“A França fabrica aviões militares (...) o acordo prevê essa possibilidade”
O jornalista e activista Rafael Marques afirma que “é mais do mesmo” e que existem indícios de práticas menos correctas em seu redor, por parte de pessoas ligadas ao governo.
Sim, mas quais indícios?
Tem a ver com a utilização do Fundo Soberano para a aquisição de aviões (para uma empresa privada).
Ao contrário de nós mexermos nos recursos do Fundo Soberano, ao contrário disso, estamos à caça desses recursos, num processo de procurar reaver esses mesmos recursos. Como sabe, foram colocados à disposição do Fundo Soberano cinco mil milhões de dólares - nesta altura deveria existir mais do que isso – porque aquilo é um fundo de investimento e quando se investe, o objectivo é multiplicar os recursos. O que sabemos é que temos menos do que esse valor inicial e, mesmo assim, temos uma ideia de onde é que esses recursos estão, nas Maurícias, em Inglaterra, noutros cantos do planeta e estamos, neste momento, num processo de reavê-los esses mesmos recursos. O normal seria, no acto de transferência de pastas, de um conselho de administração para outro, o anterior abrir o jogo de forma transparente e dizer onde esses recursos estão. Isso não aconteceu e se aconteceu não foi convincente. Isto para dizer que não tirámos recursos do Fundo para absolutamente nada. E essa companhia ou consórcio, entre a companhia de bandeira TAAG e algumas empresas privadas, não vai sair, não vai acontecer. Eu desafio os passageiros angolanos, que me digam: 'olhe, o senhor disse à Euronews que não existia consórcio nenhum mas eu hoje viajei num dos aviões de que o senhor fulano tal falou.' Portanto esse é o desafio que eu faço, não ao autor da acusação, mas a todos os angolanos, potenciais passageiros, dessa companhia fictícia.
Em França, assinou acordos no âmbito da Defesa. Podemos saber alguns detalhes sobre esses acordos?
Bom, os acordos, regra geral, são acordos-tipo, que dão várias possibilidades. Depois disso, é preciso ver projectos em concreto, um a um, que devem estar previstos nos acordos. Portanto, não existem ainda projectos em concreto, mas existe a possibilidade de prepararmos a formação dos nossos oficiais, em qualquer um dos ramos, Exército, Força Aérea e a Marinha. Existe a possibilidade de prepararmos em termos de vigilância marítima, sobretudo no Golfo da Guiné. Angola é um país que está localizado no Golfo da Guiné. Como sabe, o Golfo da Guiné é uma importante rota internacional marítima e é do interesse de todos os países assegurar o Golfo da Guiné e evitar que algum dia possa acontecer o que se passa nas costas da Somália. Não está vedada a possibilidade também do fornecimento de equipamento militar. A França é produtora de armamento, de aviões militares e navios de guerra e outros. Se houver esse interesse, o acordo prevê essa possibilidade.
Foi debatido o cenário da República Democrática do Congo (RDC). Esses acordos de defesa estarão, de certa forma, relacionados, também? Uma vez que existe uma grande fronteira entre os dois países?
Sim, abordámos a situação na RDC. Sabe que a RDC tem mais de 2500 quilómetros com Angola. Só por esta razão é do interesse de Angola que haja estabilidade no país vizinho e Angola vai – e já tem feito ao longo desses anos, obviamente, não começámos agora – e continuaremos a fazer tudo no sentido de ajudar as autoridades congolesas, o povo congolês, a viver em harmonia, aliás, um ambiente único que pode proporcionar o desenvolvimento daquele país que não está, por razões de diversa ordem, digamos, a capitalizar ao máximo as potencialidades que tem. Houve um acordo entre o Governo da República Democrática do Congo e a oposição. Esse acordo foi mediado e abençoado pela Igreja Católica e foi assinado livremente. Há uma data que parece consensual para a realização das eleições na RDC, que é o dia 23 de Dezembro do corrente ano e a não apresentação como candidato do actual Presidente da República.
“O normal seria, no acto de transferência de pastas, o anterior conselho de administração abrir o jogo de forma transparente e dizer onde esses recursos estão”