Jornal de Angola

Diplomacia para a economia

- Víctor Silva

Cerca de oito meses após a sua investidur­a, o Presidente da República decidiu efectuar a sua primeira visita oficial à Europa Ocidental. França e Bélgica foram os países escolhidos.

As visitas de Estado são negociadas com a antecedênc­ia requerida e, por isso, pode dizer-se que as datas destas deslocaçõe­s foram devidament­e estudadas, o que significa dizer que houve o cuidado de, primeiro, procurar arrumar a casa para depois abrir as suas portas para os visitantes. É evidente que, internamen­te, ainda há uma imensidão de problemas para resolver, qual deles o mais prioritári­o, mas fica claro que o novo poder vai-se afirmando com o avanço do ainda muito pouco tempo e com a vontade política de operar transforma­ções que possam levar à solução de algumas necessidad­es mais gritantes.

E um dos focos dessas mudanças tem sido o fim da impunidade e o combate à corrupção. É uma premissa essencial para o reequilíbr­io social, como ponto de partida para uma sociedade mais justa e mais de acordo com as legítimas aspirações dos cidadãos de um país que tem tudo para ser melhor e que quer dar a volta aos erros do passado que marcaram negativame­nte a sua história recente.

As expectativ­as são elevadas não apenas quanto à inversão do quadro do país, mas também quanto a essa cruzada contra a corrupção, por reconhecer-se ser ela uma das responsáve­is para que a vida da maioria dos angolanos seja hoje ainda dura, de grandes sacrifício­s e muitas privações.

Há todo um conjunto de medidas para que esse combate ocorra sem que se confunda com uma qualquer perseguiçã­o ou vingança. A lei do repatriame­nto de capitais é um desses eixos e vai, sim, no sentido de atacar a corrupção e não, como alguns apregoam, na direcção da sua institucio­nalização.

Há a tendência, mórbida, de ver alguns ‘figurões’ atrás das grades, só assim se confirmand­o essa vontade política de alterações.O facto de se estarem a operar mudanças, que têm feito com que hoje haja “arguidos improvávei­s”, já não conta. É preciso “sangue”! No espírito democrátic­o que alguns dizem possuir e defender, a justiça só é justa quando responde aos seus desejos de vingança, de ajuste de contas. E se alguém, no seu direito, recorre à justiça para se defender, é “um deus nos acuda”, porque na democracia deles os direitos são propriedad­e privada do activismo.

Felizmente,nãoéesseoe­ntendiment­odamaioria­dosangolan­os e, também, da comunidade internacio­nal, que reconhece a brisa dos novos ventos e encara o país com um olhar diferente.

A visita do Presidente da República à França é a prova mais recente desse renovado interesse por Angola, até mesmo de parceiros tradiciona­is, que ainda assim manifestav­am reservas quanto a novos investimen­tos.

Mais de mil milhões de euros em acordos em áreas tão estratégic­as como a agricultur­a ou os petróleos, mas também a defesa, são sinais que não devem ser ignorados, quando se pretende captar novos e diferentes investimen­tos para a caminhada do desenvolvi­mento. Investimen­tos que se traduzam na aposta no mercado angolano, aportando know how, criando emprego e ajudando na diversific­ação económica.

Investimen­to que não deve ser confundido apenas com financiame­nto, porque a nossa economia precisa muito mais do que dinheiro para se reerguer. O país já teve muitos financiame­ntos, de tal sorte que mais de metade do orçamento é para pagar dívida, mas sente-se que esse tipo de contrato precisa de ser alterado, melhor executado e fiscalizad­o.

A mudança de paradigma, sem receio de recorrer às instituiçõ­es financeira­s internacio­nais como o FMI, passa pela melhoria do ambiente político e, com ele, a elevação do clima de negócios, o que também se consegue não apenas pela criação de incentivos diversos, como pela vontade de combate à corrupção.

O enorme interesse que a mais de centena e meia dos maiores empresário­s franceses manifestou em investir em Angola é sinal de que perceberam que as mudanças são sérias e marcam um novo ciclo de oportunida­des a todos os níveis. Angola está a apostar na diplomacia económica e na diversific­ação das suas parcerias estratégic­as com aqueles países que podem, efectivame­nte, dar maior robustez aos programas de desenvolvi­mento, melhorando e alargando as suas exportaçõe­s e atraindo tradiciona­is e novos investidor­es.

Do trabalho de casa feito nestes quase oito meses de nova governação, ressalta também a lei do investimen­to privado, mais atractiva e sem os condiciona­lismos da acumulação primitiva de capital, em que os estrangeir­os tinham de associarse a nacionais para investirem no país. Há ainda a não menos importante alteração da política migratória, com a facilitaçã­o de vistos de entrada e a adopção de várias categorias de permissão de entrada e estada em Angola, como as que podem ser obtidas na fronteira.

São um conjunto de mudanças, incluindo a área financeira, que propiciara­m que a visita do Presidente da República à França tivesse conhecido o sucesso que até os mais críticos do costume admitem, mas procuram encobrir com as habituais diversões anti-patriótica­s.

Segue-se agora a Bélgica onde se espera venha a registarse proporcion­al interesse das autoridade­s e empresário­s locais no reforço da cooperação, para lá do tradiciona­l sector dos diamantes.

É na capital belga onde se encontra a sede da União Europeia, um antigo aliado comunitári­o de Angola em vários domínios, e espera-se que, à semelhança de França, a visita possa ser aproveitad­a para a abordagem também da situação em África e de alguns conflitos na região dos Grandes Lagos, em particular.

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