil kwanzas, respectiva­mente.

A CNE refere, no parecer, que a utilização dos meios fixos das próprias candidatur­as bem como os trabalhos efectuados pelos seus mi-litantes, simpatizan­tes e amigos, não foram contabiliz­ados salvo, as suas contribuiç­ões financeira­s.

Face a isso, propõe o aperfeiçoa­mento do regime de financiame­nto e controlo das campanhas eleitorais e dos instrument­os de informação e gestão, para permitir a fiscalizaç­ão da correspond­ência entre os gastos declarados e as despesas efectivame­nte realizadas.

Reacção dos partidos

A administra­dora Eleitoral da UNITA, Albertina Navita Ngolo, explicou que as falhas que a CNE identifico­u foram notificada­s aos partidos políticos ainda o ano passado. “A CNE tinha algumas dúvidas sobre algumas rubricas e pediram algumas facturas, mas que estavam inscritas em nomes de pessoas e que deviam estar em nome do partido, mas esses esclarecim­entos foram feitos”, disse. Albertina Navita Ngolo declarou que a UNITA criou uma estrutura eleitoral e unidades orçamentai­s e nesta última “houve representa­ntes que foram fazendo algumas aquisições que meteram em nome da pessoa responsáve­l pela aquisição, ao invés de meter em nome da UNITA meteu em seu nome”, explicou a também deputada, acrescenta­ndo que nestes casos a CNE pretendia a apresentaç­ão de recibos.

“O recebido vai entrar agora, com o processo do IVA, justifica-se porque a cultura contabilís­tica muda. Mas num momento em que não há esta parte do IVA e do imposto de consumo sobre o valor acrescenta­do é impensável que um organismo como a CNE peça recebidos. Nem mesmo o processo de facturação no país é clarificad­o. No processo de campanha eleitoral a aquisição da maior parte do material é feita no mercado informal”, disse a administra­dora eleitoral da UNITA.

Camilo António, administra­dor eleitoral do partido Aliança Patriótica Nacional (APN), disse que o partido foi a segunda força política a apresentar o relatório de contas à CNE, mas que depois de 30 dias foi notificado pela mesma para a correcção de algumas falhas detectadas. “Entregamos algumas facturas, mas a CNE disse que tinha de ser recibos e fizemos chegar à CNE. Nesta altura já não temos nenhuma questão a corrigir porque já corrigimos o que a CNE mandou corrigir”, explicou.

A contabiliz­ação integral das receitas e despesas efectuadas com a campanha e com os delegados de lista foi afectada por omissões legais e regulament­ares, limitando a acção fiscalizad­ora da CNE

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Jornal de Angola Lucas Quilundo, porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral, falou ao

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