Diplomacia para a economia
Cerca de oito meses após a sua investidura, o Presidente da República decidiu efectuar a sua primeira visita oficial à Europa Ocidental. França e Bélgica foram os países escolhidos.
As visitas de Estado são negociadas com a antecedência requerida e, por isso, pode dizer-se que as datas destas deslocações foram devidamente estudadas, o que significa dizer que houve o cuidado de, primeiro, procurar arrumar a casa para depois abrir as suas portas para os visitantes. É evidente que, internamente, ainda há uma imensidão de problemas para resolver, qual deles o mais prioritário, mas fica claro que o novo poder vai-se afirmando com o avanço do ainda muito pouco tempo e com a vontade política de operar transformações que possam levar à solução de algumas necessidades mais gritantes.
E um dos focos dessas mudanças tem sido o fim da impunidade e o combate à corrupção. É uma premissa essencial para o reequilíbrio social, como ponto de partida para uma sociedade mais justa e mais de acordo com as legítimas aspirações dos cidadãos de um país que tem tudo para ser melhor e que quer dar a volta aos erros do passado que marcaram negativamente a sua história recente.
As expectativas são elevadas não apenas quanto à inversão do quadro do país, mas também quanto a essa cruzada contra a corrupção, por reconhecer-se ser ela uma das responsáveis para que a vida da maioria dos angolanos seja hoje ainda dura, de grandes sacrifícios e muitas privações.
Há todo um conjunto de medidas para que esse combate ocorra sem que se confunda com uma qualquer perseguição ou vingança. A lei do repatriamento de capitais é um desses eixos e vai, sim, no sentido de atacar a corrupção e não, como alguns apregoam, na direcção da sua institucionalização.
Há a tendência, mórbida, de ver alguns ‘figurões’ atrás das grades, só assim se confirmando essa vontade política de alterações.O facto de se estarem a operar mudanças, que têm feito com que hoje haja “arguidos improváveis”, já não conta. É preciso “sangue”! No espírito democrático que alguns dizem possuir e defender, a justiça só é justa quando responde aos seus desejos de vingança, de ajuste de contas. E se alguém, no seu direito, recorre à justiça para se defender, é “um deus nos acuda”, porque na democracia deles os direitos são propriedade privada do activismo.
Felizmente,nãoéesseoentendimentodamaioriadosangolanos e, também, da comunidade internacional, que reconhece a brisa dos novos ventos e encara o país com um olhar diferente.
A visita do Presidente da República à França é a prova mais recente desse renovado interesse por Angola, até mesmo de parceiros tradicionais, que ainda assim manifestavam reservas quanto a novos investimentos.
Mais de mil milhões de euros em acordos em áreas tão estratégicas como a agricultura ou os petróleos, mas também a defesa, são sinais que não devem ser ignorados, quando se pretende captar novos e diferentes investimentos para a caminhada do desenvolvimento. Investimentos que se traduzam na aposta no mercado angolano, aportando know how, criando emprego e ajudando na diversificação económica.
Investimento que não deve ser confundido apenas com financiamento, porque a nossa economia precisa muito mais do que dinheiro para se reerguer. O país já teve muitos financiamentos, de tal sorte que mais de metade do orçamento é para pagar dívida, mas sente-se que esse tipo de contrato precisa de ser alterado, melhor executado e fiscalizado.
A mudança de paradigma, sem receio de recorrer às instituições financeiras internacionais como o FMI, passa pela melhoria do ambiente político e, com ele, a elevação do clima de negócios, o que também se consegue não apenas pela criação de incentivos diversos, como pela vontade de combate à corrupção.
O enorme interesse que a mais de centena e meia dos maiores empresários franceses manifestou em investir em Angola é sinal de que perceberam que as mudanças são sérias e marcam um novo ciclo de oportunidades a todos os níveis. Angola está a apostar na diplomacia económica e na diversificação das suas parcerias estratégicas com aqueles países que podem, efectivamente, dar maior robustez aos programas de desenvolvimento, melhorando e alargando as suas exportações e atraindo tradicionais e novos investidores.
Do trabalho de casa feito nestes quase oito meses de nova governação, ressalta também a lei do investimento privado, mais atractiva e sem os condicionalismos da acumulação primitiva de capital, em que os estrangeiros tinham de associarse a nacionais para investirem no país. Há ainda a não menos importante alteração da política migratória, com a facilitação de vistos de entrada e a adopção de várias categorias de permissão de entrada e estada em Angola, como as que podem ser obtidas na fronteira.
São um conjunto de mudanças, incluindo a área financeira, que propiciaram que a visita do Presidente da República à França tivesse conhecido o sucesso que até os mais críticos do costume admitem, mas procuram encobrir com as habituais diversões anti-patrióticas.
Segue-se agora a Bélgica onde se espera venha a registarse proporcional interesse das autoridades e empresários locais no reforço da cooperação, para lá do tradicional sector dos diamantes.
É na capital belga onde se encontra a sede da União Europeia, um antigo aliado comunitário de Angola em vários domínios, e espera-se que, à semelhança de França, a visita possa ser aproveitada para a abordagem também da situação em África e de alguns conflitos na região dos Grandes Lagos, em particular.